31.1.08

Recomendações para mulheres

Caras leitoras:

Muitas vezes, reclamo e faço piadas com a distância nas relações homem x mulher por estas terras, principalmente se comparadas a sociedades como a brasileira.

Muitas leitoras perguntam: “é perigoso para mulheres?” Olhando nos históricos, verá que quase sempre tento evitar pintar um cenário negativo, estragar sonhos e apelo para o bom-senso. “Venha, mas use o bom-senso”.

Constato, porém, que esta recomendação apenas não basta, simplesmente porque o tal do bom-senso varia de uma cultura para outra. Simplesmente porque há ao menos duas Dubais: uma moderna, tolerante, progressista, que recebe de braços abertos estrangeiros e idéias de todo o mundo, que acredita na igualdade entre os sexos e que vê com naturalidade a independência feminina; e outra arcaica, intolerante e machista, que nutre um sentimento de inferioridade pelo sexo feminino. E nunca se sabe em qual delas se está.

O principal objetivo destas recomendações não é apenas evitar ofensas à cultura ou mal-entendidos decorrentes do choque destas várias cidades, mas principalmente reduzir as chances de ocorrência do principal crime contra a mulher por estas terras. Existe sim um compromentimento das autoridades para punir de maneira exemplar esses casos de abuso, mas se é possível evitar, melhor.

Mulheres novas ou maduras, solteiras ou casadas, seguem aqui as recomendações. Peço encarecidamente que as levem à sério:

- evite realizar atividades cotidianas que impliquem em estar a sós com um homem desconhecido. Exemplos: tomar taxis a sós para locais distantes ou durante a noite, visitas à imóveis para alugar, escritórios ou consultórios. Para esses casos, traga sempre a companhia de um amigo de confiança ou parente homem;

- se a companhia de um amigo homem não for possível, alguns cuidados são necessários:

* ao tomar um taxi, sempre anote o número do taxi. Pergunte o mesmo ao taxista para torná-lo ciente;

* ao realizar visitas, deixem pessoas próximas avisadas do seu paradeiro: hora e local de visita, e horário de retorno. Peça para estas pessoas entrar em contato caso você não retorne à ligação;

* utilize roupas modestas e discretas e que cubram as curvas. Nada de saias curtas, decotes e/ou excesso de maquiagens;

* durante o percurso, evite intimidades com o estranho;

- ao sair da balada, não aceite caronas de vagos conhecidos;

- não aceite convites para ir ao deserto ou festas, a não ser que esteja em um grupo que inclua amigos (ou maridos) homens;

- ande sempre com um celular carregado;

- possua sempre em mãos os números dos consulados e embaixadas de seu país. Certifique-se da existência de um número de emergência;

- se estiver só e perdida, ou com carro quebrado em local desabitado, evite pedir ajuda a desconhecidos, nem mesmo a autoridades. Ligue primeiro para um homem de confiança;

- Em caso de emergências, não hesite em ligar para a embaixada de seu país;

- Se você sofreu algum tipo de agressão, não vá sozinha à polícia: vá sempre na companhia de marido, amigo homem e se possível, de um agente consular.

Estas recomendações podem parecer um tanto exageradas, mas prefiro assim a dizer “não venha”, ou pior, a dizer “venha tranqüila”. Seguindo-as, e principalmente entendendo a razão por detrás de cada uma delas, você evitará muitas dores-de-cabeça.

Por hoje é só. Se isso ajudar a algumas de vocês a não entrar em uma roubada, já fico feliz.

Carnaval em Dubai

Apenas repassando o SMS que recebi ontem de pelo menos umas 3 pessoas:


FESTA DE CARNAVAL!
Sexta, 1 Fev, das 20:00 as 3:00.
Entrada gratuita.
Skyy Club, Golden Tulip Hotel, Al Barsha.
Ver mapa http://www.goldentulipalbarsha.com.
20% desconto nas bebidas galera da Emirates.


É isso aí: parabéns ao Ígor e ao Paulo pela iniciativa! E se você é brasileiro e está em Dubai, apareça. É o mais próximo de um carnaval que você vai encontrar por aqui.

28.1.08

A guerra contra o terror continua

Muitos de vocês se perguntam: mas não é um perigo morar tão perto das guerras e do Eixo do Mal? Pois bem, amiguinhos, eu já disse e repito: é.

