30.9.06

Quem foi

Marroquino, Ibn Batuta foi o Marco Polo árabe: passou 30 anos de sua vida viajando pelo mundo, e depois publicou um livro: Viagens pela Ásia e África 1325-1354.

Ibn Batuta Mall



Parece uma igreja ou mesquita, mas é um Shopping Center. Momento para fotos no melhor estilo "olha eu aqui!".

Dubai ontem à noite



O mais engraçado desse vídeo...



... é que a realidade que ele mostra não existe mais. A mobília foi retirada, o apartamento entregue.

Dos moradores recentes, Thomas, o francês, voltou pra França. Mauro, o médico, mudou-se para uma comunidade alternativa em Porto Alegre. O Leandro, super Gnomo, já havia ido morar com sua irmã. E eu aqui em Dubai.

Mesmo que voltasse a morar ali, já não seria a mesma coisa. Resta então essa percepção do tempo passando, essa saudade órfã, de tudo que passa, muda e não volta mais.

Brasil 0 x 1 França

E algum jogador um dia disse: "o futebol é uma caixinha de surpresas..."

28.9.06

TV árabe

No momento em que começa mais um final-de-semana em Dubai, fica aqui um vídeo pra vocês.

Nada de especial, apenas uma coletânea do que vi na TV enquanto estava no hotel. Tem um trecho de um jogo de futebol. Se não fosse o Saddam ali na torcida, eu juraria que era um jogo da Internacional de Limeira. Aguardem mais vídeos...

Ramadan Kareem a todos!


O preço das coisas

Aspirador de pó NIKAI 1500 W: 79 dirham

Liguei na tomada e - surpresa - funciona!

Descobri

O Pascal é da Ilha de Martinica, Caribe.

O que é esse PBUH que você colocou aí depois do Profeta?

Toda vez que o Profeta Maomé (PBUH) é citado, deve-se colocar a sigla “PBUH”, que significa Peace Be Upon Him (Que a Paz esteja com Ele). Pode-se usar a frase em árabe também, mas eu não lembro como é que é.

O que muda com o Ramadã

- Todos os muçulmanos passam a jejuar (sem comer, beber, fumar ou fazer sexo) desde o momento em que o sol nasce até o momento em que o sol se põe;

- As pessoas se saúdam com as frases “Ramadan Kareem!” e “Ramadan Mubarak!”

- Os mais empolgados mandam e-mails religiosos enormes para toda a empresa, enaltecendo as virtudes do Profeta (PBUH);

- As noites passam a ser de festas. Amigos convidam amigos para o Iftar – a refeição de quebra do jejum – em suas casas. Hotéis também passam a oferecer pacotes para o Iftar;

- Todas as baladas ficam fechadas. É proibido qualquer tipo de música ao vivo. Venda de álcool também é proibida;

- Já que não há “Baladas”, a “balada” passa a ser nas casas de shisha: amigos se reúnem para passar horas fumando shisha.

- Para quem não é muçulmano, a princípio o ambiente durante o dia fica hostil: recomendação expressa na empresa para não se comer, beber água, fumar ou fazer sexo em público e no recinto do trabalho. Resta uma cozinha de 2 m quadrados para que todos bebam suas águas e façam suas refeições. Sexo ali também não é permitido. Restaurantes fecham, e os que ficam abertos, ficam de portas fechadas, com cortinas grossas fechando as janelas;

- Recomenda-se mais discrição no vestuário: não sair de bermudas ou camisas regatas, e para mulheres, cobrir os ombros e vestir vestidos mais longos. Aqui o povo ainda releva, mas dizem que na Arábia Saudita “o bicho pega”;

- É engraçado e constrangedor comer nessas condições: um rapaz aqui definiu bem a situação, quando no final-de-semana foram a um fast-food: só se vendia comida para viagem. Eles comeram então dentro do carro, perto da praia. “Parecia que a gente estava usando drogas escondido! Comendo e olhando pros lados pra ver se alguém via”

- A jornada de trabalho se reduz de 8h para 6h. Na empresa, saiu uma circular bem peculiar: “a jornada de trabalho reduz-se para 6h, mas pedimos atenção para o fato que os prazos se mantêm...” Simpático, não? Continuo trabalhando mais de 8h...

Sheik Luís responde

Daniela diz:

Oi Luís!! Já leste alguma coisa sobre uma celebração que
tem no final do Ramadan? Até!!



Sim, Daniela! É o Eid! São dois dias ou três dias de feriado, algo como o Natal árabe, no qual pretendo, inclusive, viajar para algum lugar. Mas a marroquina da casa falou que o dia mais legal mesmo do Ramadã é o 25º dia, 5 dias antes do Eid: é neste dia que as pessoas se reúnem com os amigos e com a família e fazem festa também.... é esperar pra ver.

Sheik Luis responde

Lana perguntou:

Luisão, conta pra gente como é pedalar com esse calor e
sem beber água.... Tô curiosa.


Ora, ora ... eu sou um Sheik. Esqueceu? Os Sheiks tem super-poderes! Os Sheiks são os rulers! Sheik não pede: ordena. Sheik não faz favor: é misericordioso.

A primeira sacada esperta é sair de casa antes das 7:30h da manhã. Entre 7h e 8h, a temperatura sai de agradáveis 28 graus e vai lá pras alturas, quando chega 8h, 8:30h, já está quase 40 graus! Só não é um sol de rachar mamona, porque mamona não cresce na areia do deserto...

A segunda tem a ver com os super-poderes: como sou Sheik, dou-me ao direito de furar o jejum e beber 1l de água antes de sair de casa. Tudo bem: só a pedalada nesse sol já é uma penitência. Uma mão lava a outra. E quando chego no trabalho, ao ir pro banheiro trocar de roupa, levo junto escondida uma garrafa d’água, só pra repor o que perdeu na pedalada. Daí pra frente, é jejum até às 18:15h.

A parte interessante é que o jejum termina um minuto mais cedo todos os dias: é o outono chegando... de grão em grão, a galinha enche o papo.

27.9.06

Música pra fechar o expediente

De um cantor francês, Cali, que passou um bom tempo no anonimato, até estourar com esta música: C'est quand le bonheur? (E a felicidade, é quando?, tradução livre).

Fala das agonias de quem vive à espera de um amor não-correspondido, e da felicidade que não vem quando finalmente o conquista e o cotidiano se apresenta. Meio trágico, mas música bacana!

Ao amigo Genebaldo


O Genebaldo, grande amigo transamazônico, está indo agora para o Parque do Xingu. Boa sorte!

E quando voltar, mande notícias.

6:13h

Fim do jejum.

O mais difícil do jejum...

... é ficar sem água. A boca vai ficando pastosa ao longo do dia. Parece que a língua vai grudar no céu da boca.

Meu querido diário...

Ontem, 22:30h: ninguém na casa, provavelmente estão fumando shisha em algum lugar. Hora de dormir.
4:45h: os auto-falantes da mesquita ao lado funcionam a todo vapor. Água, Bolachas.
5:xxh: de novo vozes nos auto-falantes. Não tenho o que fazer, volto a dormir.
7:30h: Temperatura na casa dos 30 graus e subindo. Hora de pedalar, com direito a pausa na praia para fotos.
8:10h: já estou no trabalho.

18,5 km, 35 minutos. Mais a noite tem a volta: outros 18,5 km.

Pronto, apaguei

Diante das inúmeras mensagens que recebi, apaguei o post.

Realmente, não dá pra generalizar. Eu mesmo sou descendente de europeus: parte de meus bisavós eram portugueses, daqueles donos de fazenda, herdadas e divididas de geração em geração até se esfacelar em um terreno aqui, uma chácara ali. A outra, de italianos, que ao Brasil foram para trabalhar nestas mesmas fazendas, substituindo a mão-de-obra escrava africana.

Um lado da crítica permanece, e nem é dirigida a europeus (só aos que falam demais): ouço comentários infelizes em relação a indianos e africanos; hoje no meu país isso é crime. Pior ainda quando a coisa deixa de ser um simples comentário para se tornar um procedimento. Ouço aqui que o salário aqui é ditado pela nacionalidade. Por exemplo, um indiano nunca ganhará o mesmo que um inglês para a mesma função, por mais competente que seja. Se isso é mundo civilizado, que venham os bárbaros.

