26.8.07

Prosopopéia (i)midiática

A polícia não desmantela um cativeiro: ela o "explode".

Não é o índice da bolsa que sofre uma redução: é a própria bolsa, em carne e osso, que "desaba".

O dólar não fica mais caro: é ele próprio, assustado com a "crise" (crise?), que "dispara".

O fantástico, o incrível, prosopopéias e adjetivos sensacionalistas talvez sempre tenham permeado os noticiários, fórmula extensivamente empregada nos tablóides populares. O que é novo (ou nem tão novo assim) é a mesma fórmula ser aplicada nos grandes jornais, supostamente para um público mais seleto. Basta uma volta pelas páginas dos grandes jornais no Brasil e exterior para enumerar os diversos godzilas do momento: a bolsa, o furacão, o dólar, o mercado, o terror, a violência, o aquecimento global, o mensalão, o impeachment, PCC, CV, Ciccarelli fazendo sexo na praia...

Uma possível explicação para o fato desta espiral do medo estar tão em voga seria uma constatação mercadológica básica: as pessoas buscam o extraordinário, o medo, o pavor, talvez como uma fuga da monotonia do cotidiano. Deixemos às explicações para a origem desta necessidade de cada indivíduo para os psicólogos. O fato é que onde há demanda, há uma possibilidade de ganho, principalmente para o primeiro a chegar.

Oras, oras, oras. Por que tudo tem que necessariamente ter explicação? Tem muita gente na própria mídia com explicações até mais sofisticadas para a disseminação deste vírus do imediatismo na mídia das quais particularmente uma me atrai: o fenômeno da conversão das empresas de comunicação em sociedades anônimas. Em outras palavras, a transformação das antes empresas familiares em empresas de capital aberto, agora com a necessidade de apresentar resultados (lucros) aos seus acionistas. Esqueça essa história de análises aprofundadas, o importante agora é emocionar o público.

Lucro. Você precisa apresentar re-sul-ta-dos. Qual é a sua opinião sobre um determinado tema? Façamos uma pesquisa de mer-ca-do: o que as pessoas querem ouvir? Um outro empresário chega: ele quer 'plantar' uma notícia boa sobre sua empresa. Quanto ele está disposto a pagar? Hmmm... o jornal publicou uma foto de um filho de um ex-presidente com uma jornalista, e agora subtamente os empresários não querem mais anunciar... o que fazer? Está chegando o final do trimestre, precisa-se atingir as metas. O que fazer? Oh, o que fazer??

... (suspense, tambores ao fundo...) ...

BREAKING NEWS! A bolsa DESABOU UUUUUM PORCENTOOOO! O MERCADO ESTÁ DE MAU-HUMOOOOR! (trompetes apocalípticos cuspindo fogo).

No dia seguinte, a primeira página sai impressa com uma tarja preta, com fotos preto-e-branco de criancinhas comendo lixo do Mc Donalds na Praça da Sé. Ao lado, outra foto de um jovem de gravata chorando (se um homem de gravata está chorando é porque o problema é realmente sério). A legenda explica tudo: "É a maior queda de 1% em 10 anos". E o editorial ridiculariza o ministro da fazenda por dizer que não há motivos para pânico, contrapondo a opinião de 3 especialistas e cobra providências urgentes. Planeta Terra sitiado.

Enfim, esta hipótese, apesar de um tanto simplista, parece-me razoável.

24.8.07

Antes que eu me esqueça...

... todas as fotos das divas foram coletadas aleatoriamente pela internet.

Cadê o cocô?

- Sheik Luís, Sheik Luís, mas você falou que ia falar de cocô.

Tá bom, tá bom. Mas eu também pedi calma. Eu também disse que a relação com as divas seria surpreendente. Antes de chegar lá, vamos falar de Fairuz, afinal, foi até uma ofensa aos fãs citar Nancy, com suas batidas pops e rápidas, sem falar de Fairuz:



Como vocês podem ver, essa foto eu peguei em seu site oficial.