Em abril do ano passado, você, leitor assíduo das notícias da Terra dos Podres de Rico, soube com exclusividade notícias sobre a então iminente Guerra contra o Terror.

Passados 10 meses, quando tudo parecia trilhar o caminho da paz celestial, aparece por areias árabes o sr. Arbusto em sua Força Aérea 1. Estado de sítio, có-có-ri-có, crianças chorando, e tudo volta ao estado belicoso de antes.

Em volta da Chata Táuer, já chegaram novamente as determinações supremas para a criação de trincheiras. A ordem: impedir a qualquer preço sua invasão por impuros.



Não desejo a ninguém viver em um local em guerra. A única coisa que me conforta é que segundo o Titio Tzu, o objetivo da guerra é a paz.

27.1.08

Uma boa ação

Em uma pousada no interior remoto de um país onde não se aceita cartões de crédito internacionais, o menino de olhos verdes conta o dinheiro restante. Após dias de observação, o gerente da pousada intercepta o rapaz em um momento oportuno: "quer ajudar uma família?"

Em um canto mais reservado, explica: ajudar uma família que não pode ter filhos. Tudo em sigilo, em um país onde as liberdades individuais não incluem este tipo de boa ação. A recompensa: um acerto financeiro entre as despesas de estada, talvez uma extensão da duração da viagem por mais alguns dias e países.

Mesmo sem conhecer a família, aceita a empresa; durante uma semana, fornece o material necessário até a confirmação do fato consumado. Felicidade ingênua de quem não pensa muito em implicações de um ato, que se explica na felicidade alheia. Ajudando uma família anônima que começa a ganhar rosto na cozinha do hotel. Moça que carrega peso até ser interrompida: "mulher grávida não carrega peso!".

Dias depois, o gerente da pousada lhe pergunta: "quer conhecer a família que você ajudou?" - sim é a resposta. Seguiram então até um dos quartos, e lá está a família do próprio gerente. "Muito obrigado!" - completou.

E veja como são as coisas: quando bebo café turco, vejo apenas a própria borra escorregando de um lado para outro no fundo da xícara. Nada mais.

Mistério.

A vidente turca

Água quente diretamente sobre café e cardamomo: café turco é assim, ou assim o é o café que se consome por estas paragens.

Depois de bebido, sobra no fundo da chaleira (ou cafeteira?) um barro marrom escuro: a borra do café. Segundo as turcas, é ali que está escrito o futuro.

E foi assim que o viajante recebeu notícias do próximo país ao sair da Turquia:

"eu vejo em seu caminho uma mulher grávida. Isso não lhe causará
problema algum, a não ser que você a procure algum dia. Neste caso, estes serão os maiores de sua vida."


E o viajante seguiu viagem.

24.1.08

Baianas, Las originales



Silk Road Hotel, Yazd, Iran. Uma noite qualquer de dezembro em um país do Eixo do Mal. Turistas amedrontados com a iminente guerra nuclear e possível vitória da Malvadeza contra o Bem, refugiam-se em um quarto subterrâneo.

Em meio às preces para o Papai Noel, trocas de informações:

- Ei, seu chinelo é parecido com o meu.

Todo turista que se preza possui um par de chinelas (sim, chinelos é mais bonitinho, mas chinelas passa um ar mais praiano) de borracha, conhecidas em um determinado país da América do Sul como Havaianas, as Legítimas. Chinelo prático: seca rapidamente após o banho (nenhum turista é louco de tomar banho descalço em banheiros coletivos).

- Ei! Que porra é essa?!

E já vem a briga: é original? Não é?

- É original, sim! Minha irmã comprou pra mim no Brasil, lá no Rio de Janeiro! - argumenta o austríaco Chris, para o delírio dos brasucas de plantão.

Enfim, não importa: o importante é proteger o pé.

Baianas, Las originales: viva a globalização. Tem até uma bandeirinha do Brasil, para não deixar dúvidas quanto à procedência. Assim, sim.


(Eduardo, Luís, Chris, Arthur, não necessariamente nesta ordem).

