Fila na entrada da sala de espera do portão de embarque. O austríaco que me atende olha o meu passaporte e tenta ser simpático, provavelmente motivado por lembranças de algumas férias passadas - Brasil? - E sorri alegre. Retribuí. Ele não precisa saber que espécie de sentimento se passa pela cabeça quando se sente na fila o cheiro do Oud, o tradicional perfume árabe. Cheiro de frio na espinha, cheiro de Dubai.
- Ter aina visado? Visado de resident?
- What?
Ele tentava ser gentil e falava fragmentos de um quase-latim vulgar que é igualmente compreensível por todos os portadores das flores do Láscio, talvez para reviver algum resquício de lembrança que veio à tona em sua memória e que provavelmente corresponde a uma realidade que existe apenas em sua cabeça e que não vai mais voltar. Só entendi depois que quando não respondi no mesmo idioma, desfiz-lhe o sonho e o puxei de volta à realidade que de fato compartilhamos por alguns segundos, e ele voltou a ser o austríaco metódico e formal que infelizmente se espera de um verificador de passaportes em uma entrada de sala de espera de um portão de embarque.
Revisou meu visto, olhou novamente para mim, analisou as linhas de meu rosto através da barba, hesitou, mas devolveu o passaporte com a passagem. Novo surto de gentileza e controlado calor humano de quem quer abraçar mas se limita em dizer:
- Obrrrigado! Desiro que faz buom viaggio!
- Muito obrigado!
26.10.06
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