Quanto aos portugueses, fica aqui o meu abraço. Possuímos um legado cultural em comum que vai além do idioma (aperfeiçoado no Brasil :-) ), nas linhas disformes das cidades brasileiras, à beira da praia, no jeito cordial de ser. Já se ouviu no RH alguém dizer que gostam de contratar portugueses e brasileiros porque se adaptam bem a um ambiente de mudanças...

Não é à toa que aqui, os brasileiros e portugueses se fundem em um só grupo. É bom ter um português ao lado pra sacanear com uma piada, entre um chá e outro, pra ouvir depois uma anedota de brasileiros, pá... assim o tempo passa, e a gente se sente em Casa.

26.9.06

O jejum e o Ramadã

Jejuar durante o Ramadã, assim como as 5 orações diárias, é um dos 5 pilares do islamismo, levado a cabo com naturalidade, orgulho e alegria por aqui.

O jejum - de água e comida - inicia-se após uma refeição rápida antes do sol nascer, por volta das 4:45h, e só termina quando o sol se põe, por volta das 18:15h. Então, é hábito reunir-se para o Iftar, a refeição de quebra do jejum. Não é incomum as pessoas saírem às ruas, nesta hora, soltando fogos de artifício. A imagem das pessoas sentadas no chão do lado de fora das mesquitas compartilhando a refeição é algo que guardo pra mim.

Ramadã, apesar das restrições, é tempo de alegria e festa. É tempo em que toda a sociedade se organiza em torno de um objetivo comum. Como carnaval, como Copa do Mundo, para brasileiros. Tempo de reunir a família e os amigos, como Natal. Tempo de comer comida diferente, que vende no supermercado e que não sei o nome. Leio no jornal que Ramadã é tempo de exercício da paciência. Que bom, eu preciso disso mesmo.

Ainda não entendo esta relação com a lua, que neste mês, destaca-se crescente no céu, o símbolo do Islã. Sou leigo no assunto. As sociedades pré-colombianas nas Américas tinham uma relação semelhante com o sol, não é?

Estar na festa e não participar não tem graça: vou tentar seguir ao jejum e observar, observar.

Estou sendo injusto

As pessoas que mais têm me dado apoio aqui são justamente brasileiros e... europeus (racistas ou não). Reconheço que compartilhamos juntos muitas outras penúrias, decorrentes de tantas diferenças culturais, e que temos muito em comum.

Não posso posso generalizar minha raiva só porque tive (mais) um contratempo. O próprio termo europeu já é uma generalização demasiada.

E no mais, quanto à carta de motorista e visto de entrada, eles não têm culpa de nada: isso é uma questão de (des)entendimento entre os corpos diplomáticos cada país. Sorte deles! Azar o meu.

Desta forma, esqueçam o penúltimo post. Mas não o apago, de pirraça.

Aconteceu ontem

Estava a meia-hora pedalando, voltando do trabalho. Havia passado 5 minutos antes pelos hotéis de luxo, e seguia pela avenida próxima à praia de Jumeira, que está recortada em Jumeira 1, 2, 3, ... daqui pra frente, há uma mesquita a cada 100 metros, e então liguei a minha câmera e passei a filmar. É horário de oração, e os auto-falantes funcionam a todo vapor.

Um veículo, então, passa por mim, buzinando. Não dá pra ver nada, vidros filmados. Não dei atenção, segui. Continuo filmando e pedalando. Estou de bermuda, afinal, não dá pra pedalar de calça com esse calor. Próximo à entrada do bairro, noto um carro atrás de mim, o mesmo carro, andando devagar. Abri passagem, não passou. Continuei. Viro à direita, viro à esquerda, ele veio atrás, lentamente. Entrei em minha rua, ele entra também. Chego finalmente em casa e abro o portão. Ele faz meia-volta na rua, e vai embora. Enfim, paranóia minha.

No mais, o bairro é seguro: sou vizinho do Chefe de Segurança da cidade. As casas vizinhas de trás são todas do ruler de Dubai.

25.9.06

Na praia


Fotos como esta estão com os dias contados: acabo de ler no jornal que estão prestes a proibir o uso de câmeras na praia.

Dentre outras coisas, ficará proibido:
  • jet-skis
  • nadar de cueca (!!!)
  • biquínis g-strings
  • topless (Onde????? Será que ainda dá tempo de ver????)

Tudo isso para evitar o assédio de bandos de homens a mulheres na praia.

Sociedade mais fechada e moralista + desproporção entre homens e mulheres = perda de liberdade.

24.9.06

Indiano quando diz sim...

...gira a cabeça para os lados, em sentido horário e anti-horário.

Já tinha visto alguém fazer isso, sentia que tinha ficava um buraco na conversa, mas achei que era algum tic nervoso, mas depois que o Ghisi e a Ana me deram um toque, comecei a prestar a atenção.

Aconteceu ontem na auto-escola:

- e aí, se eu vier amanhã, em uma hora eu faço essa prova de avaliação de nível?

O indiano a minha frente ficou quieto, e calmamente girou a cabeça para um lado e para o outro, olhando no meu olho.

- isso é sim?

- yes, sir.

Escalação do time

Já estou em Jumeira 1, então vamos à escalação do novo time:

Jo-Anne: inglesa, morou 10 anos na Arábia Saudita. Fala inglês e árabe. Conhece todos os esquemas de Dubai: onde comprar móveis usados, onde alugar, e o mais importante: como negociar com árabes. Desconfiada, não gosta de indianos, nem de ser observada na praia. Saiu da água quando viu uma roda de indianos - justo indianos - olhando para ela.

Robert: húngaro, joga em outro time também, mas tudo bem. Quando cheguei na casa, amarrou a camiseta acima do umbigo e me ofereceu sopa de legumes. A sopa estava boa. Fala húngaro e inglês.

Angelica: divide o quarto com Robert, é do Usbequistão. Fala russo e inglês. Menina quieta. Outro dia, andava naturalmente pela casa de hobbye e calcinha. Que bobagem, pois biquíni não é menor que calcinha? Deixa a moça, oras!

Sara: italiana, fala italiano (!), espanhol e inglês. É alta, modernosa, está sempre maquiada, e desconfiada. Mora em um quarto do lado de fora da casa.

Souhir: marroquina de uma cidade próxima à Rabat, fala árabe, francês e inglês. Simpática, ofereceu-me café au lait no quarto enquanto eu montava os móveis. Um dia andava de toalhas, outro vestida apenas com uma camiseta longa, anteontem estava elegante, maquiada, em um vestido de onça. Às 5h acordo com alguém chorando na casa. Era ela, voltando de uma festa, com saudade de Casa.

Samie: francesa de Strasburgo, é descendente de marroquinos, muçulmana também e divide o quarto com Souhir. Morava em Paris antes de vir pra cá. Fala francês e inglês. Disse que ela e Souhir seguirão o Ramadan. Vai me emprestar uma edição em francês do Corão para eu entender melhor como a coisa funciona. Em troca, gravo CDs de música brasileira.

Pascal: descendente de africanos, ninguém sabe de onde ele é. Fala francês e inglês. Francês? Senegalês? Da Costa do Marfim? Suposições. Parece que tem mais gente dividindo o quarto com ele, mas na verdade, ninguém sabe quantos, nem quem.

Alon: sul-africano, loiro, está há 3 meses em Dubai. Trabalha também lá perto de onde eu trabalho, no Dubai Media City. Está fazendo curso de árabe. Conhece todas as baladas de Dubai, de festas em clubs a festas privadas em casas, aquelas festas que o amigo do amigo convidou e disse que vai me mostrar depois do Ramadã, pois agora está tudo fechado (o famoso "tem mas acabou"). Então por ora, o melhor é relaxar, acordar cedo com a mesquita ao lado, fumar shisha, tomar chá, amargo ou não.