22.1.08

Nos classificados

O.N.O. - Or the Nearest Offer
O.B.O. - Or the Best Offer

Dúvida cruel: gerente de hotel (rimou)

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Salários x custo-de-vida em Dubai":


Assalamu Alleikhum, Sheikh

uma agência dessas que levam brasileiros para trabalhar em hotéis em Dubai viu meu CV e ligou para mim, dizendo que o meu perfil era compatível com um cargo de gerência de um departamnto de hotel. Falo 5 idiomas (alemão, inglês, português, espanhol e estudo árabe há 6 meses). Estou no último ano do curso de comunicação social e tenho experiência, não só em todas as áreas de hotel, mas em negócios internacionais, pois trabalhei em duas multinacionais por um bom tempo. Com esse histórico também concordo que não sou o cara ideal para garçon, mas há algo que me incomoda e é o fato de eu querer batalhar um salário decente e não concordar em trabalhar por 2 ou 3 mil dirhams. Minha pergunta é a seguinte: você acha que meu perfil permite pedir um salário de uns 10 mil dirhams no mínimo? Não quero parecer arrogante nem metido, não me entenda mal, mas não estou disposto a sair do Brasil para viver feito um escravo por dois anos. Minha intenção é, inclusive a de terminar minha faculdade nos emirados ou em outro país árabe, depois de cumprir o contrato.

Valeu, Sheikh

Allah Maack


Postado por Anônimo no blog Dubai F. C. em Quarta-feira, 16 Janeiro, 2008

Rapaz,

Fica tranqüilo: auto-estima e sensatez não tem nada a ver com arrogância.

Se você fala 5 idiomas e já tem experiência prévia, talvez você não precise ter pressa.

Talvez valha mais a pena esperar o término de seu curso e a partir de então procurar algo já com um diploma de curso superior (que por aqui pode fazer uma diferença significativa no seu salário).

Não tenho idéia de quanto se paga na área de hotelaria, mas considerando que estas vagas geralmente oferecem acomodação, transporte e alimentação, sem formação superior considero difícil que o salário ultrapasse 5 mil dirhams. Mas 2, 3, 5 mil dirhams limpos no bolso no fim do mês é um bom dinheiro. Há muita gente ganhando mais de 10 mil dirhams que não guarda isso por conta de outras despesas, principalmente aluguel.

Ao analisar uma vaga, pergunte-se: a empresa paga a viagem? A empresa paga acomodação? A acomodação é razoável e limpa? Quarto compartilhado ou separado? Auxílio transporte? Alimentação? Plano de saúde? Em algumas situações é mais lucrativo ter um salário abaixo de 5.000 dirhams do que um salário de 10 mil sem nenhum benefício.

Mas é como eu disse: nada de desespero. Com diploma superior e 5 idiomas você não fica desempregado no Brasil. E quem sabe, mais pra frente, você recebe uma proposta para vir para Dubai ou qualquer outro lugar com mais tranqüilidade.

Boa sorte!

Abraço de Sheik.

Barganhar or not barganhar

Carlos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Salários x custo-de-vida em Dubai":

Sheik,

grande Blog esse seu, viu! Muito legal mesmo. Divertido e cultural, ah se toda a web fosse assim. Mas, bom, vamos ao o que interessa, ou seja, minha pergunta, hehehe. Como é que os árabes dos EAU são na hora de negociar? Me refiro a tudo: aluguel, salário, preço de carro usado, bicicleta, camelo, areia e por aí vai. É verdade que tudo é negociável e que eles sempre começam vendendo acima do preço ou oferecendo menos do que vale? É considerado rude negociar?
Eu estou quase com um pé no deserto e queria saber se esse paradigma é verdadeiro ou se é só mais uma lenda.

Abraço,

Carlos


Postado por Carlos no blog Dubai F. C. em Sexta-feira, 18 Janeiro, 2008

Grande Carlos,

Depende. Eles sempre põem o preço lá em cima, mas há setores em que você terá maior ou menor flexibilidade para negociar.

Obviamente, em supermercados e shopping centers, o preço geralmente é fixo. Nos souqs (mercados), em comércio de carros, itens usados e aluguéis, há sim margem para negociação.

Não espere muita coisa ao negociar aluguéis. Essa é a experiência mais desagradável de Dubai: o preço começa (bem) lá em cima e fica por lá mesmo. Agradeça se o pilantra do dono da casa ou da imobiliária não cancelar o negócio depois de já ter fechado verbalmente com você. Ética nos negócios é algo que simplesmente não existe nestes setores.

Boa sorte!

Abraço de Sheik.

