Oriente Médio. Golfo... um dia qualquer nas vizinhanças do Eixo do Mal. Tomo uma decisão: vou ao banco. O objetivo: transferir dinheiro para o Brasil. Dinheiro para comprar uma fazenda, ou talvez, alguns deputados (eles adoram...). Ou talvez, as duas coisas.
Sabe leitor: deputados adoram fazendas. Então nada melhor do que colocá-los lá, em um enorme rebanho... tudo bem, não falo mais de deputados, esta espécime rara. "Você sabe com quem está falando?", já se pronunciou um deles.
A transferência internacional no banco custa 80 dirhams, via internet, 50 dirhams. Mas como é muito dinheiro (malas e malas, leitor! Não seja pobre: fazendas custam caro), não há outra opção a não ser ir pessoalmente, com a minha caravana de camelos (Sim, eu sou um endinheirado. Ana tchor flos).
Nossa que calor! Enquanto a menina conta as inúmeras notas de 1000 dirhams, aproveito para tomar água. Água fesquinha, quase nem percebi quando a garota terminou de contar:
- Óquêi, sãr. Hévagudêi.
Dever cumprido, fome: hora de comer.
- Vocês têm banheiro aqui?
- Sorry, sir...
Vamos tentar algo lá fora. Vamos perguntar para esse senhor sentado no bloco de cimento:
- Hi, do you know where the bathroom is?
- Sorry?
- Bathroom, restroom.
- Arab?
- No...
- Sorry, sir. No English.
- Toilet. Tovalet. Xixi. Cocô.
- No, sir...
Vamos lá. Eu consigo. Isso aqui deve ser uma mesquita... e bingo! Um banheiro. Mas a voz no microfone indica que é horário da oração e rapidamente, uma fila de barbudos se forma na entrada do banheiro. E todos olham para mim. Na parede, uma placa:
Proibida a entrada de não-muçulmanos
De certo, não haveria problemas em fazer um xixizinho. Menos feio do que tirar o pipi e fazer ali no deserto, na frente de todos. Mas essas coisas inibem a gente, e até a vontade de xixi passa. Ótimo, já dá para sentar. Volto ao restaurante. Este aqui tem mais mesas que aquele ao lado. O garçom aparece:
- Hi, sir!
- Can I see the menu?
- Yes, sir... - ele sai e vai à prateleira e sem nenhuma dúvida, puxa um pacote de batatas-fritas, derrubando tudo o que estava na prateleira. Isso o distrai: ele volta com o pacote de batatas-fritas e começa a reorganizar a prateleira. Um outro garçom se aproxima:
- Hi, sir!
- The menu...
- No menu, sir...
- O que você tem?
- Dagaladagalagadagalagada... and chicken biryani... and dagaladagalagadagalagada... dal.
Aceito o dal, que é feito de batata. Dal e pão, feito na hora. E só: era o que ele tinha de vegetariano. Na hora de pagar, tiro uma nota de 100 dirhams.
- Sorry, sir. It's only 3 dirhams. No change?
Três dirhams e eu apenas com uma nota de 100. Constrangedor:
- Hmm... no...
- Ok. No problems, sir.
E o que era quase de graça, sai constrangedoramente de graça. Mas também não matou a fome. Outra idéia, volto ao Eat & Drink:
- Hi sir! Do you have... chickoo drink?
- Yes, sir!
Está com fome? Pare em qualquer restaurante ou cafeteria indiana e peça um Chickoo Milkshake. Tchicu é uma frutinha marrom bem doce que no Brasil é mais alongada e chamada de sapoti. É muito comum na Índia e outros países da Ásia.
Enquanto espero a bebida, observo o fluxo: os garçons alternam-se entre atender a clientela e empacotar os pedidos para viagem. O telefone toca freneticamente.
Em uma mesa com rodinhas há um balde com talheres de plástico, e sacolas plásticas onde os pacotes para viagem são preparados. Entre um pacote e outro, um garfo vai ao
chão. O outro garçom passa e dá sua contribuição para o evitar o aquecimento global: pega o garfinho do chão e - óbvio - coloca-o novamente no balde de garfinhos limpos.
- Ok, sir.
- How much?
- 12
Pronto. Passo no restaurante ao lado e com o troco, pago o Dal. Hora de tomar tchicu.
Um comentário:
Haha! Caramba! Já me aconteceu isso de não pagar pq estava sem trocado, mas depois voltei ao lugar também.
Você só esqueceu de mencionar que nas horas do "dalgadalgada" e "sorry, sir", o garçom chacoalhava a cabeça com aquele movimento que só os indianos sabem fazer. Haha! Parece que vi a cena!
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