Sandrella: síria, fala árabe e inglês. Já está há 6 anos em Dubai, que ninja. Outro dia, saía com a Layla para fazer jogging pelas redondezas. Embora ela estivesse em jejum, tomei café-da-manhã em seu quarto, junto com a Layla, e assim aprendi um pouco mais de árabe e de seu país.
Layla: síria também. Não fala muito bem inglês. Não tem problema, eu também não falo árabe. Também, divide um quarto com Sandrella. Pelo que percebi, são as pessoas mais maduras e sensatas da casa.

ZZZ: não sei o nome dele. Dizem que é jordaniano, não interage muito com os demais da casa.

Time fechado, onze jogadores em campo. Eu não jogo bem futebol, então fico no banco, assistindo ao jogo: Dubai Futebol Clube x Monstros do Lago.

Começou


Começou ontem o Ramadã.

Acompanhe os horários de orações de hoje para os EAU, ou ainda confira os horários de todo o mês.

Obrigado...

... por todos os comentários, anônimos ou não, ácidos ou não. Publicar é expor-se, não é mesmo?

Abraços a todos!

21.9.06

Eu já sabia...

Parabéns aos amigos de SP que organizaram o evento.

21/09/2006 - 09h34
Bicicleta vence automóvel em "corrida" no rush paulistano

PAULO SAMPAIO
da Folha de S.Paulo

Cruzar a cidade de São Paulo de bicicleta na hora do rush só não é mais rápido do que ir de moto; depois deles vêm o ônibus, o carro, o trem (integrado com metrô) e o metrô (com ônibus). Uma "corrida maluca" realizada ontem entre seis meios de transporte diferentes, com largada às 18h na avenida Luiz Carlos Berrini (zona sul) e chegada na prefeitura (centro), verificou que o passageiro da integração ônibus/metrô pode levar 1h39min, ou 42min93s a mais que o motociclista.As duas ciclistas chegaram em 48min20s e 52min15s; o passageiro dos ônibus (pegou dois), em 1h6m; em seguida vieram a motorista do carro (1h16m) e os que usaram a integração trem/metrô (1h23m) e ônibus/metrô. Batizada de 1º Desafio Intermodal, a corrida foi uma iniciativa de três ONGs de ciclistas, com apoio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, e teve como inspiração um evento semelhante realizado em 31 de agosto no Rio. Na versão carioca, a moto e a bicicleta também chegaram antes.A prova faz parte das atividades relacionadas ao "Dia sem Carro", marcado para amanhã, quando a população mundial será convocada a usar um outro meio de transporte. Na corrida, todos estavam empenhados na defesa de alternativas ao carro. "No ônibus, você tem tempo para ler e ouvir música", diz o estudante Inácio Guerberoff, 26, que desceu no ponto errado e teve de andar mais até a chegada. Mariana Cavalcanti, 30, que foi de carro, diz que já sofreu três seqüestros relâmpagos ao volante. Para o motociclista Rodrigo Pinto, 28, o problema "é que não se investe em educação no trânsito". "Em geral, o motoboy é mal educado." O professor João Campos, 30, que tem horários flexíveis, só anda de "trem e bike". Em meio à sua defesa do transporte alternativo, apertado no trem cheio, João é interrompido por um passageiro. "Esse aqui é o "lerdeza'", diz o supervisor de oficina Milton Nogueira, 40, que afirma levar 25 minutos para percorrer oito estações.
Colaboraram DANIELA ARRAIS e ESTÊVÃO BERTONI

Levando a sério

Os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia. Antes das orações, passam no banheiro e lavam as mãos, o rosto e passam a mão molhada sobre a meia.

Acabo de ver um rapaz no banheiro que realmente leva a sério a coisa: estava numa boa, lavando o pezão na pia (sim, com o corpo arcado e o pé dentro da cuba da pia).

Um mês em Dubai







Passou-se um mês.
Um mês de noites solitárias de hotel.
Lembro do Brasil, parece que foi ontem.
Olho ao redor, parecem meses.
No espelho, barba branca. Parecem anos...

Novo recomeço. Nova casa. Tudo novo.
No quarto vazio, saem móveis de uma prostituta tunisiana,
entra minha mobília.
Novas despedidas,
Ahmed, Ronald Passaporte, Rachid, Wassim, e tantos outros
Novas amizades,
Alguém me estranha,
Sensação de primeiro dia de aula.

Entro, saio
Esse estranho incômodo
push, pull
empurrar? puxar?
cara na porta
tanto faz, tanto fez
ninguém se importa
Caminhada solitária pela noite morna.

A voz da mesquita me acorda em árabe,
- "orar é melhor que dormir" -
no quarto ao lado, falam inglês,
alguém oferece café em francês.
Ouço e respondo,
nem sei mais em que idioma.

Lugares bonitos, sofisticados
há momentos que nenhum lugar agrada

o telefone toca,
o telefone não toca

No caminho pro trabalho, um carro pára:
"você também pedala?"

As senhoras,
ah, velhas senhoras
convite a um chá amargo

Na parede do quarto,
imagens, lembranças

E eu só queria um sono tranqüilo...

18.9.06

Procurando emprego em Dubai

Aqui vai uma lista de sites de empregos em Dubai:

http://jobsindubai.ae
http://dubizzle.com
http://dubaidonkey.com
http://www.dubai.ae
http://jobs.theemiratesnetwork.com/

Agências de recrutamento (top):

http://www.bacme.com
http://www.clarendonparker.com
http://www.kershawleonard.net

Nestes sites tem de tudo, até emprego em Kabul, Afeganistão. E aí, vai encarar?

Dubai under construction


Repare no isolante térmico dos blocos de cimento usados nas contruções daqui...

Quem não tem cão...


... caça com gato.

17.9.06

Tá explicado


Se até as havaianas, as legítimas, são brasileiras, faz todo sentido tocar samba no Baile do Havaí.

Aliás...

... no Havaí, depois da Ula-Ula, será que dançam samba?
... alguém aqui já conheceu um havaiano?

Mas eu entendo...

Eu passei a minha adolescência em Limeira indo todo ano ao badalado Baile do Havaí, no Nosso Clube.

Baile chic: todos vão de roupas brancas e floridas para beber muito álcool e comer melancia, dançando samba em volta da piscina. Mas nunca vi um havaiano legítimo por lá.

Salve, simpatia...


- Radisson Hotel, boa tarde, como posso te ajudar?
- Olá, eu vi uma propaganda de uma festa chamada Favela Chic!, com músicas brasileiras, e fiquei interessado. Eu vi que é preciso se vestir de branco e que é apenas para quem está na lista de convidados, correto?
- Correto.
- E qual o preço da entrada?
- Senhor, não é cobrado nada na entrada, mas é preciso ter o nome na lista.
- Nossa, que legal. E como faço para colocar meu nome na lista?
- Senhor... hmmm... você recebeu o SMS do barman?
- Ah, é uma festa privada? Tudo bem, desculpe-me...
- Não senhor, a festa não é privada, mas para entrar, precisa receber um convite do barman.
- E como eu falo com o barman? Olha, eu sou brasileiro e fiquei interessado em ir nesta festa brasileira.
- Passe-me seu nome e telefone que eu passo para o barman. Se ele te enviar um SMS de resposta, seu nome foi confirmado na lista.

Não recebi o SMS, portanto, não fui na festa. Salve simpatia. Festa brasileira sim, brasileiros não.

14.9.06

Aconteceu em Dubai III

Essa quem me contou foi o Mark, neo-zelandês casado com uma brasileira que está aqui em Dubai desde maio. Quando chegou por aqui, o assunto nos jornais era a história abaixo:

Era uma vez um casal de jovens emiratis. Ele, depois do cinema, decidiu deixar sua namorada em casa. Antes dela sair do carro, ele propôs algo muito imoral e ilegal para sua namorada: "vamos nos beijar?" Beijaram-se.

Neste exato momento, passou um carro da polícia na rua e deu a ordem para que descessem. Ele teve uma péssima idéia: fugir. Ele ligou o carro e fugiu, e a polícia foi atrás. Como ele não parou, a polícia viu-se obrigada a agir, e não hesitou em disparar 7 tiros no carro. Aí o jovem parou.

O policial perguntou:

- Vocês são casados?
- É... veja bem... estamos em vias de... quero dizer... estamos preparando ainda nosso casamento.