Eu ia até separar em outro post. Ficou meio ofensiva esta história de falar de uma pessoa com a trajetória da Fairuz em um post cujo título é "Cadê o cocô?". Inapropriado deveras, mas agora já é tarde. Sigamos em frente.

Você deve estar dizendo: "Tá. Mais uma criancinha pobre e simples com ranho no nariz que obteve sucesso na vida". Mas talvez seja isso mesmo: a libanesa Fairuz é uma lenda viva: elegante, culta e charmosa, até hoje está cantando por aí e é considerada embaixatriz do mundo árabe. Seria ela o verdadeiro Roberto Carlos de saia? Talvez esteja mais para um Chico Buarque. Fairuz cantou de tudo: cantou música árabe tradicional, bossa-nova em árabe. Hoje tem até CD lounge da Fairuz.

Outra curiosidade: a árabe Fairuz é cristã. O que? Mas árabe num é tudo muçulmano? Como é que pode? Calma, leitor ignorante. Pode sim. Nem todo árabe é muçulmano: no Líbano e Síria (eixo do mal, Buuuuu!!!), há muito cristão e no Iraque e Irã há minorias (havia ao menos) zoroastristas.

- Mas Sheikh, como você sabe tudo isso?

Amiguinho, os sheikhs são oniscientes. Conheço até árabe ateu e baiano "japonês".

- Sheikh, Sheikh, por falor, fala logo do cocô que eu quero dormir!

Tá bom, tá bom. Afinal, tudo começou assim, né? Falar das divas por causa de um tal cocô e até agora nada. Isso aqui está mais para prisão-de-ventre (o que é até apropriada, após a avalanche pós-6-dulcolax). Então vamos lá:

...
...
...
...
...

Senhores e senhores, com vocês, um dos maiores sucessos de Fairuz: Al Bosta, direto para você no YouTube.

Pronto, falei. E chega por hoje, porque hoje aqui já é ontem.

23.8.07

E não acaba por aí: Nancy


Calma, não vá dormir. Já são quinze para meia-noite e eu ainda quero falar sobre mais divas. Vamos então à menina mais famosa do momento: a libanesa Nancy Ajram.

Nancy é praticamente uma sheikha: ela é onipresente. Você liga o rádio, e lá está ela, cantando. No caminho para o trabalho, você vê o rosto dela estampado em propagandas diversas pelo caminho. Você liga a TV e lá está ela dançando: é propaganda da Coca-Cola. Marketing é isso: associe a todo custo a sua marca a uma imagem de sucesso. Foi (é) assim com Pelé (vitassay stress, lembra?), com Ronaldo, com Ronaldinho Gaúcho.

No passado, as meninas queriam ser Brigitte Bardot, e todos os garotos queriam ser namorados da Brigitte Bardot, como bem notou o Tom Zé. Hoje, Nancy é a Xuxa do Oriente Médio: as meninas querem ser Nancy e os garotos ouvem suas músicas "porque ela é bonita".

Surfando nesta onda de internet achei um site que tenta (ou parece) ser uma tentativa real da cantora montar um blog. Verdade? Mentira? Isso realmente importa? Bom, tire você suas conclusões. O site está aqui. Fica aqui também um link para um fã-clube dela.

Eu disse Um Cutum!


Prometo que agora falo da Um Kutum. Nem vou comentar o fato de que aqui esteja sendo o lugar onde tenho provado as bebidas alcoólicas mais inusitadas, como a cidra sul-africana "Savanna" que o Pete (sim, o sul-africano) me ofereceu antes de sair enquanto eu lia o tal livro na sala. Esse povo quer me ver bêbado, mas eu insisto que vou falar da tal de Um Cutum. Senão as pessoas, lendo este texto, vão pensar que para vir a Dubai beber seja um requisito, ou pior: associar isso como um bom hábito. Bá. Mas um vinhozinho francês, hein? Um luxo.

Parei, parei, parei. Prometo. De agora em diante, só Um Cutum. Vamos lá:

Um Cutuuuum (som do Oud, a guitarra árabe da qual se originou a guitarra portuguesa, ao fundo estridente)

Um Kulthum foi uma egípcia com a voz mais poderosa do mundo árabe. Filha de um imam de uma mesquita, nasceu e um vilarejo no delta do Nilo provavelmente em 1904 e aprendeu a cantar justamente com seu pai.