Atores: a Bruxa de Portobello


Eis que estou passando pelo Spinneys e resolvo dar uma olhadinha nos classificados. Mas o que é isso, um curta-metragem sobre o livro do Paulo Coelho?

E estão precisando de:

- Um guia turístico
- Um Sheikh (eu?!)
- 3 turistas alemães
- Viorel (garoto jovem)



Mas atenção para os requisitos:

Atores devem ser confiantes e estar aptos a atuar e dançar livremente. Atores devem ser comprometidos + disponíveis de janeiro a março de 2008.

Encruzilhada

21.1.08

Inconfidência Mineira

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Visitando Israel":


comedores de pão-de-queijo se orgulham de seu "Libertas quae sera tamem"

sou mineiro e gostaria de explicações sobre isso. devo encarar como uma ofensa?



Postado por Anônimo no blog Dubai F. C. em Segunda-feira, 21 Janeiro, 2008

Caro Anônimo,

Os leitores, por vezes, surpreendem o sheik. Como você conclui que eu me referia a um mineiro? Oras...

E o leitor varonil lança um brado beligerante e ufanista - Calúnia! - e já conspira contra o Sheik, estudando maneiras e artimanhas para extorquir alguns de seus camelos e concumbinas.

Ah, as conspirações mineiras... tranqüilize-se, caro leitor: uma das qualidades do Sheik é a misericórdia. Ele (o Sheik) não utilizará dos mesmos métodos que utilizaram seus patrícios de além-mar contra o pobre dentista (dá pra chamar de dentista alguém com o apelido de Tiradentes? Se bem que há muitos dentistas hoje em dia que merecem tal alcunha), que não contentes em enforcar o pobre coitado, esquartejaram seu corpo e espalharam suas peças de carne pelas ruas. O Sheik é da paz, e trilha o caminho da argumentação, da persuasão (embora Sheik seja Sheik, e tenha sempre a última e suprema palavra sobre os mortais).

comedores de pão-de-queijo se orgulham de seu "Libertas quae sera tamem"


Os Sheiks são assim: colocam o dedo na ferida. Ofensa? A asserção acima ilustra, tal como as demais, tal qual sua reação, como identidades não se constroem apenas em torno de vitórias. E nada mais. Pão-de-queijo? Portugueses produzem e consomem vinhos. Mineiros? Dizem que até nas festas da Embaixada Brasileira no Irã não se consome Ferrero Rocher (como obviamente se haveria de supor) mas o dito pain au frommage.

Tiradentes: herói ou uma construção? Interessante: quando eu era criança e estudava no deserto a história da terra estranha onde nasci, sempre confundia seus retratos com os de Jesus Cristo. Coincidência ou não, o fato é que mataram o sujeito. Nestas horas, lembro sempre dos ensinamentos de meu velho pai, que me dizia enquanto ordenhava uma camela: "Mais vale um covarde vivo que um herói morto". Talvez por isso, eu tenha sempre uma simpatia por aqueles que se curvam diante de mim (os Sheiks são assim, modestos). Feliz a pátria que não necessita de heróis.

Libertas quae sera tamem. Ofensa? Abstenho-me de comentários. Deixo-o com palavras de seu conterrâneo:


(...)
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
(...)


Obs.: Pão-de-queijo... faz tempo. Preciso dar um pulinho no Carrefour.

Beijocas de polvilho nas axilas,

do Sheik.

Visitando Israel

Ludi deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Falando com o sheik":

Caro Sheik Luis, espero que esteja tudo bem com vossa alteza!
Escrevo novamente para tirar uma dúvida sobre as histórias que escutamos aqui no ocidente sobre os países árabes. Ouvi dizer que no Kuwait uma pessoa que possua o carimbo de Israel no passaporte, independente de nacionalidade e crença, não consegue o visto de entrada no país e é barrado automaticamente. Gostaria de saber como isso funciona nos Emirados. Não sou judia, mas gostaria de passar por Israel, será que depois consigo entrar nos Emirados?

Abraços. Seu blog continua o melhor.

Ludi

Postado por Ludi no blog Dubai F. C. em Segunda-feira, 21 Janeiro, 2008

Olá Ludi,

As histórias que você ouviu estão corretas: com o carimbo da Palestina ocupada (como Israel é referido em mapas, diversas publicações e até em comunicados oficiais na maioria dos países do Golfo), você não vai conseguir entrar em muitos países por aqui. Nos Emirados Árabes não é diferente.