Não precisaram dizer mais nada. Eles foram levados para a delegacia, onde foi feito o casamento dos dois e, em seguida, foram levados às suas devidas casas.

É isso aí, pessoal, isso é Dubai, cidade das histórias bizarras. Dubai Futebol Clube!!!

13.9.06

Da série "piadinhas cretinas"

Dizem que o Guns'n'Roses passou por aqui e cantou:

"Uóóóóóuôuôu
Sweat child o'mine!!!"

Crime é...

... não ser feliz. Então alegria, alegria.

Tudo bem, tudo bem!! Essa foi clichê total, mas dane-se.

Imoral e ilegal

Alguns, desavisados, poderiam achar estas ações da polícia uma invasão impensável de privacidade. Mas o que ocorre de fato é que estas têm o respaldo população. Na verdade, mais do que respaldo: ouço por aqui que muitas vezes a polícia age desta forma para não cair em descrédito perante às críticas dos mais exaltados.

A carta de leitor enviada ao Emirates Today, comentando uma reportagem sobre o bloqueio de um site onde jovens de Dubai postavam fotos imorais tiradas às escondidas de cofrinhos de mulheres pela cidade, ilustra bem isso:

Em resposta à "Etisalat bloqueia website com fotos imorais de mulheres", (Emirates Today, yesterday), eu considero tudo legal e correto, mas como pode alguém poder acessar livremente os sites indianos de serviços matrimoniais nos EAU? Por que eles não são bloqueados?

Não são eles ilegais e imorais também?

Caríssimos, isso é Dubai, Dubai Futebol Clube. É preciso ficar de olhos e ouvidos bem abertos, e aprender a respeitá-los. A recomendação que leio em um livro é: evite forçar uma situação tal que obrigue a polícia a agir para não cair em julgamento popular. Isso será válido especialmente a partir do final do mês, quando começa o Ramadan.

Aconteceu em Dubai II ou "lendas urbanas"

Conto para vocês agora outra história que ouvi esses dias:

Era uma vez um casal, que foi para uma casa noturna e, na volta, na hora da despedida, no estacionamento do prédio, "empolgou-se". Na hora da "empolgação", apertou sem querer a buzina do carro. Um morador do prédio, defensor da moral e dos bons costumes, chamou a polícia.

O casal, apanhado ainda dentro do carro, levado à delegacia, negou a acusação. Foram então submetidos a um exame de corpo delito, que comprovou que o casal realmente havia tido uma relação sexual. Foram presos, e ficaram na cadeia por 2 meses, até serem deportados...

Eu não acreditava nesta história, até ler a notícia abaixo. No Brasil, fazer sexo em locais públicos também não é permitido, mas duvido que a polícia iria tão longe para comprovar o "crime".

Aconteceu em Dubai

Essa saiu no Emirates Today de ontem (12/09/2006):

Homem diz que usou drogas na França

Um comissário de bordo apareceu ontem na Corte de Primeira Instância de Dubai acusado de usar drogas em uma escala na França.

Em 21 de junho, a polícia recebeu uma denúncia de que o canadense NS, 25, havia usado drogas e ele foi preso em Dubai. Um teste de urina também mostrou traços de uma droga em seu organismo.

Em uma audiência anterior, NS disse ao juri que sabia que é ilegal usar drogas nos EAU, adicionando que ele a usou em uma escala na França - três semanas antes de
sua prisão.

Ele explicou que seu trabalho o faz voar para várias destinações e que ele é uma pessoa com boa educação. Ele também disse ao júri que vive em Dubai com sua mãe e com sua filha.

O advogado de defesa disse ao júri que NS era inocente e que não deveria ser condenado, pois usou drogas fora dos EAU. Entretanto, quando ele foi preso, traços da droga ainda estavam em seu organismo. Ele também disse que o réu tinha uma mãe que necessitava de seu suporte financeiro.

O caso foi suspenso para permitir futuras deliberações.


Olha que interessante: alguém denunciou que o cara usou drogas, a polícia prendeu o rapaz e submeteu o sujeito a um exame de urina, para comprovar a denúncia. O rapaz alega que tinha usado drogas 3 semanas antes... na França. Por causa disso, está preso desde 21 de junho, e respondendo a processo.

12.9.06

Dubai "cool"


Fiz as pazes com Dubai, e um trato: eu finjo que sou turista e consumo; ela, em troca, acolhe-me.

Ontem fui a uma hora feliz de despedida de um portuga que está a voltar para a terrinha em um lugar cool (não necessariamente frio): o bar 360°, localizado nada mais nada menos que no meio do mar, de frente para o Jumeirah Hotel e para o Burj Al Arab (acabo de ler aqui que ele é mais alto que a Torre Eiffel). Local agradável, circular, com poltronas e puffs espalhados a céu aberto, é só chegar, esparramar-se e pedir sua shisha, caipiRinha (desse jeito mesmo, em português), ou água, se preferir.

Para chegar lá, é preciso atravessar o über luxuoso hall do Jumeirah Beach Hotel, onde os pobres passantes podem admirar coisas lindas que a high society compra: shishas cobertas de diamantes, cálices de ouro, obras de arte. No centro, uma mulher toca bossa-nova no piano, outra canta em inglês. Saindo do outro lado, um motorista espera para lhe conduzir em veículos elétricos através do pier até a entrada do bar. No caminho, gente importante estaciona seu iate para vir tomar uma coca-cola e relaxar. Estou no centro do mundo in: São Paulo, New York, Paris, Barcelona, Tokio, e Dubai.

Na som, músicas relaxantes para um chill out (?!). Definitivamente, o local mais agradável que visitei aqui até agora, o lugar perfeito para uma sauna entre amigos.

Fotos: obrigado, Google Maps!

10.9.06

Era uma vez...

... um rapaz que foi trabalhar em um país muito distante. Quando lá chegou, foi convidado para um "evento de apresentação da empresa". Ele ficou muito feliz, pois no último emprego, ele havia ficado muito triste, pois havia perdido um treinamento de Liderança, mas havia sido por uma boa razão.

O evento ia bem, como todo evento de apresentação de empresas deveria de ser, com direito a bolachinhas exóticas amanteigadas, chás do Ceilão (outro país distante), e pães da Conchinchina, quando finalmente apresenta-se uma mulher muito animada e sedutora e começa a dizer coisas muito bonitas: "você sempre pode se auto-motivar!". Nossa, mas como eu nunca pensei nisso antes? - constatou animado o rapaz, diante de um mundo de possibilidades que se abria a sua frente.

A mulher se apresentou, e melhor a empresa: era uma filial de uma companhia de capital misto sem fins filantrópicos, controlada majoritariamente por uma seita proveniente da Índia que expandia seus negócios neste país distante. A seita tinha um nome muito esquisito, que se escrevia com um alfabeto muito diferente. Aportuguesando-o, fica mais ou menos assim: "Éhrre-Agah" (não tente entender: na Índia há muitos idiomas, e muitos nomes impronunciáveis). Então ela apresentou slides e fotos de nuvens, e de um céu muito bonito, com um azul muito azul. E mostrou pessoas muito sorridentes: adultos, crianças e muitas mulheres, coisa rara por esse país. Todos tinham dentes muito brancos, como nenhuma escova ou tratamento dental proporcionaria. "Eu preciso ser feliz como essas pessoas!", pensou o rapaz.

Neste momento, ficou triste e entediado. Justamente neste momento, começou a pausa para o café. "Ei, senhor, você está bem? Você está com sono? Você está com fome?", perguntou uma garota, que apesar de solícita, não tinha o sorriso branco da foto. Era uma monitora da seita. A seita inventou uma coisa muito legal: carreira! Você começa como monitor, e um dia consegue chegar ao posto supremo de todos os postos: apresentador! Mas só sobe na carreira quem é ambicioso e segue atentamente as regras: não descuidar um só instante, observar, não deixar que as ovelhas - como são chamados os novos recrutas - se percam do rebanho. A fórmula é simples: demonstrar atenção, e criar um constrangimento para que a pessoa decida por ela mesma a aceitar as regras. E assim, foi com o rapaz, que logo voltou para dentro da sala, já conformado com seus dentes amarelos e sua desmotivação de ovelha nova despelada.

