30.10.08

Mashad hotel

Passava das 17:30h ao entrar na estação de Rueil-Malmaison. Estação sobre o nível da rua, caminho aberto ao vento úmido. Envelope lacrado em maos; fazia frio. Não: frio estava em Tehran naquela manhã de dezembro de 2007.

Frio: na fonte da praça Iman Khomeini, a água formava estalactites sobre os cabos de aço que sustentavam bandeirinhas decorativas de alguma data especial. No Irã, trabalha-se 6 dias por semana, mas há muitos feriados para compensar. É o que dizem (digo isso apenas para justificar as bandeirinhas congeladas, mas temo que isso não explique nada. Mania de querer explicar tudo).



Não é a melhor área de Tehran: a parte rica fica ao norte, na encosta da montanha, em direção à Darvand, onde neva. Bairros onde vivem a classe média e alta iraniana, comerciantes armênios, algo muito semelhante à Oscar Freire (oh, São Paulo: saudosismo irracional; por vezes me pego a chamar-te de minha. Oh, identidade, essa ilusão: nunca foste, nunca serás). Ali, seguindo da praça pela rua Amir Kabir, é a região das "auto-pecas": pneus, correntes de pneus para neve e tapetes de carro se acotovelam na calçada sobre os pedestres. Entre estas lojas, um ponto de encontro de estrangeiros que seguem o roteiro "low-budget" do guia Lonely Planet: o Mashad Hotel.

No início da noite, na recepção, um pequeno corredor com um banco longo de cada lado, os turistas se espremiam e fumavam para se aquecer, enquanto o gerente do Hotel blasfemava: o site do hotel, principal meio de contato com estrangeiros, havia sido bloqueado por conta do embargo norte-americano.

- E o que é que eu tenho a ver com isso? Eu tenho cara de terrorista? Deixem-me trabalhar! - justo ou não, nao julgo (o que por si só, já é um julgamento).

Ambiente "internacional": dentre os turistas, um holandês que viera de bicicleta. Um ciclista belga que se acidentou na Turquia e seguira de trem, mas que agora se encontrava sem dinheiro, apenas com cartões de crédito (que não são aceitos no Irã). Um garoto neo-zelandês que terminara seus estudos e tirara um ano para realizar sua Grande Viagem antes de iniciar seus estudos superiores. E uma oriental. Chamemo-la de Yoko. Dentro do hotel, terra franca; não usava véu. E fumava entre os homens.

- Sao 4.500 tomans por dia - informa o gerente, acendendo a luz do quarto. O equivalente a 4,5 dólares. Sao 5 camas: duas de cada lado perpendiculares à rua, e uma à parede oposta à janela. Do lado de lá, o coreano que dorme cobre o rosto. Do lado de cá, roupas de mulher. Eduardo escolhe a cama do lado de lá; fico do lado de cá. Misericórdia ao coreano, apagamos a luz e na luz-de-porta aberta, abrimos as malas. Neste ínterim, entra a dona das roupas.

- Brasileiros?
- Sim.

Ela se empolga e começa a falar palavras em português: morara antes com uma brasileira.

- E como é Dubai?

Pergunta dificil, resposta longa. Ela senta perto na cama porque a voz é baixa (o coreano dorme). O banheiro é coletivo e o Eduardo vai e volta do banho. Por fim, o novo ocupante da quinta cama chega. Eles falam a mesma língua e o interesse dela agora muda: seguem fumar e conversar lá fora. Hora de dormir.

10.10.08

Drogas em Dubai?

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ultimato para as "shared villas" em Dubai":

Sheik,

tenho uma pergunta da maior seriedade e espero que você posa me ajudar.
Estou me recuperando de uma dependência de cocaína e tive uma oferta de trabalho em Dubai (em um Hotel - Head Waiter). Como são as coisas em termos de drogas em Dubai? O risco de envolvimento com drogas é alto? Com Álcool eu já sei que terei de me segurar (da mesma forma que faço por aqui) mas me preocupo com as outras substâncias. Não estou fazendo piada, entenda por que não assino este post. Por favor me dê uma luz.
Obrigado


Postado por Anônimo no blog Dubai F. C. em Sexta-feira, 10 Outubro, 2008

Caro Anônimo,

Dubai tem muita luz, especialmente no verão.

Sobre a cocaína, eu acho que você pode ficar tranqüilo, Dubai será um bom lugar para você se desintoxicar. A legislação é bem dura para quem entra com drogas, o que faz com que o consumo seja no mínimo muito discreto.

Digo discreto, porque ele existe. Mas não no meio em que você vem para trabalhar. É o que se ouve, mas ninguém diz, pois ninguém se compromete. Se é que você me entende. Quanto à cocaína em específico, nunca conheci ninguém que fizesse uso dela em Dubai.

Geralmente, quem quer consumir drogas, tira férias e vai viajar. Pega um vôo para Índia, Irã (o consumo de maconha e ópio é algo relativamente difundido entre os jovens das grandes cidades iranianas, por vezes mais disponível e aceito que o álcool), Europa, América, ... e depois volta calminho para Dubai.

Dubai é mais aberto neste quesito(ou ocidental?) que a Arábia Saudita, onde não há bares, cinemas ou casas noturnas e o consumo de álcool e qualquer outra droga é proibido e o tráfico punido com pena-de-morte. Interessante que apesar de toda essa rigidez do país vizinho, é recorrente relatos de "festas de portas fechadas" no altos meios, onde o proibido é servido na bandeja (aliás, como em qualquer festa dos extratos sociais que estão acima da lei, não é?). Para que estas festas sejam possíveis, alguns coitadinhos morrem enforcados de vez em quando por tráfico. Mas afinal, quem se importa?

Outra dica é para você fazer a sua quarentena antes de vir para evitar problemas. Exame de sangue é obrigatório para todo estrangeiro na chegada. A polícia também pode te forçar a fazer um exame de sangue em caso de delação. Neste caso, "traços de droga" são suficientes para qualificar o sujeito em 4 anos de xilindró seguido de deportação. Outra coisa interessante é que aqui não existe o conceito de que a moradia do indivíduo é inviolável: se há suspeita, a polícia vai e entra na casa, sem precisar de autorização. Nos jornais há sempre uma notícia de alguém sendo julgado nesta situação.

Bom, é isso. País novo, vida nova: escolha bem suas novas amizades e aproveite para levar uma vida saudável.

Abraços de sheik,

Luís