Guerras terminam (terminam?), ressentimentos ficam. Na Argentina, vê-se uma placa com a inscrição "Las Islas Malvinas son argentinas!" em cada posto fronteiriço; na Armênia, o Monte Ararat, hoje devidamente guardado do outro lado da fronteira, é um símbolo oficial; norte-americanos (tá bom, estadunidenses para os pelegos) insistem e fazer filmes sobre o Vietnã; comedores de pão-de-queijo se orgulham de seu "Libertas quae sera tamem"; na província canadense (canadiana, para o deleite luso) do Quebec, a frase Je me souviens (eu me lembro) enfeita placas de automóveis, deixando ufanistas de plantão com lágrimas nos olhos. Snif, snif.

Enxuguemos nossos olhos e narizes com lencinho Kleenex (a espessa massa verde já começa a escorrer nas narinas infantis) e voltemos a sua questão. Isso não quer dizer que você não possa visitar este país: basta pedir para as autoridades israelenses o visto e os carimbos de entrada e saída em um papel separado de seu passaporte.

Essa prática é também muito utilizada por quem vai cortar cana em Cuba nas férias e deseja fazer compras em Miami na volta.

Caso você já tenha visitado Israel e o seu passaporte já esteja carimbado, não há outra solução a não ser renovar o passaporte. Há notícias aqui e ali de que nas alfândegas a polícia faz vista grossa, mas é um risco muito alto considerando o preço de uma viagem ao Oriente Médio, não?

Bitocas muáqui-muáqui do Sheik.

16.1.08

E se por um lado não foi feriado ontem...

... por conta da visita do Sarkozy, hoje foi decretado feriado escolar em Dubai, Sharjah e demais emirados no norte.

O motivo: a chuva mais forte dos últimos 7 anos, que alagou Sharjah e Dubai e deixou um saldo de mortes e acidentes de trânsitos.

Desenhadas para um clima árido, a estrutura de escoamento de águas pluviais dos Emirados não dá vazão a grandes volumes de água e o que se vê é a cidade e estradas alagadas.

Não é por aí

O leitor do post anterior pode pensar que o Sheik é um defensor do eixo do mal.

Longe de defender ou atacar o regime instalado por terras persas, o sheik pensa que isso é um assunto persa, a ser resolvido por persas, e não pela polícia do mundo. Aliás, toda tentativa de intervenção externa no Irã no recente passado deste país - com boas ou más intenções - revelou-se um desastre.

Inclusive hoje, parece-me que a própria intransigência nas negociações acerca dos reatores nucleares iranianos - questão considerada soberana por qualquer iraniano - e coisas como o embargo é o que tem alimentado ressentimentos nacionalistas na população que terminam por se traduzir em um apoio ao governo atual, impedindo assim que outros assuntos venham à pauta, que o país avance. Algo tão improdutivo para o país quanto o embate PT x PSDB no Brasil. Em Teerã, por exemplo, o dono de um hotel ficou indignado ao descobrir que o domínio de seu website - fundamental para atrair turistas - havia sido cancelado: "Eu tenho cara de terrorista?".

O clima bélico não é bom para o povo, mas é bom para governos: bom para o governo iraniano, que encontra assim sustentação com o mote da "ameaça externa", bom para os governo dos EUA e França, que lucram com vendas de armas e reatores nucleares para os países vizinhos. Bom para o governo russo, que aumenta seu controle sobre o Mar Cáspio em troca de apoio político e militar.

No mais, há pontos em comum entre o governo norte-americano e o governo persa: ambos possuem grande suporte em áreas rurais e nos setores mais conservadores de seus respectivos países. Ambos têm o suporte de religiosos fervorosos - cristãos ou muçulmanos. Ambos discursam sobre o bem e o mal (que bom se tudo fosse tão simples). O apoio a ambos é menor em áreas urbanas, em grupos com maior escolaridade e entre jovens.

15.1.08

Dúvidas cruéis

1) Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes têm o consentimento dos protetores mundiais da democracia, da liberdade e das criancinhas para construir reatores nucleares. E por que não o Irã?

2) democracia e liberdade são importantes? Existe democracia com censura?

3) se a resposta é não, então por que se investe tanto em China, e em certos países, digamos, do Golfo?