"Será que eu consigo me motivar?", penso ele, já dentro da sala, ansioso e curioso. A resposta estava por vir, pois começava o melhor momento da apresentação, o momento mágico da Revelação. A senhora animada e sedutora, ainda tomando seu Earl Grey do Ceilão, apresentou metodicamente o método, um mantra a ser proferido, o caminho único para se alcançar o êxtase:

- Vocês devem ficar de pé, respirar 4 vezes profundamente. Então, diga em voz alta, grite, olhando para cima: "Yes! Yes! Yes! Yes!". Vamos todos juntos!

E assim, a turba ruidosa começou a recitá-lo em uníssono, com as mãos cerradas, sorriso no rosto, e olhares para o céu:

- Yes! Yes! Yes! Yes!

Foi o delírio. O rapaz pensou em desistir, mas voltou atrás ao cruzar o olhar desaprovador da monitora. A senhora animada e sedutora deixou então sua chávena já vazia sobre a mesa ao lado e concluiu, mostrando racionalmente à turba ainda entorpecida por tantas revelações o porquê das coisas serem desta forma:

- Seguir este mantra é o único caminho para felicidade e realização suprema, o caminho para o único deus que existe: o deus Motivation.

- Ooooooooooooooooh.... - surpreendeu-se o rebanho com tão estrondosa revelação.

Alguém lá do fundo de súbito levantou a mão e fez uma pergunta que desencadeou olhares desaprovadores de todos os monitores e a ira da senhora animada e sedutora: "Senhora, este mantra é o mesmo que brain washing?"

A senhora não se rebaixou a dar uma explicação tão óbvia. "Como alguém tão estúpido poderia não ver uma coisa tão clara dessas? É claro que este tal de brain washing é mais uma invenção de céticos ianques dispostos a roubar o nosso mercado e a dispersar as ovelhas do caminho da verdade, a única que existe. Pior que eles, só aqueles que vendem a panacéia da reprogramação cerebral", pensou o nosso rapaz, em sintonia com os demais da sala.

Notem que nosso rapaz já pensa como um monitor, e mesmo sem receber ordens, tomou a liberdade de se juntar àqueles que expulsaram este herege da sala, a socos e pontapés. Mas o maior castigo que lhe foi imposto foi mesmo não poder ver a Prova Real, a solução da Equação Sagrada, o Segredo Supremo do Universo. Ele chorou desesperadamente do lado de fora do recinto, enquanto os demais saboreavam a cereja do bolo, ainda mais cereja e saborosa ao se saber que havia alguém do lado de fora desejando-a inutilmente, e ela estava ali, diante de seus olhos, tão tenra e luzidia... a senhora sacou uma flecha grossa e com fina ponta de aço e desafiou a sala:

- Vocês acreditam que é possível quebrar esta flecha apoiando este bico pontiagudo no seu gogó?
- Nããããããããããããããããão!
- Então toma!

A mulher se transformou. Fechou os olhos e abaixou a cabeça em silêncio. Respirou fundo 4 vezes, e rugiu de maneira imponente: "YYYYYYYYYYYYYYYeeeeeeeeeeesssssss!". Quando se viu, lá estava a flecha partida ao chão, nem uma marca no pescoço. Era a prova maior da existência e eficácia do Senhor Supremo Motivation.

O rebanho não se conteve. Alguns choraram, outros rolaram no chão em êxtase, outros ainda andaram de joelhos delirando. Mas não era o fim, a senhora queria mais:

- Vocês também podem quebrar a flecha! Não só podem como o farão AGORA!

Não houve tempo para a turba se manifestar: os monitores já alinhavam as ovelhas, para a Prova Real coletiva. O nosso rapaz desacreditou, sentiu pavor, mas achou melhor não ousar fugir: "os monitores são muito bravos, e só querem nosso bem", pensou. Contentou-se então com o último lugar na fila.

Chegou então o Momento. Respirou fundo 4 vezes. Proferiu o mantra, com os punhos cerrados e olhar para o céu (minto, para o teto da sala, mas viu ali o céu azul com lindas nuvens que havia visto na apresentação). Olhou para a flecha de ponta fina, representação da vida e da morte. Sentiu um súbito calor no peito, que foi subindo, subindo, subindo, e se concentrando em seu pescoço. O resto do rebanho, seus amigos companheiros, não o abandonou e vibrava junto: "Yes! Você consegue!!", "Yes! Você pode!". Prendeu a respiração e sem tirar o olho de seu alvo, destroçou-o com uma força que depois descreveu como "descomunal e milagrosa": o deus Motivation havia lhe dado as mãos e ele agora chorava confuso e comovido. Precisara sair de seu país para terras tão distantes para finalmente encontrar o que queria: a Verdade Suprema.

Êxtase geral. A senhora sedutora agora gritava e pulava nua pela sala, seguida por seus febris séquitos. Alguém rabiscou na parede: "Éhrre-Agah, o único caminho". Homens abraçados e suados (sim, fazia muito calor) gritavam: "Hei, hei, hei! Motivation é nosso Rei!!!".

Todos deixaram a sala lívidos e prontos para conquistar o mundo, e mal notaram o corpo maltrapilho que jazia no canto da porta. É o fardo que cabe aos incrédulos: desprezo, morte e esquecimento.

Garimpo Futebol Clube ou "Cidade dos Homens"

Só por curiosidade, saiu em um jornal aqui: Dubai tem 1.2 milhão de habitantes. A composição aproximada é a seguinte (eu sei, a conta não fecha):

- 800 mil homens
- 300 mil mulheres

Com isso, temos que a proporção homem : mulher é quase 4:1. Que nojo.

Tudo bem, uma parte expressiva destes 800 mil homens são trabalhadores das construções civis, excluídos que não participam de fato da sociedade (entenda-se da sociedade que vai a shoppings centers, cafés, e em casas noturnas ou restaurantes). Ainda assim, a realidade não é muito distante disso: hoje fui em um treinamento na empresa e a proporção era de 6:1. Mas aí, tudo bem: telecom é sempre assim, até no Brasil.

É arriscado "blogar" nos EAU?

Reportagem que saiu no jornal "7 days" daqui de Dubai, comentando o fato de 2 estudantes terem sido suspensos de suas aulas na Universidade por criticá-la em seus blogs... enfim, mais um absurdo de Dubai.

É bom ficar esperto e não escrever nada em inglês.

9.9.06

Religião e espaços públicos


É notável ver como a religião molda os espaços públicos e até decisões do Estado.

Em locais públicos, sempre se encontra salas de orações. Na torre em que trabalho, há 2 andares dedicados a salas de orações: o sétimo para as mulheres, e o sexto para os homens.

Em alguns banheiros, há inclusive lavadores para os pés.

Em tempo: vale lembrar que isso de certa forma também ocorre no Brasil e na maioria dos países católicos, ainda que sejam estados laicos: a igreja católica fica no centro da cidade. É que aqui, como não estamos acostumados, estes aspectos do Islã saltam mais aos olhos.

No aeroporto de Schiphol, na Holanda, também havia uma área específica para orações, o meditation centre, mas era um centro ecumênico. Cada um reza de acordo com sua crença. Creio que aqui talvez não seja uma boa idéia um não-muçulmano entrar nestas salas de orações.


Há outros aspectos interessantes também: muçulmanos têm direito a empréstimos a juros mais baixos no Slamic Bank. Mas isso já é outro assunto.

Horizonte do desejo: bebidas alcoólicas


Aqui em Dubai, bebidas alcoólicas não são vendidas em lojas e supermercados, mas apenas em casas noturnas e casas especializadas.

Podia ser pior: em Sharjah, emirado aqui do lado, bebidas alcoólicas são sumariamente proibidas. Simples assim.

Podia ser melhor: ouvi dizer que há um outro emirado em que o comércio de bebidas é liberado.

