31.10.06
Por falar em Brasil e corrupção...
É incrível a pertinência das palavras escritas há 70 anos atrás e que ainda hoje permanecem tão atuais. Convivendo ao lado de gente de outros países e podendo comparar o seu comportamento com o de brasileiros (e portugueses e espanhóis, também citados no livro) em determinadas situações, é como se o autor estivesse aqui do lado dizendo: "Viu?! Eu não falei?"
Fica então a humilde dica de leitura do livro, que é muito bom. Macunaíma, de Mário de Andrade, também pode ser outro bom passatempo.
Dubai em números: o mercado de telefonia móvel
No Brasil, a penetração é de 51,26 celulares para um grupo de 100 habitantes (fonte: http://www.teleco.com.br/ncel.asp).
Conclusões:
1) Para a nova operadora, sua entrada no mercado dos EAU será um desafio e tanto. Precisará de bons argumentos para convencer seu público-alvo a trocar de número de celular;
2) Dada a baixa penetração (em outras palavras, a baixa quantidade de habitantes com celulares na população), à primeira vista, Brasil e África são potenciais mercados a serem explorados. Todavia, essa capacidade dormente de crescimento esconde-se atrás uma barreira intransponível, advinda da triste realidade: esses quase 50% da população é a parcela de baixa renda, com baixa escolaridade e cujas necessidades diárias mais urgentes estão muito aquém das facilidades do mundo moderno - celular, computador pessoal, internet, internet banda-larga, TV a cabo, etc. E o debate pré-eleição também ficou aquém das necessidades do país, resumindo-se em tentar demonstrar quem é o menos permeável à corrupção.
O senhor solene, o guarda-chuva, o transeunte desconhecido e o veículo que passa
Ambos se deparam: impasse no meio da rua. Ambos fazem menção a se abaixar, mas o senhor bem arrumado e prevenido dispara uma seqüência de procedimentos que aturdem ao seu parceiro de circunstância: olhando nos olhos, abaixa e toma o guarda-chuva, colocando-o entre as pernas. Corrige a posição da gola de sua camisa, acerta a gravata, ajeita o terno verde e os óculos, toma o guarda-chuva e o coloca em seu devido lugar – debaixo do braço, como uma baguete. Posiciona-se hirto diante do espectador estupefato, pende a cabeça para a frente e diz levantando as sobrancelhas com a solenidade de quem ensaiou por horas o que dizer:
- Pardon, monsieur!
Um veículo se aproxima da faixa de pedestres, reduz a velocidade e aguarda o desenlace da situação. Cumprimentos subentendidos entre cabeças que pendem mais uma vez para a frente e para o lado com um sorriso gentil e uma despedida não menos solene com a voz grave de quem acordou há pouco:
- Bonne journée.
O senhor solene segue seu caminho, talvez com o contentamento único de quem recupera algo perdido e que não possuiria se não houvesse derrubado seu guarda-chuva - que não portaria se não houvesse reparado na chuva fina que ia e vinha ao sair de casa - diante do transeunte desconhecido. Este, por sua vez, continua também sua marcha, ainda aturdido por tamanha solenidade, perguntando-se inutilmente se o guarda-chuva caíra por acidente ou se fora lançado propositalmente ao chão: mesmo que a resposta a sua infrutífera paranóia pareça mais do que óbvia para um leitor menos atento aos detalhes, ele, desconfiado, nunca a saberá, pois perdeu a chance de perguntar ao protagonista que nunca mais verá. Oportunidade que se esvaiu no tempo, como a folha seca desprendida de uma árvore que o vento levou para longe até se perder no horizonte, misturada e confudida a tantas outras folhas secas, ou como a gota de chuva que caiu momentos antes e deixou de existir, tornando-se parte de um todo maior que era apenas uma poça d’água ao lado do guarda-chuva caído ao chão.
E o veículo apenas segue em frente pela manhã escura européia de fim de horário de verão, como haveria de ser.
A verdadeira Dubai
Vai aqui então um dos melhores acervos fotográficos disponíveis na rede sobre esta cidade: True-Dubai, criado por um casal que vive por aqui.
O acervo é muito completo: áreas da cidade organizadas em ordem alfabética. Eles se deram ao requinte de ir de helicóptero fotografar áreas de difícil acesso, como o arquipélago The World.
Sheik Luís responde
Salut l'ami ! Cool ton blog, même si je comprends pas tout ! C'était un super séjour qu'on a passé à Nice. Mets les vidéos en ligne, il y avait à Antibes d'autres personnes qui ont vu les 2 sheiks et qui m'ont demandé la vidéo ! T'es célèbre ici ;-) Tu seras toujours le bienvenu dans la région ! A bientôt à Dubai Remy
Salut mec!