4) se a resposta é sim, então por que não investir no Irã?

5) embargo derruba governo ou o fortalece?

6) por que vendas de armas e reatores nucleares com fins pacíficos coincidem com altas no petróleo?

7) botes iranianos a menos de 20 km da costa iraniana são uma ameaça... ao mundo?

8) ontem Dubai recebe o presidente francês, Nicolas Sarkozy. POR QUE NÃO FOI FERIADO? POR QUE? POR QUE? POR QUE????

Antes x depois

Antes: dia 12.01 9:00h, vento xamal (norte).





Depois: hoje, 15.01 7:00h, chuvão.



E parece que toda a água que não caiu em dezembro veio agora, de uma vez só. Mas não dá pra reclamar: pode ser a última chuva do ano...

Falando com o sheik

Roberto deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Temperatura real, umidade e sensação térmica":


Olá, Sheik Luis! Como vai?

Quero comprar camelos para vendê-los aqui na minha concessionária. Como podemos contactá-lo? Há um telefone? Um e-mail? Estamos no aguardo de sua resposta. Obrigado. Roberto Rodrigues.


Olá Roberto,

Dê uma olhadinha neste post aqui.

Manda pra mim um e-mail que a gente conversa com calma.

Abraço de sheik!

Luís

14.1.08

Meu querido diário: estado-de-sítio

São 5:20h da manhã: o telefone toca (maldito). Telefone que toca de madrugada (maldito) é mal sinal. Logo no feriado...

... Eid Al Bush, coisa nova: um presidente visita o país e, por questões de segurança, decreta-se um feriado. Ah! As vantagens de não se viver em um país democrático! Bush deve ter morrido de inveja.

São 20h do dia anterior. Recebo uma mensagem: "Mais algum felizardo agraciado com um feriado? Vamos remar amanhã às 10h!". É o Enrique, peruano que já está aqui há um bom tempo. Foi para uma lista de gente que não tem medo de água fria.

São 7h da manhã, um SMS: "O Gavin foi barrado pela guarda-costeira. Vou tentar mesmo assim as 10h!".

São 10h da manhã: o mesmo motivo que me interrompeu o sono impede agora de cumprir palavra. Ao menos não me impede de sair na rua de pijama as 10:30h de segunda-feira.

Barulho de avião. Mas o tráfego aéreo não está interrompido? Ele vem lá dos lados de Abu Dhabi voando baixo escoltado por 2 helicópteros e ao passar pelo Burj (Al Arab), faz uma curva pra esquerda. Está se posicionando sobre o mar para aterrisar (obviamente) lá no aeroporto. O Kim, que volta da praia comenta: "Air Force 1."

Sigo em frente (de pijama). O pessoal retorna antes do mar: a guarda-costeira parou. Caiaque? Só pertinho da praia, mas longe do Burj (Al Arab)! Uma das inglesas do grupo reclama: "It's not a holiday, it's a curfew!". Ela tentou pedalar perto do Burj (Al Arab) de manhã e - óbvio - foi barrada.

Curfew, palavra bonita. Nos jornais ela está sempre pertinho de outras como rallye e riot. Quase nenhum carro na rua, silêncio, ar puro. Curfew. Mas agora já é 12:30h, lá vem os imãs.

Idéia: filmar a cacofonia. Vista estratégica dos minaretes, só no telhado. Como sempre, o imã tosse antes de gritar. Na casa ao lado, no telhado, um gato caça passarinho. No quintal, um galo corre atrás de uma galinha. Horas antes, antes do imã, ele já havia dito: "Có-co-gú-cuuuuuuuu!".

Curfew: estado-de-sítio. A inglesa tem razão.

13.1.08

"Eid Al Bush" holiday

Pois é,

Coisas inacreditáveis andam acontecendo em Dubai. Como o furto da bicicleta do Camilo, que viaja com o Arthur (que Arthur? Que Camilo? Depois entro em detalhes). Como esse chuvaréu que cai nesse momento em Dubai, alagando tudo.

Mas nada se compara a notícia que acabo de receber que ao que tudo indica procede: em virtude da visita de George W. Bush marcada para amanhã à Dubai, por questões de segurança, amanhã não haverá expediente (estamos próximos ao percurso dos chefes de estado).