Que papo de usuário esse. O fato é que hoje conheci uma dessas lojas aqui em Dubai: fica escondida em um recinto sem janelas e com portas fechadas sem propagandas do lado de fora do Mall of the Emirates. Tem tudo, e a preços bem mais razoáveis que os preços das casas noturnas, mas para comprar, precisa ter carteirinha. E para conseguir a carteirinha... olha só o que precisa:


  • carimbo e carta da empresa, atestando vínculo empregatício (fácil, mas constrangedor)

  • cópia em meu nome de meu contrato de aluguel

  • 150 dirhams




Aí o bicho pegou: como vou morar em um quarto (sim, fechei com o árabe, mas em outro post), e isso é ilegal por aqui, então não tenho contrato. A solução á pedir um comprovante de propriedade para o dono da casa e também uma carta de "não objeção" para ele citando meu nome. Como o dono da casa é muçulmano, vai depender do humor dele.




Em outras palavras, se eu quiser tomar uma cervejinha no sossego do lar, eu preciso pedir permissão para minha empresa e para o dono da casa onde vou morar.

Que invasão de minha vida privada. É tão constrangedor quando pedir permissão para usar cueca do Mickey...

Passeio nas dunas: mais vídeos

Com vocês, mais dois vídeos, estes ainda sobre o passeio nas dunas:

Ainda não descobri um jeito para colocar legendas nos vídeos ...

Táxi Futebol Clube

Vídeos, vídeos, vídeos!

Vídeos de algumas conversas com taxistas andando por Dubai:


Lamento, mas não consegui colocar legendas. Alguém conhece algum programa que faz isso? Sugestões são bem-vindas!

8.9.06

Favela chic!


Luz no fim do túnel: acabo de encontrar este flyer, informando de uma "balada com música eletrônica brasileira" em Dubai. E o melhor: é do lado da empresa! Começa às 18h do próximo dia 15 e vai ser no terraço de um hotel ao lado do trabalho.

Embora eu não goste muito desta idéia de ficar tentando transformar o país que me abriga em meu país, é um alívio ter pra onde correr de vez em quando, né?

Abandono Futebol Clube

Cena comum nas ruas de Dubai: um carro coberto de poeira parado há dias, semanas no mesmo lugar. Esse aí ao lado já está assim desde que cheguei em Dubai.

Certamente, o carro ao lado é de alguém que saiu de férias por alguns meses, ou no pior caso, que estacionou seu carro aí e fugiu do país.

Ouço por aqui que isso é comum: o chefe de família perde o emprego e não consegue mais honrar o financiamento da casa, do carro, ... então saem às pressas do país, deixando para trás carro, cachorro, gato... e uma enorme dívida no banco.

Dizem também que o número de animais abandonados perto do aeroporto é muito grande: as famílias quando chegam ao aeroporto para irem embora e se deparam com as altas taxas para levá-los, e simplesmente os abandonam à própria sorte.

Momento gourmet: comida "típica"



Especialidade da casa, o melhor prato que já comi no hotel, numa noite dessas: burned rices with lazy capsycum.

7.9.06

Consumismo S.A. 2: horizonte do desejo


Quando comprei minha bicicleta no último fim-de-semana, entrei no elevador do hotel, auxiliado por um funcionário indiano que espantado, disse: "É mais do que eu posso comprar!". Senti um estranho remorso.

Hoje ao sair pela garagem do hotel, vejo estacionados na garagem dois carros: um Rolls Royce e uma Ferrari. Ambas pertencem ao mesmo dono. Olhei para eles e espantado, disse: "É mais do que eu posso comprar!".

Olhei novamente para a bicicleta: Remorso?! Que pensamento bobo, esse. Pedalei feliz até o trabalho, sem culpas ou desculpas.

Consumismo S.A.


Chega de tristeza: comprei uma bicicleta.
Agora Dubai vai ficar pequena!

Da série "piadinhas infames"



E o cliente entra na loja e diz: "Quero meu dinheiro de volta! Esse computador é uma bomba!"

Tempestade de areia: antes, durante e depois

Finalmente, consegui organizar minhas coisas para postar umas fotos. Esta aqui foi tirada um dia antes, de manhã.



Nesta aqui dá pra ver a nuvem se aproximando...



E aqui, no meio da tempestade. E o mais interessante: era areia.

5.9.06

Tempestade de areia

Neste exato momento, presencio um fenômeno da natureza que realmente desconhecia: uma tempestade de areia.

É engraçado, pois sempre que pensava em uma tempestade de areia, pensava em um ventinho sujo, mas o que vejo aqui é algo impressionante: de repente, tudo escureceu, mas permaneceu em silêncio.

Os ocidentais foram todos para a janela, e os árabes permaneceram sentados, rindo. Ficou tudo cinza lá fora, ou foi bege? O fato é que uma nuvem de areia de algumas centenas de metros de altura cobriu a paisagem e já não vejo nada lá fora: nem o prédio do Hard Rock Café, tampouco os pilares da construção ali embaixo na esquina.

Neblina! Encontrei a palavra. Parece uma neblina, só que é areia.

4.9.06

Limpinho

Saiu meu visto de permanência. Isto significa muitas coisas:

- já posso abrir conta em banco;
- já posso alugar uma caixa postal;
- já posso entrar pra auto-escola, para tirar carta de motorista-poluidor;

E o mais interessante: significa que não tenho AIDS nem tuberculose (se tivesse alguma destas doenças, seria deportado).

Fim da lua-de-mel ou "Chata Tower"

Primeiro foi a Etsalat, provedora quase única de acesso à internet aqui em Dubai, a bloquear o Skype. Depois, foi a empresa aqui, que não bloqueia nada, que o bloqueou. Agora, foi a vez da empresa aqui bloquear o MSN.

Desta forma, eu e mais oitenta por cento da empresa perde mais um meio de comunicação com sua terra natal, parentes e amigos.

Qual será a próxima?

3.9.06

Noites de hotel – 3: a festa das mulheres de preto

Dica: comece a ler pelo Noites de hotel - 1

Dubai, Coral Boutique Hotel, quarto 403. Hoje é sábado (o domingo árabe), são 23h. Saboreio novamente o chá feito pela senhora gorda auxiliada pela sua horda de amigas de preto. Hoje foi mais um dia de aula, o assunto “como fazer negócios com árabes”.


Acordo cedo, antes de lavar o rosto, envio uma mensagem ao sr. Fanzil. “Sr. Fanzil, estou com o dinheiro e quero me mudar hoje”. Por volta do meio-dia, ele me liga: “Ok, vamos marcar um encontro. Fica marcado para as 18:30h. Eu te ligo antes de sair daqui”. Noto algo interessante por aqui: no cartão das pessoas, não é incomum as pessoas não colocarem e-mail. Tudo aqui se resolve por telefone ou no tête-à-tête. E tudo muda tão rapidamente que o e-mail é praticamente inútil: é preciso ligar de hora em hora para confirmar o compromisso firmado para o final do dia.


Subo ao terraço: uma névoa cobre a cidade, quase não vejo a Burj Al Arab e a sensação de calor é ainda maior. Encontro uma senhora brasileira, gerente do spa do hotel, que está aqui há 4 anos e meio. Ela fala duas frases em português e já volta ao inglês. Conta que ficou aqui 4 anos sem voltar para o Brasil. “Tenha calma, com o tempo a tristeza passa”, diz ela.


Pausa para o almoço com o Ghisi e com a Ana, no Ibn Batuta Mall. Qualquer hora conto que foi esse filho Batuta. Shopping center de igual tamanho ou maior que o Mall of Emirates. Na vitrine, promoções: um terno risca de giz por 100 dhs, na Pierre Cardin, 3 camisas manga longa por 80 dh. Compulsão... resistência. Eu já tenho camisa. E por que um terno para um calor de 45 graus? Prefiro um traje típico local. Pensando melhor, eu não quero nada. Voto de pobreza contra o consumismo puro e simples.