Começou a cantar em público em sua aldeia e nunca mais parou: viajou à pé por todas as aldeias do delta do Nilo com seu pai para cantar até que conseguiram convencer sua família de que ela deveria mudar-se para o Cairo.

Om Kolthoum fez um estrondoso sucesso, talvez por ser a primeira pop-star árabe, tal qual Roberto Carlos, tal qual Beatles, tal qual Pelé (mas antes de todos eles). Consagrou-se pelo poderio de sua voz, por sua capacidade de dar aos versos árabes a entonação que merecem. Em seus concertos, muitas vezes uma música durava mais de uma hora, e quando acabava a platéia pedia mais. Sinal de uma época em que as pessoas tinham uma outra relação com o tempo...

Vou parar de exagerar. Não é necessário tudo isso para mostrar que Om Kolthoum é a mãe inspiradora de todas as outras divas. Bastaria dizer que um amigo aqui ganhou de um egípcio uma fita cassete da Om Kolthoum (imagine você que coisa de pobre: ganhar uma fita cassete de presente. Aliás, árabes gostam dessa excrescência do século passado. Imagine uma mercedes ou um iate passando e o árabe lá dentro vibrando com uma fita cassete rodando no toca-fita. Mas a fita é da Om Kolthoum. Então tudo bem). Bastaria dizer que ela virou estampa de um selo postal. E convenhamos: quando alguém estampa um selo, é porque tem alguma importantância.

Quer saber mais? Então entra aqui, neste site sobre ela.

Om o que?


Mais um pouquinho e eu não viria aqui falar sobre a Om Kutum: o Lorrent aqui do quarto ao lado me pergunta: "O que você vai jantar?". Não sei, disse eu. E lá vamos nós para uma pasta italiana com molho "Sacla" (o melhor, segundo ele), muito bem acompanhada de um vinho "Château le Cedre d'Arthus", Bordeaux Supérieur 2003. Nada mal.

Quase desisti de escrever. Agora foi a vez do argentino Hernan mandar uma mensagem: "Vamos salir!". Estava na casa do Diego (outro argentino), tomando uma cerveza e comendo una pizza (acabo de ler no livro "Horizonte do Desejo" de Wanderley Guilherme dos Santos uma citação de Jorge Luis Borges de que "o argentino é um inglês que fala castelhano e pensa que é italiano", para se pensar). Mas ainda tenho uma tênue esperança de que amanhã às 5:30h meu prazer de dormir seja inferior ao meu desejo de andar de caiaque e vá com o Pete, o sul-africano do outro quarto ao lado, para uma volta de 12 km de caiaque. Se eu fizer metade, estarei mais do que contente.

Divas árabes: segunda tentativa

Agora sim, vamos falar sobre as divas, mas sem esquecer, é claro, do tal excremento. Já falamos nele. Por ora, vamos falar delas, que trazem um universo árabe talvez desconhecido do dito Ocidente.

As divas árabes são mulheres que se fizeram respeitadas com o poder de sua voz. Cultivaram e cultivam e continuam e continuarão a cultivar fãs, ainda que a relação destes com o tempo as forcem a cantar canções mais rápidas e curtas.

A primeira diva a saber é, obviamente, a egípcia Um Kutum, ou Om Koutom(você que lê este blog há um ano já sabe que o correto mesmo, só em árabe).

Divas do mundo árabe

Mas já que o assunto é cocô, vamos falar um pouco das divas árabes. Atenção: não quero que com isso, você, leitor, pense que o fruto do trabalho destas admiráveis cantoras seja ruim. Muito pelo contrário, aqueles que se deixarem como uma esponja sobre a água, serão imersos em um rico e emocionante universo sentimental. Mas e o cocô a ver com isso? Não tenha pressa: chegaremos lá. Permita-me pedir-lhe a calma e a despretensão com que você senta sobre o trono em uma tarde de sábado após o almoço, com uma revista, um cigarro, ou um tocador de mp3 na mão. Chegaremos lá.