E a criançada de terno com ranho no nariz chora de alegria, abanando bandeirolas norte-americanas:

- Thank you Mister Bush!



Atualização de última hora: as principais avenidas de Dubai - Sheik Zayed Road e Jumeira Beach Road estarão fechadas ao tráfego durante todo o dia amanhã.

É isso aí, pessoal. Bush Mubarak a todos!

Trabalhar na Emirates?

Carlos La Terza pergunta:

Olá Sheik,

Gostaria de saber se você tem conhecimentos com alguém da Emirates Airlines aqui em São Paulo, no Brasil, afim de que pudesse mandar currículos do meu filho, para que ele pudesse trabalhar aqui em São Paulo na companhia aérea.

Agradeço uma resposta.

Abraço

Carlos La Terza


Olá Carlos,

Infelizmente, não conheço ninguém que trabalhe na Emirates aí em São Paulo. Entretanto, todas as vagas disponíveis na Emirates estão disponíveis na rede através do endereço abaixo:

http://www.emiratesgroupcareers.com/

Há posições para todos os níveis, de camareiras a garçons, de enfermeiras a dentistas, de engenheiros de software a engenheiros aeronáuticos, gerentes de publicidade a diretores de RH, e também em diversos países: África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Índia, Filipinas. Infelizmente, não encontrei nenhuma posição no Brasil.

Em um último caso, você pode tentar obter alguma informação diretamente no escritório da empresa em São Paulo. Há rumores de que a empresa está montando filiais no Rio de Janeiro e Buenos Aires, para onde a companhia estaria em vias de estabelecer novos vôos diretos a partir de Dubai.

Boa sorte!

Abraço de sheik.

11.1.08

Cartão Dubaimlm?!

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Médicos e profissionais de saúde":


Oi !

Gostaria de saber sobre o Cartao de credito Dubaimlm, se trata de uma empresa seria ? e Realmente, e um cartao que funciona e aceito ai nos Emirados Arabes ?

Um abraco.

Cosme


Caro Cosme,

Nunca ouvi falar deste cartão.

Os sheiks são bondosos, mas a princípio extremamente desconfiados: tudo que parece vantajoso demais tem grandes chances de ser um "górpe".

Desconfie de tudo que ofereça possibilidades de ganho fácil e rápido, principalmente de pirâmides financeiras vestidas com a atraente roupagem de "marketing de rede" ou "marketing multi-nível".

Idéias de pirâmides financeiras não são novas e a forma como terminam são quase sempre muito semelhantes. O melhor exemplo que existe a respeito creio que é o caso albanês, que quase ocasiona uma guerra civil no país.

Antes de se empolgar e entrar de cabeça em um cartão milagroso desses, proponho que você leia este texto aqui da Wikipedia.

Abraço de sheik.

O homem religioso, as axilas, e o chulé

Era uma vez um rapaz muito religioso e muito gordo. Ele não conseguia controlar o seu desejo de comer. E comia de tudo: cebola, cabritos, doces, coisas apimentadas. Fazia calor no local de trabalho, o que facilitava a transformação de tudo aquilo que decompunha em seu estômago (cebola, cabritos, doces, coisas apimentadas) em odor, que exalava fortemente por suas axilas. Seu odor variava com a sua alimentação: por vezes, doce, por vezes sufocantemente acre. Mas invariavelmente pesado nos meses de verão, quando suas glândulas sudoríparas trabalhavam a todo vapor, deixam para trás um enorme rastro de anõesinhos mortos.

O rapaz não era muito afeito a certos luxos ocidentais, dentre eles o desnecessário gasto diário de água para deixar suas partes do corpo com cheiros inumanos: lavanda, rosas, creme de aveia. Talvez porque em sua terra natal tal hábito fosse, mais do que um luxo, algo inadmissível: no deserto, a água destinada a um banho pode ser a diferença entre ter ou não água por vários dias.

Seus colegas de trabalho não tinham o menor interesse em compreender sua razões e já arquitetavam planos para forçá-lo a adaptar-se aos hábitos de uma cidade que, apesar de desértica, garantia água-doce a seus habitantes através de usinas de dessalinização. “Viva o progresso! Viva o cheiro de lavanda!”, diziam seus amigos que reclamavam de seu odor. “Carniça pura!”, diziam alguns, “Se ele passar espátula nas axilas, sai um creme!” diziam outros. Outros com imaginação mais fértil diziam que perto dele o ar era tão pesado que se poderia cortá-lo com faca. Arquitetaram assim um plano que colocariam em prática tão logo ele voltasse de suas orações.