17:30h. Volto correndo para casa. Eu marquei às 18:30h e não posso me atrasar. No caminho, um taxista de Bangladesh que está aqui há 19 anos dá-me conselhos com seu inglês da maneira que pode: “Vant money, or vant tings? I’m here money. Vant money, no luxury cars. Vant luxury cars, no money. Vant night, no money. Vant money, no night. Vant apartment? No money. Vant money? Room Sharjah 5 friends.
I’m here money. I send money family Bangladesh. Return each 2 years”. Para se levar uma vida com o padrão mínimo de classe média brasileira sem confortos aqui, é preciso um salário de pelo menos 8 mil dh. Os rendimentos do taxista aqui devem girar em torno de no máximo 3.000 dh/mês. E ele ainda manda dinheiro para a família em Bangladesh... penso nas bicicletas que quero comprar, nas camisas da Pierre Cardin, nos lençóis de fio egípcio, no celular com palm top, câmera, wi-fi e GPS, ... um sentimento de culpa enorme me corrói por dentro. Êita mundo injusto.

19:30h. Já estou em casa, já enviei mensagem ao senhor Fanzil. Nada. Agora ele me liga e diz: “você vai ficar por aí? Preciso resolver uns problemas e te ligo logo em seguida.” Uma das senhoras de preto dança sapateando sobre a mesa da sala, enquanto as outras batem palma no ritmo e fazem um barulho ensurdecedor com a língua. Resigno a lhe responder: “Ok, take your time”. Esta é uma das frases mais ouvidas por aqui, junto com a expressão “Inch’Allah” (se Deus quiser). Abro o livro que ganhei e ele é certeiro:


“Paciência e flexibilidade, mais do que qualquer competência técnica, são as primeiras qualidades necessárias a quem deseja trabalhar ou fazer negócios com países do Golfo.”


Ele vai mais além:


“Muitos árabes atrasarão ao máximo a resolução de certos assuntos até que o humor, momento e o lugar conduzam a ele. (...) O efeito, em termos ocidentais, é que um atraso grosseiro pode perdurar até que chegue o momento correto.”


20:30h. Peço conselhos à inglesa por SMS. Ela responde: “Ele é um loser. Ligue insistentemente para ele. Não pague pela cama.” É sempre bom ter um amigo negociante por perto para pedir conselhos. Eu me sinto uma criança de 5 anos de tão inocente. Volto a ligar para o sr. Fanzil, que simplesmente não atende o telefone. Envio mensagens, nada.


22:30h. Ainda nada. O telefone toca, é o Anderson, o brasileiro. Ele pede desculpas por não ter saído comigo no dia anterior, e pergunta insistentemente se estou bem - quem está por aqui, sabe como é que é. “Vamos à Peppermint?”. Inch Allah eu irei. A algazarra das senhoras de preto e de dentes podres aqui na sala não me deixa pensar. Uma delas, a senhora Indignação, chora de tanto rir. Começo a entender as coisas, mas talvez já seja tarde. É preciso fazer um teatro, ligar insistentemente, mostrar descontentamento, para que a pessoa entenda que o momento inadiável de resolver o assunto chegou.


Subo ao terraço para a espairecer, e converso com o funcionário Rachid. A conversa em inglês corre com dificuldade, então pergunto de onde é. Marrocos. Ele fala francês também e a conversa agora transcorre um pouco mais solta, embora sua língua materna seja mesmo o árabe. Rachid está fora de seu país desde 81, e conta com ar duro o último encontro com a família, há 1 ano. “Há novos membros na família que não conheço, e não reconheci meus irmãos...” Ploch! A gorda maior de todas pula na piscina de roupa e tudo, enquanto as demais senhoras dançam de pé sobre o muro, fazendo coreografia. Senhor Rachid, por favor, vamos falar de coisas mais amenas. Descubro então que o ônibus que vai ao centro passa de hora em hora ao lado do hotel, e custa 2,5 dh, contra 30 dh de uma viagem de táxi, e que a água do mar hoje estava a 45 graus. “Não dava para entrar, eu testemunhei!”, disse ele.


23h, voltamos ao momento presente. Talvez seja tarde já. O sr. Fanzil decididamente não virá, e lançou por água abaixo todo o meu planejamento de pegar a chave da casa as 18:30h, dar uma olhada no quarto, e quem sabe, tomar um chá em algum estabelecimento perto da praia, encontrar um acesso à internet e me teletransportar daqui para outro lugar. Agora quem está sobre a mesa sou eu, e as senhoras de preto fazem uma ciranda a minha volta, rodando em círculos de mãos dadas cantando: “otário, otário, otário...”


Desisto de sair, tomo um banho, deito na cama. Idéia: ligar para o exterior. Consulto as tarifas, surpreendentemente o preço é barato. Ligo uma, duas, três vezes. Não atende. A senhora Solidão, a gorda que está aqui ao lado, tem uma reação surpreendente: começa a crescer, crescer, crescer, e já ocupa todo o volume do quarto e me amassa contra o colchão. Mais uma idéia: escrever. Abro o notebook e fuzilo as teclas. Já não penso mais em nada, apenas escrevo. Aos poucos a gorda volta ao seu tamanho normal.

3h. A senhora Solidão foi vencida pelo sr. Cansaço, que está de pé sobre minhas mãos e apoiado sobre minhas pálpebras. Por fim, ele fecha o computador, deixa-o na escrivaninha ao lado, e apaga a a luz.

Noites de hotel – 2 ou balada solitária em Dubai

Troco de roupa. Em homenagem às senhoras, roupa preta. Tomo meu sapato preto, meu único sapato, ainda branco de pó que vou cuidadosamente tirando com uma escova-de-dentes velha. Lustro com um pano com grande zêlo. Hoje eu não quero ser barrado pois seria o fim. A mulher de dedos gordos continua me observando agaixada sobre a cabeceira da cama:

- Aonde vai?

- Não interessa.

- Vou junto.

- Sua vadia.


Garganta com nó, ansiedade, respiração difícil. Pego um táxi. De onde? Paquistão. Quanto tempo aqui? 2 anos. O taxista não quer conversa, a gorda velha (o vestido esconde, mas ela é gorda) me olha novamente e solta uma enorme gargalhada, deixando a mostra seus dentes podres e exalando um bafo sufocante.


Comparação proibida para quem mora fora: achar que sua terra natal é melhor do que a que te recebe. Quando vejo, já comparei: no quesito balada, São Paulo deixa Dubai no chinelo. Em Dubai, só conheço a sofisticada Vila Olímpia, ou os bares de shisha. Como não fumo, fico ainda mais restrito. São Paulo possui a Vila Olímpia, a Vila Madalena, os bares de Moema, Itaim, os forrós para rico ou pobre, os bares de rock no Bixiga, os botecos na esquina, as baladas alternativas na Augusta, as festas de aniversário relâmpago no terraço de algum apartamento ou em alguma casa em Pompéia que alguém avisa de última hora por uma mensagem no celular, os pubs, as casas de samba e choro. Ah, as casas de samba... ainda que eu fosse sempre apenas no Ó do Borogodó ou mais recentemente no Teatro Mars, a opção existia. A gorda não contém seu riso e cozinha meu fígado com um maçarico: “isso, otário, continue assim”.


Chegamos ao Al Madinat. O táxi ficou por 11 dirham. Taxista não gosta de corrida curta. O problema é dele. O Al Madinat é um complexo turístico ao lado do famoso hotel Burj Al Arab que imita uma cidade árabe medieval (medinas são para o mundo árabe tal qual os feudos ou burgos são para as cidades européias). A cidade é enorme e compreende um zouk (mercado),um Teatro mais de uma casa noturna, um parque aquático e um hotel 5 estrelas, com jardins e lagos artificiais de proporções descomunais. Sigo então para a Trilogy.


Logo na entrada, os Porsches e Rolls Royces me adiantam que estou talvez no lugar mais luxuoso de Dubai. A hostess me aborda:


- Are you alone?
- Yes, I’m lonely, babe.

Sou liberado. A entrada custa 60 dh. Entro. A Vila Olímpia é aqui: uma casa noturna de 2 andares, 3 ambientes, com mezaninos com vista para a pista principal no centro da casa. Os tapetes que cobrem o chão e as cortinas não me deixam esquecer que estou em um lugar muito luxuoso. Estou in, dentro do circuito fashion internacional New York, London, Paris, Tóquio, Barcelona. A música é o dance, padrão internacional pasteurizado de música em casas noturnas deste gênero. As pessoas fazem as mesmas caretas e os homens de gel no cabelo e óculos degradês rebolam e balançam as mãos do mesmo jeito que em qualquer casa noturna similar em qualquer lugar do mundo. Ando, ninguém conhecido. Ao meu lado apenas a senhora gorda e velha e de dentes podres que insiste em sussurrar em meu ouvido com seu bafo de chá de boldo com fel.