Mas antes de falar das divas, sinto uma necessidade de explicar essa persistência fecal em meus dedos: a diarréia acabou, mas a imagem de um cocô em minhas mãos pintando as paredes da escadaria da Shatha Tower me possuem, e preciso encontrar outros meios de expurgar esses pensamentos diabólicos de minha mente. Não que a "Shatha Tower" não mereça: qualquer hora ainda coloco aqui algumas fotos. Já viu escada de incêndio fechada com cadeado? Pois é, eu já. Mas ialla, ialla, chebab. Vamos às divas antes que a sua paciência de ler (e a minha de escrever) se acabem por aqui.

18.8.07

Aniversário

19 de agosto. Há exato um ano atrás, eu entrava no avião. Como diria um certo fidalgo da corte, "vontade de dizer um palavrão".

Saudades de São Paulo

E essa overdose de Dulcolax me traz à memória lembranças quase vivas de São Paulo. Como o cocô humano da foto, em pleno Viaduto do Chá:



Ainda há muito o que dizer sobre São Paulo. Mas vamos aos poucos, de vagarinho, sem fazer força. Especialmente hoje.

17.8.07

6 dulcolax

A enfermeira filipina diz:

- Hi sir, para fazer o IVP, você na sexta toma 2 pílulas ao meio-dia, outras duas às três, e as duas últimas às 19h. E sábado esteja aqui às 9h.

Viro o tablete está escrito: "Dulcolax".

- Ei, peraí, isso é laxante?

Agora ela e a colega riem com a mão tapando a boca:

- Sorry sir, mas pra este exame, tem que tomar.

- Oi, mas o que é IVP?

- Sir, IVP é... - não importa, já esqueci. Antes IVP do que exame de próstata. O que importa é que hoje tinha a expectativa de ter um dia de rei. Mas não tive. A levar em conta as pontadas aqui, será uma noite de rei, ali, sentadinho no trono.

Enfim, há certas coisas que são hereditárias. Não é mãe? Não é pai? Melhora procê aí, vai dar tudo certo. Talvez não: talvez seja conseqüência de minha teimosia, dos tempos de estudos de matemática no deserto, quando eu limpava o ânus com areia. Mas taí, por conta destes estudos, passei em primeiro (da lista de espera) na U-N-I-C-A-M-P, e hoje moro em D-U-B-A-I, o que por si só me faz MUITO mais feliz do que QUALQUER outra pessoa sem pedras no rim, não é mesmo? Felicidade instantânea correndo nas veias de gente bonita. Paraíso na Terra contradizendo a Bíblia e o Corão. Sábio Maquiavel: graças a você e aos estudos no deserto, eu me dei bem. Manuel Bandeira, se tivesse visitado este lugar, o poema seria outro:


Vou me embora pra Dubai
Lá sou amigo do sheik
Lá tenho as manchinhas que eu quero
Na cama que escolherei.

E ainda ando de caiaque!


E paro por aqui, pois já ia emendando "E mando o tango pra puta-que-pariu!" que, além de um palavrão (que coisa feia!), não tem relação com o poema em questão. E não adianta que eu não vou explicar o que é manchinha. Maldade demais no coração. Uma verdadeira pedra no longo e tortuoso caminho para alguém como eu tornar-se uma pessoa de bem, em paz consigo mesmo e com o universo ao seu redor. Calma lá: pedra no caminho não é clichê, muita sacanagem com o homem. Viva a internet: uma pesquisa e descubro que neste agosto de 2007, estamos há 20 anos sem Drummond, 18 sem Luiz Gonzaga. Pontas distintas de um mesmo tecido. Saudade? Não. É frio na barriga.

... o tempo vai passando, a barriga cantando e eu divagando por que, a dor sendo no rim, eu tenho que tomar laxante. Isso me lembra a recomendação de um amigo há uns 12 anos atrás, quando tive a primeira crise aguda:

Meu tio estava com pedra no rim. Aí ele tomou um chá muito bom: no mesmo dia ele cagou a pedra.