Alors, quelque chose que tu comprends. Regarde, j'ai vu un gars ici habillé tout en noir. C'est une question de trouver oú on peut l'acheter, ok?
Sur mon passage à Antibes... attend, mec. J'éspère que jusqu'au weekend je puisse en écrire un peut plus et aussi assembler un video des sheiks... on va gagner le Festival de Cannes, tu vas voir!!
30.10.06
É festa!
29.10.06
Passeio pelo deserto
O guia, Shah Mohamed, é filho de paquistaneses nascido em Dubai, e fala árabe, urdu, pashtu, inglês (com seu característico sotaque) e um pouquinho de farsi (persa).
Por fim, o tradicional jantar no acampamento com dança-do-ventre e shisha. Tirando a pimenta, nada mal.
Dubai High Society: Limeira invadindo o Golfo
Pavanelli e Maurício | Miguel, Vítor, Anderson e Willian |
Eu e Vítor |
Fatos cotidianos
Era uma vez uma limeirense que veio pra cá com o marido para acompanhá-lo em uma feira e, em uma entrondosa festa de comemoração de aniversário de outro brasileiro no 360, ali no meio do mar entre o Burj Al Arab e o Jumeirah Beach Hotel - festa que quase comprometeu as estruturas dos dois hotéis e causou um mini-maremoto - entre uma bebida e outra, perde a carteira, com todo o seu dinheiro.
No dia seguinte, ressaca e desespero: e agora? Simples: liga então no hotel, setor de Achados e Perdidos. “Sim, encontramos a carteira.”. A dona da carteira vai até lá e não apenas encontra a carteira, mas todo a sua valiosa bufunfa dentro! Disseram que a dita cuja foi encontrada na praia. Ela não foi à praia. Vai ver que foi o mini-maremoto que a levou do 360 até lá. Não interessa: o importante e interessante é que a carteira foi devolvida ao seu dono intacta. Ninguém mexeu no dinheiro. A dona ficou feliz, e deu uma gorjeta para o cidadão. Venho a saber que com a pequena gorjeta, o feliz funcionário pediu demissão e faz planos de abrir uma quitanda no deserto. Na quitanda haverá também, lógico, uma sessão de Achados e Perdidos.
Isso também é Dubai, Dubai Futebol Clube.
26.10.06
Viena-Dubai: o corredor hermético
- Oooooooooh, ai vent tu Barcelona dis víkend. It vas rrrriiiiiili guuuuude! – ele dizia “rrrrriiiiiiili” em tom mais agudo, incompatível com sua voz bruta e rústica e com a cabeça levemente inclinada para cima e com os olhos olhando o máximo possível para o alto. Ele diz isso para seu amigo que também usa bigode e que o ouvia com o mesmo entusiasmo, soltando pequenos gritos agudos de êxtase tombando a cabeça para trás girando os olhos ao máximo para cima.
Os poucos fios grisalhos em sua cabeça raspada e sua barriga sobressalente indicavam que já passava da meia-idade. Óculos quadrados, coturno preto, cinto metálico em estilo punk que segura a barriga sobre a calça justa de tecido plástico brilhante que deixa o bumbum arrebitado e camisa preta colada davam-lhe um ar moderno e andrógino (não confunda com andrógeno). Apesar de seu forte perfume europeu, essa nuvem de odores deixava um fundo que não era outra coisa senão curry. Por trás de toda modernosidade e de seu estilo europeu, distinguia-se bem o que é e o que está. Por mais que esteja europeu, sempre será em essência o mesmo garoto que balança a cabeça para os lados quando diz sim e que um dia vivia com a família nos subúrbios de Nova Delhi.
- Guten Tag! – diz a aeromoça, diante de uma seleção de jornais, indicando com as mãos que a fila andou. Descubro então em 3 ou 4 idiomas como se escreve a palavra Financeiro. Hora de voar.
Viena-Dubai: o verificador de passaportes
- Ter aina visado? Visado de resident?
- What?
Ele tentava ser gentil e falava fragmentos de um quase-latim vulgar que é igualmente compreensível por todos os portadores das flores do Láscio, talvez para reviver algum resquício de lembrança que veio à tona em sua memória e que provavelmente corresponde a uma realidade que existe apenas em sua cabeça e que não vai mais voltar. Só entendi depois que quando não respondi no mesmo idioma, desfiz-lhe o sonho e o puxei de volta à realidade que de fato compartilhamos por alguns segundos, e ele voltou a ser o austríaco metódico e formal que infelizmente se espera de um verificador de passaportes em uma entrada de sala de espera de um portão de embarque.
Revisou meu visto, olhou novamente para mim, analisou as linhas de meu rosto através da barba, hesitou, mas devolveu o passaporte com a passagem. Novo surto de gentileza e controlado calor humano de quem quer abraçar mas se limita em dizer:
- Obrrrigado! Desiro que faz buom viaggio!