O rapaz era muito religioso, já disse: religiosamente realizava suas orações. Atento a outras modernidades, possuía no celular um iman eletrônico, que o avisava cantando em alto e bom tom para ele e todos os coleguinhas de trabalho o horário das orações. “Alahu al akbar!”.

Ele religiosamente se levantava e seguia para o banheiro. Estrategicamente, utilizava sapatos mocassim, sem cadarço, que facilitava o ritual: lavava o rosto, lavava mãos e antebraços. Por fim sacava o sapato, as meias e lavava ali mesmo, na pia, os próprios pés. Lavava cuidadosamente entre os artelhos, por vezes com o próprio sabão líquido disponível. Isto feito, secava-os com as próprias meias os pés e seguia para a sala destinada às orações, com os tapetes já dispostos na direção de Meca.

Logo ao voltar, um amigo lhe dá despretenciosos tapinhas nas costas: “E aí, camarada? Enta kifãk?”. Ele não entendeu muito bem, mas seguiu trabalhando. Os colegas riam, ele ria também. Por fim, desligou o computador e seguiu para casa. Foi então que a esposa retirou desconcertada um pedaço de papel colado em suas costas: “Sou fedido, e daí?”

A partir deste dia, o rapaz religioso passou a ter mais atenção com a aparência e com a higiene pessoal, tomando banho e trocando de roupa com mais freqüência (ao menos uma vez por semana).

Moral da história: quem lava o pé, não tem chulé.

9.1.08

Primeiro post do ano

E o leitor está desesperado. Sentado na cama de palha em seu barraco com teto de zinco, derretendo de calor, não consegue mais dormir: "Onde estão minhas notícias de Dubai?"

Então vamos a algumas novidades de 2008 neste importantíssimo post (o primeiro do ano!):

- dia 5 de janeiro comemorou-se por aqui 2 anos da ascensão do Xeque (que feio esse termo em português) Mohammed bin Rached Al Maktum, vice-presidente e primeiro-ministro do EAU e governador de Dubai ao poder;

- faz frio (frio mesmo) por aqui: o xamal (ou chamal? Ou shamal? Certo mesmo, só em árabe) está soprando forte há dias, trazendo chuva (em Dubai nem tanto), ondas (muitas), tempestades de areia e baixando as temperaturas. Esta madrugada registrou-se em Dubai temperaturas de 10 graus Celsius. No meio do deserto a temperatura foi ainda mais baixa. Se esta notícia for lida no verão (43 - 50 graus), vão achar que é mentira;

- nos primeiros dias do ano, os habitantes de Dubai notaram as ruas mais vazias, e se registrou uma queda acentuada nos congestionamentos. Autoridades da RTA apressaram-se a atribuir esta queda como um "benefício do SALIK". Mas tão logo a comunidade de expatriados começou a voltar de suas férias de final-de-ano, ficou claro que não é bem assim: é preciso mais que um pedágio para reduzir congestionamentos (e que venha logo o metrô!);

- o preço do petróleo chegou à marca dos US$ 100/barril nos últimos dias. O fato foi tratado na mídia local como um acontecimento "abençoado";

- o Internacional de Porto Alegre bateu o Stuttgart e o Internacional de Milão e sagrou-se campeão de um campeonato cujo nome eu não sei;

- amanhã (ou hoje?) é o feriado de Ano-Novo no calendário muçulmano. Entenda-se feriado no trabalho (droga! Não vou poder trabalhar!) e lei-seca (nenhum bar venderá álcool a partir das 18h de hoje e amanhã o dia todo);

- amanhã também começa um campeonato de três dias de corridas de cavalo aqui em Nad Al Sheeba (Nad Al Xiba? Nad Al Chiba? O correto mesmo, só em árabe). Preços: um dia por 50 dh, 3 dias por 125 dh, um dia com refeição elegante inclusa por 250 dh. Vamos aí?

- dia 18 ocorre a Maratona de Dubai. E aí, vai encarar?

- meu aluguel subiu 20%;

O que, e o Irã?! Acalmem-se. Depois, depois. Agora deixa eu praticar meu hobby: trabalhar.