Outro palavra suja: cagou. Tantas verbos bonitinhos - "obrar, defecar, fazer" - e o amigo me diz cagar. Maquiavel de novo, dicas d'o príncipe para uma noite de rei: defecando ou urinando, que saia(m) a(s) pedra(s).

16.8.07

Siglas

D.O.B. - Date Of Birth
K.S.A - Kingdom of Saudi Arabia

15.8.07

E hoje...

15 de agosto de 2007, é quase um dia nacional nos Emirados Árabes: comemora-se hoje o 60o aniversário da Independência da Índia.

Ontem foi o dia dos paquistaneses mostrarem suas bandeiras presas ao corpo. Hoje é dos indianos. É isso aí!

Tapetes



Tapetes voltados para Meca em um canto do andar.

Fim de tarde


Fim-de-tarde na Shatha Tower, o melhor edifício de Dubai.

---
Sunset in Shatha Tower, the best tower of Dubai.

Dubai Fashion Week


"Kurta Pijamas" para uma festa de gala.

E ontem comemorou-se...

... 14/08, o aniversário da declaração de independência do Paquistão. Muita gente com bandeirinhas presas em suas camisas na empresa.

O que interessa

Sonho bom: mulheres. Muuuitas mulheres. Todas nuas. Era São Paulo. Sabia porque tinha muuuita gente - mulheres - na rua. Nuas. De repente...

- piririririririrírírirîriririríririrírirírirîri...

Maldito despertador. Despertador de relógio chinês. Mas fui eu mesmo que o liguei... 7h. Caiaque... dormir... dormir... caiaque... tento voltar ao sonho, mas as mulheres se foram e a rua agora está vazia. Não tem mais graça. Caiaque.

Caiaque sul-africano, colete salva-vidas chinês que diz que atende especificações norte-americanas. Caiaque não: "surf-ski". Remador sulamericano. Mar do "Golfo Árabe". Ou "Golfo Pérsico"? Outras discussões que não cabem aqui. Dou uma voltinha na ilha em frente a marina de Umm Suqeimm 2, volto. Um peixe morto. Uma arraia foge rasteira pela água rasa. Qual será a nacionalidade dos peixes? Cantam eles hinos nacionais? Não dá tempo. O calor anuncia as horas e é hora de trabalhar.

Veículo poluidor japonês "gulf-spec". Obras sem pátria, trabalhadores filipinos, indianos, mais indianos, paquistaneses. Quem nasce no Sri Lanka é o que? Sri-lankiano? Sri-lanquense? Sri-lankense? Sri-lankator! Sri-lantchers. Sri-launderschnaiders. Isso. Buzina. Você está aí dentro desta lata isolado do mundo, mas buzina. O da frente também está isolado do mundo em outra lata, mas você buzina. Contar até dez. Um-dois-três-quatro-cinco-seis-sete-oito-nove-dez. Mas a justiça divina qualquer dia te pega: um tijolo que cai sem querer dos céus sobre o carro. E alguém do lado que diz: "Lei do oeste". Heresia. Mas sendo ateu, tudo bem, tanto faz tanto fez. Pensamentos que trazem um conforto gratuito, contentamento por algo que não aconteceu e não vai acontecer. Elevador.

Elevadorzinho vagabundo. Chinês? Vagabundo. Americano? Vagabundo. Ô do bigode, lá atrás. Lá atrás, sim, eu cheguei pri... (elevador abre a porta) ...sai, ô! Não encosta. Eu disse NÃO ENCOSTA.

Café-da-manhã. "Hi, I wanna coffee-latte and a chocolate croissant". "Ok, sir. Coffe-latte and a chocolate muffin. Thank you, sirrrr".

Almoço. Melhor nem dizer. Elevadorzinho... escada fedida. Já viu banheiro de fumante? Igual. Qualquer dia espalho cocô pelo corredor. Vão reclamar? Justifico: "cigarro fede e faz muito mais mal". Aliás, já viu alguém morrer por respirar cheiro de bosta? De cigarro, eu já vi. Não vi, mas já ouvi falar.