- Muito obrigado!
Sheik Luís responde
Oi Luis, Desculpe te importunar mas gostaria de informaçoes de empregos em
Dubai, sou formado em Administração e Marketing - e como muitos brasileiros
estou cheio da bagunça brasileira. Abraços Marcio
Sheik responde:
Fala Márcio, fica tranqüilo que não é incômodo não. Estou aqui pensando no que eu posso te dizer a respeito de Dubai.
Primeiro, se você quer encontrar emprego, há dois caminhos:
1) dar uma olhada em sites internacionais de recursos humanos. Há algum tempo, coloquei alguns links para alguns desses sites na seção Dicas para expatriados, dá uma olhadinha lá e depois diz o que você acha;
2) Vir para Dubai passar umas férias por 15 dias e nesse período, fazer o máximo de contatos possíveis: ir a bares, restaurantes, e puxar conversa com todo mundo, trocar cartões, ligar para o amigo e ir na festa do amigo do amigo do amigo e garimpar, garimpar, garimpar. Depois, voltar para casa e analisar as possibilidades que surgiram. Muita gente faz isso por aqui. É até bom vir pra conhecer, para se ter uma idéia do que te espera por aqui...
Gostaria de fazer apenas um comentário sobre a bagunça brasileira. Aqui em Dubai, o que mais vejo é gente descontente. Fui para a França, e lá também encontrei gente que queria ir para Dubai, Barcelona, Londres, África, ou Brasil. A verdade é que a grama do vizinho é sempre mais verde.
Estando no Brasil, você pode votar, pode sair as ruas e gritar, exigir seus direitos e tentar mudar alguma coisa. Fora do Brasil, você se torna um estrangeiro, um hóspede, que tem o direito de se adaptar às leis locais.
Quanto a Dubai, adianto que é um lugar especialmente peculiar para brasileiros. Para um londrino que poucas vezes no ano vê o sol, este lugar é um paraíso: sol o ano inteiro, calor (e que calor), praias, custo de vida mais baixo, carros de luxo baratos... para brasileiros, pode ser um lugar bem frustrante, especialmente para solteiros: aqui é bem mais parado, restrições, censura, conceito de vida social bem diferente, não há samba, forró, barzinhos na esquina pra tomar um chopinho no horário de Happy Hour... isso sem todos os trâmites burocráticos para conseguir se estabelecer por aqui.
Se quiser vir, venha, mas não venha na louca achando que será um paraíso. Estude as diferenças culturais, pense no que é essencial e no que não é para você e pese tudo numa balança. Todo lugar tem problemas, e aqui não é diferente. É isso. Abraço do Sheik!
De volta
22.10.06
Eid Al Fitr começa amanhã
Aproveito para tirar férias do mundo árabe e depois de imprevistos, mal-entendidos e uma frustracao profunda, estou aqui em Nice na Franca até terça-feira.
Conselho para quem tem um objetivo definido na vida: corra atrás dele, vá diretamente atrás dele. Não invente voltas mais confortáveis para chegar até ele. Não se engane. Se uma destas curvas da estrada te levar para longe do seu objetivo, a frustração será insuportável.
18.10.06
Baghdad F.C.
Mulheres de preto
Dubai High Society
A trégua
- Quer um drink? Eu trouxe muitas bebidas! - e assim me oferece bebidas, como que em uma atitude de resistência e rancor às restrições da cultura local. E não é bebidinha leve: é bebiiiida. Vodka. Uísque. Gim.
Desta vez tive que negar: já passa da meia noite, amanhã eu trabalho. Seu rancor é até compreensível: viveu longos anos em uma Arábia Saudita pré e pós 11/09, época em que ocidentais eram deliberadamente assassinados nas ruas deste país sem que isso viesse a ser notícia em jornais. Ela conta que até hoje os compounds (condomínios fechados) são protegidos por tanques de guerra, barricadas e fuzis. "É isso que mantém a paz", completa. Conta que mesmo com um calor de 50 graus, era obrigada a se cobrir por completo (ombros e pernas e olhos) para não ser perseguida nas ruas. Fica fácil entender porque não riu quando me viu vestido de árabe. Ficou com uma expressão séria e me olhando longamente, vendo coisas além de mim.
Nesta noite, enquanto ela me ensinava algumas palavras em árabe, chegou Souhir e um de seus namorados. Esse deve ser o titular: um rapaz alto, olhos claros, libanês provavelmente, que se parece com aqueles cantores jovens que aos domingos cantam músicas românticas no programa do Gugu Liberato. Nasceu na Arabia Saudita, fala árabe, inglês, francês e... grego. Souhir me apresenta dizendo: "Ele fala francês!". A mãe de Jo entra na conversa, tentando praticar a língua que segundo ela aprendeu na escola 50 anos atrás. Excitada com a torre de Babel, ela pergunta:
- E ninguém fala Jode?