Uma observação: aqui não há emiratis, com seus trajes tradicionais, tampouco mulheres de preto cobrindo o rosto, além da senhora gorda e fedida ao meu lado: é um local estritamente para turistas e expatriados. O local é caro, mesmo para padrões europeus. A suspeita se confirma quando peço uma cerveja: uma Heineken Long Neck custou 30 dh. A minha volta, turistas europeus fashion em roupas e penteados exóticos esbaldam-se em bebidas igualmente exóticas. Garotas magras de mini-saias olham sorridentes para os rapazes exóticos que bebem bebidas caras. Prostitutas? Sinto, a princípio, medo: se existe um lugar para um terrorista suicida resolver se explodir, este lugar é aqui. Felizmente, uma rápida observação do contexto político local mostra que esse não é o caso aqui: os árabes locais vivem muito bem aqui, e são os principais beneficiados da presença de tantos estrangeiros, seja por controlarem os rentáveis negócios imobiliários, os negócios turísticos, e tudo o mais que o expatriado necessite. Uma bomba aqui seria a sua ruína.


Caminho de um lado para outro. A casa aos poucos vai se enchendo. A proporção é de 3 homens para cada mulher. As mulheres que chegam, em geral, chegam acompanhadas. Olho para o relógio, o tempo não passa. Olho no celular, ele não toca. Agonia, aperto no peito. Ninguém conversa comigo. Encosto em um canto, e de repente, alguém me aborda:


- Perdão, senhor, você sabe se aquelas cadeiras ali estão livres para o uso ou é necessário reservá-las?


Só entendo a pergunta quando noto que o uniforme de todos os funcionários da casa também são pretos. Neste instante, a senhora gorda ao meu lado passa o dedo indicador entre os dedos do pé direito suado em contato com sua surrada sandália de couro e de um só golpe o enfia diretamente em minha garganta. Enjôos.


Olho no celular, ninguém me ligou. São 11:30h. Ando, subo, desço e torno a subir a escada. O tempo não passa. 0h, olho no celular. Para minha penúria, uma chamada perdida de um número não identificado. A senhora de preto agora pula sobre meus ombros e o fardo torna-se insuportável. Vou me embora. Desço então a escada, a caminho da saída.


Às vezes o acaso faz com que certas pessoas tenham seus momentos de iluminação, e sem saber, salvam o dia de alguém que mal conhecem. Na escada passa por mim um casal, e ouço um grito: ‘Hei, pá! Estás sozinho? Então venha ter com a gente, ó pá!” É um português e uma portuguesa, consultores Siebel (qualquer hora explico o que é isso) que sentam logo a minha frente na empresa. Nunca nos conversamos, eu nem sei seus nomes, mas mesmo sem me conhecer, chamaram-me para ir com eles. Tchau, velha gorda.


Alívio na noite morna de Dubai. Agora sinto-me em São Paulo ou Aveiro. Converso em português. Mesmo sem nada falar, compartilhamos alguns valores e um imaginário, o que traz uma sensação de conforto inigualável. Tento disfarçar a minha alegria... pergunto então seus nomes: Olindo, que já está há 1 mês aqui, e Sofia (pronuncia-se ‘S’fííía”), que como eu, está há 2 semanas. Eles são de Lisboa. O Olindo já é mais experimentado, já trabalhou por um ano e meio em Ryadh, Arábia Saudita. “Oh pá, pur acaso, gustei muitu.”. Lá, se você entra em crise, não há pra onde correr: não há vida noturna, não se vende bebidas alcoólicas, nada.


Olindo compra uma água. A garrafa parece um vidro de perfume, 500 ml custaram-lhe 15 dh. “Na semana passada, paguei 130 dh para entrar. Isso tem a ver com o DJ que toca na casa”. Que horror.


2h da manhã. Vamos embora. Na saída, outro casal português aparece, vindo de outra balada localizada também no Al Madinat. O local é maravilhoso, e o Olindo bem o define: “É o lugar perfeito para se passar a Lua de Mel dos sonhos”. Perfeito. Lua-de-mel sim, sair sozinho para conhecer gente, não.


Olindo deixa-me no hotel, agradeço insistentemente pela companhia. A velha gorda já deve estar lá em cima me esperando, mas possivelmente vai me deixar dormir.

Noites de hotel – 1

Quinta-feira, fim da segunda semana de trabalho, semana em que a euforia da chegada e a “Lua de Mel” começa a dar lugar à vida cotidiana. Começa, de fato, a vida no estrangeiro.


19h. Chego ao hotel. O centro da cidade está a 20 km daqui, então o roteiro pós trabalho é: hotel – Mall of the Emirates – hotel. Faço a janta, ligo a TV: na BBC e na CNN breaking news. No Discovery Channel, o leão mata suas habituais zebrinhas. As zebrinhas morrem sem saber que viraram estrelas de TV. Em um canal árabe, vejo um jogo de futebol árabe, tão ruim que me faz lembrar os jogos da Inter de Limeira. Em um canal de música (árabe), uma garota (árabe) canta uma música triste (em árabe) com imagens de crianças feridas e o Líbano destruído ao fundo... bola pra cima, vamos lá, mostre-me algo mais animado, você consegue. Encontro outro canal de esportes: uma emocionante corrida de carruagens de cavalo com obstáculos. No canal seguinte, uma animada partida de golf. O canal seguinte é justamente o que eu preciso, um Fala que Eu te Escuto muçulmano: as pessoas ligam e um barbudo formula respostas divinas... em árabe. Desligo a TV.


Abro a janela, janto olhando os carros passando na Sheik Zayed Road, o bochorno noturno invade o recinto. Olho para a sala e no sofá estão sentadas algumas senhoras de preto,com vestido longo até o pé. Elas me olham e riem sarcasticamente: são as frustrações da semana. A mais da esquerda, a diarréia que me acompanha há 3 dias (desconfio da água destilada vendida nos supermercados e restaurantes), a do meio, a dificuldade para fechar negócio com o árabe, a da outra ponta, a internet censurada, a dificuldade de comunicação. Na cadeira em frente, está o meu celular que pifou, na outra, o novo celular, o mais sem-vergonha que encontrei pra vender. Ainda há outras, pelo tamanho se vê que são menores, e se escondem pelos demais cantos e móveis do sala, outras insistem em subir em meus ombros, puxam meus cabelos até caírem.


Volto à pia, lavo a louça. Volto à sala, peço licença às senhoras e sento. O que fazer? Silêncio. Apenas os risos das senhoras Frustrações. Vou à mesa e busco referências: um livro, um perfume, uma foto; um classificados de jornal. Ansiedade. Idéia: o telefone! Tento um, dois, três números em vão. Penso em internet: não, não dá. Nesta hora, batem na porta, é mais uma senhora de preto, a maior de todas, convidada das demais, freqüentadora assídua das casas de idosos, que me faz agora uma visita. Ela me dá um abraço apertado: é a solidão. Ela segue para o fogão, esquenta água e me faz um chá. Chá de boldo com fel.


Vou ao banheiro – agora é a senhora Solidão que me acompanha – tomo banho, ponho pijama, telefono novamente, em vão. Outro abraço apertado, abraço azedo, abraço amargo. Deito na cama, tento ler, em vão. Será que aqui há CVV Samaritanos? São 10h, apago a luz. Ouço o coro de risos. A Solidão agora me observa de cima pra baixo, agaixada, em cima do canto esquerdo da cabeceira da cama. Fecho os olhos. Cadeiras se arrastam no quarto ao lado, carros passam na Sheik Zayed Road: a vida prossegue lá fora. São 10:02h. Respiro fundo, o ar entra apertado no peito. São 10:03h. Algo cai sobre o meu rosto: abro os olhos, é esta senhora de mãos e dedos gordos e unhas grandes pintadas de preto que abre a mão e joga sobre mim areia do deserto e susurra “você está só... você está só... você está só”. São 10:04h. Acendo a luz: pra mim chega.