3h da tarde. Hmmm... fome... dentro da sacola tem: uma "banana chiquita", das Filipinas. Uma laranja-que-se-descasca-com-a-mão da Austrália, maçãs chilenas e um iogurte dos... dos... dos... (tambores, suspense, clímax, agora!) EMIRADOS ÁRABES UNIDOOOOOS!!!!

EEEEEEEEEEEEEEEEBAAAAAAAAA!!!!! (rojões, tiozinho soltando balões). Aquele que vale um bifinho.

E pensar que sai tudinho junto, tudo bem misturadinho, pronto para pintar a porcelana ou - eu disse que ainda faço isso - a parede da escada.

Janta. "ile o que?". "É espinafre local". Ele disse a palavra mágica: LOCAL.

EEEEEEEEEEEEEEEEBAAAAAAAAA!!!!! (rojões, tiozinho soltando balões, Popeye ficando forte).

20:30h. Opa. Lata poluidora again. Salsa = mulheres. Todos os homens de Dubai tiveram a mesma idéia. É simples: o prazer masculino só é completo quando a experiência é compartilhada com outro homem. Assim, se em uma semana um evento está cheio de mulher, é só aguardar 15 dias para ir de novo, pois na semana seguinte, todos os homens de Dubai estarão lá para presenciar "as mulheres mais gostosas que já vi na vida. E olhando!!!".

Quanto homem. "Procurem seus parceiros". Quase uma pancadaria. Não sobrou uminha mulher só pra contar história. Nem uma tortinha, dura, daquelas que dançam pulando. Mas homem sobrou um monte, que foram cabisbaixos ao balcão comprar cerveja. Aula começa. Aula de salsa ministrada por um cubano com uma garota russa regada a cerveja italiana. Luxo... não tem mulher, mas estamos em D-U-B-A-I.

22h. Dossier France, na Dubai Eye. One-o-three-point-eight. Um programa só em francês que inspira uma tradução de um texto preconceituoso.

0:40h. Releio tudo o que escrevi e acho uma bosta. Vou imprimir e esfregar na escada do prédio. Mas nas Olimpíadas, "o importante é competir". O importante é escrever, para ao menos, não perder o hábito. E depois, quem sabe, publicar um livro, e vender como Paulo Coelho. Quanta pretensão. Um botão e o post se perde para todo o sempre. Paródia da vida, em que trabalhamos, trabalhamos, e por fim, tudo acaba, tudo apodrece, desaparece. Até nós mesmos. Ponto-final.

14.8.07

Não percamos o foco

Eu dizia no post anterior que a descrição sobre o imam talvez fosse apenas uma suposição baseada em experiências anteriores. De fato o é. Menti. Defeito? Não, característica inata. Humana. Coisa bonita.

Está vendo só? Já estou tentando justificar minhas mentiras (o que também é humano). Mas vamos seguir adiante. Ah, tem mais uma mentira: eu acordei às 7h e não às 6:30h. É que, convenhamos, acordar às 6:30h atrai mais simpatias, mais admiradores do bom e são trabalhador, deus ajuda a quem cedo madruga, o trabalho dignifica homem e - agora mais um defeito - sou também narciso e quero ser admirado. Os fins justificam os meios, e uma mentirinha boba não faz mal. Defeito ou não, falem bem ou falem mal, mas falem de mim.

O parágrafo anterior já não se pode dizer que foi um defeito, mas foi mal escrito. Que falta de criatividade desse escritor - hahahaha, e ainda se auto-entitula "escritor"! Tal qual aquelas pessoas que passam um dia de ócio (coisa boa...) lendo livros e quando perguntadas sobre seus ofícios, dizem: "sou intelectual!"... "eu penso!"... o Bush faz a guerra, Bin Laden explode as Torres Gêmeas... e ele diz "eu penso!" com a mesma arrogância dos dois anteriores, como se assim estivesse mudando o planeta.