- Jode! - foi uma interrogação coletiva. Jo explica repreendendo sua mãe:
- Jode é uma língua falada em New Castle. Minha mãe encontrou com uma pessoa em Dubai que falava Jode e agora pensa que todo mundo fala nossa língua...
Nossa língua, com pronome possessivo. Isso tem a ver com identidade. Divaguei um pouco e quando voltei a mim, estavam todos falando em árabe. "É claro!" interferi. Todos riram, pediram desculpas e voltaram a falar inglês. Pedi insistentemente para que voltassem para o árabe e fui dormir. Afinal, 2h da manhã é tarde para quem levanta cedo. O casal foi para o quarto e os demais foram para um sessão de shisha. É Ramadã e o mundo árabe fica acordado até tarde...
Seguimos assim em tempos de paz na casa. Ou de trégua.
Aproveitei então...
Imagine só: para pedir minha carteira de alcoólatra, tenho que pedir permissão para o dono da casa e para a empresa. Sensacional. Mais vexatório que pedir, é receber a resposta que recebi:
- Olha Luís, infelizmente eu não vou poder te dar esta permissão. Vou ter que falar diretamente com o landlord - gostei dessa palavra. É assim mesmo como me sinto: o dono da terra, e eu um pobre servo implorando por clemência.
Ele me explica a negativa: há um ano atrás, alguns inquilinos fizeram uma mega-festa na casa, todos bebendo e se drogando muito, e ao final, aconteceu uma briga violenta, que envolveu polícia e locais, com várias garrafas quebradas e sangue...
... enfim. E eu com isso? Senhor landlord, posso usar cuecas do Mickey?
Inglesa, internet e afins
Quando cheguei à cozinha, percebi que o buraco era mais embaixo, e que a casa estava em estado de guerra aberta, todos contra todos. Mais bilhetes afixados nas portas dos armários, mas eram escritos por outra pessoa:
Dessa vez, não foi pra mim: embora eu não tivesse pratos, sempre lavava e guardava no devido lugar os talheres e utensílios utilizados.
Mas quando fui fazer a janta, senti que a coisa não tinha ficado apenas no nível dos bilhetes: não havia nenhuma panela, prato, garfo ou copo na cozinha. Aí eu me revoltei...
Guerra é guerra. Sheik não pede: ordena. Sheik não pede favor: faz. Num momento de fúria descomunal, comprei panelas, pratos e talheres que ficam agora em meu quarto. Viva o IKEA!
De quebra, já solicitei também a Carta de não-objeção ao landlord para ter acesso à internet só pra mim (sim, eu preciso pedir permissão para o dono da casa para poder ter acesso à internet...).
Enquanto isso em São Paulo...
"THE PUNKS ARE ALRIGHT"
O filme The Punks Are Alright (Punks São Legais - título em português) é um documentário sobre música punk e aprendizado social, que nos lança do Canadá para o Brasil, e de lá para Indonésia. Conheça através dessas bandas punks, paixões, dedicações e éticas sociais do tipo "faça você mesmo" que estão mudando seus próprios mundos, e talvez o nosso também.
EXIBIÇÕES NA MOSTRA
20 de outubro às 00h00
Espaço Unibanco 3
R.Augusta, 1475
Cerqueira César
Tel.: 11 288-6780
21 de outubro às 23h50
Sala UOL de cinema
R. Fradique Coutinho, 361
Pinheiros
Tel.:11 5096-0585
31 de outubro às 16h00
Cine Bombril 2
Conjunto Nacional
Av. Paulista, 2073
Tel.: 11 3285-3696
Assista a trechos do documentário nos links: www.youtube.com/watch=Blind Pigs e www.youtube.com/watch=Superman Is Dead. Saiba mais sobre a Mostra no site: www2.uol.com.br/mostra.
17.10.06
Uma questão de câmbio
1 dirham = 16,63 rúpias paquistanesas
Isso significa que um indiano que ganha 1000 dirhams e economiza 300, guarda na verdade 3.690 rúpias. Um paquistanês, neste caso, guardaria 4.989 rúpias paquistanesas.
Um taxista indiano me conta que lá na casa de sua família em sua cidade, moram 5 pessoas em uma casa grande. A renda mensal da família é de 3.000 rúpias. Disse que dá e sobra. Imagine no Paquistão como é...
Essa é a justificativa maior para que os departamentos de RH paguem salários mais baixos a indianos e paquistaneses. Não é racismo, é o câmbio, entendeu? Simples assim.