Outro defeito: perco o foco mais uma vez. Eu dizia no parágrafo anterior que o outro parágrafo havia sido mal escrito. Sim! Onde é que já se viu utilizar-se de clichês, frases prontas e lugares-comuns para obter assim a simpatia do leitor? E ainda assim se chama de escritor? O termo que melhor que lhe (me) caberia neste caso seria o de copiador, agregador, implementador de idéias, mas não se pode negar que "escritor" é também um termo justo: escritor é aquele que escreve coisas, sendo boas ou não. Até Paulo Coelho é escritor, e convenhamos, é muito mais escritor que muito leitor arrogante que se recusa a ler seus livros e que jamais escreveu sequer uma carta!

Intelectual já é mais difícil: intelectual não é a mesma coisa que pensador. Pensador pensa, tal qual o escritor escreve. Já um intelectual seria aquele que pensa com qualidade, que pensa coisas de valor, ordenadamente, racionalmente, metodicamente. E como mensurar a qualidade dos pensamentos de um suposto intelectual? Quem é o juiz capaz de navegar por esses mares inavegáveis, essa tempestade elétrica e silenciosa dos pensamentos de outrém para poder então defini-los como de qualidade ou não?

Cansei (mais um clichê: "cansar-se" também está na moda). Vamos ao que interessa: eu iniciei o post anterior apenas com a intenção de descrever como foi o dia de hoje, em poucas palavras, e deu no que deu. Então vamos a um outro post, para saciar assim meu desejo onano-narcisista de me expor a vocês vorazes e anônimos leitores, e assim, saciar também os seus desejos de saber o que o outro (no caso eu) estou pensando neste momento. Eu invado a vossa privacidade, sua íntima relação com seu computador pessoal, e vocês invadem a minha, ou melhor dizendo, a realidade que me interessa apresentar. Prezados! Lavem às mãos! Garfos à postos! A comida está na mesa.

O imam que tosse

Acordo às 6:30h. Pouco antes, uma hora e meia antes, por duas vezes, o Imam gritou - sim, ele gritou, tentando cantar, mas não conseguiu: gritou - na mesquita ao lado. Mas esse descrição é apenas uma suposição, maldosa talvez, baseada em experiências anteriores. Talvez hoje tenha sido um dia especial, o dia em que conseguiu cantar sem tossir. Talvez não. Sim, ele tosse! Eu não o conheço, mas o escuto diariamente, de manhã, de noite, e alguns dias, nos finais-de-semana, por cinco vezes. E no fundo, a tosse e o tom desafinado são coisas que me trazem uma inesperada simpatia por este sujeito que me acorda de manhã: sem floreios, ele é essencialmente humano. Simpatia porque vejo nele também boa parte de minhas características inatas - que muitos chamam de defeitos, às vezes até mesmo eu - e meu próprio (e inútil) esforço de tentar superá-las ou escondê-las.

+++
Je me reveille à 6:30am. Peu avant, une heure et demi avant, par deux fois, le Imam a crié - oui, il a crié, en essayant chanter, mais il n'a pas réussi: il a crié - à la mosque à côté. Mais cette description est seulement une supposition, méchante, peut-être, basé sur des expériences passées. Peut-être pas. Oui, il tousse! Je ne le conai pas, mais je l'entends tous les jours, au matin, au soir, et quelques jours, pendant le weekend, par cinq fois. E au fond, la tousse et le ton désafiné sont des choses que me ramène une inattendue sympatie par cet sujet que me reveille aux matins: il est essencielement humain. Sympatie parce que je vois dans lui aussi une grande partie de mes caracteristiques innées que beaucoup de monde appelle de défauts, à la fois moi-même - e mes éforts (parfois inutile) d'éssayer les surmonter ou cacher.

10.8.07

Getting back

After a while on holidays of myself, let's restart again. So far, I fancy translating this music from the 3rd or 4th post below:

Sabiá there in the cage
Hervé Cordovil e Mário Vieira

Sabiá there in the cage
made a little hole
flew, flew, flew, flew
And the girl who liked
so much the little pet
cried, cried, cried, cried

Sabiá fled to the yard
went to sing there in the avocado tree
And the girl keeps calling
Come here, sabiá, come here

Sabiá there in the cage...

The girl says hiccuping
Sabiá I'm waiting for you
Sabiá replies from there
Don't cry that I'll get back