Ao final do evento, a amiga belga liga para a Anna:
- Estamos na área corporativa! Venham para cá!
Na entrada, uma loira de vestido relativamente curto e e penacho na cabeça já descalça vem nos entregar os crachás:
- Hi, my name is... and yours?
- Anna
- ... and you...
- Luís
- Oh! Na verdade, eu já tinha te visto antes. Eu estava comentando com minha amiga hoje à tarde... você é diferente... vocês são namorados?
- Não, somos amigos - foi o que a Anna disse.
- Ah, então não tem problema - a moça australiana se empolga e pega no meu braço - você é lindo!
Mesmo entre amigos este tipo de comentário causa constrangimento. Saída diplomática rumo ao casal belga. Fotos. O garçom aparece e assume que gosto de uísque:
- Red Label? Jack Danniel's?
Essa história de beber uísque de barriga vazia após algumas cervejas não é algo sensato. Mas não estou dirigindo, então tudo bem. Mas não quero ressaca, melhor comer. Na mesa, aperitivos: queijos, salgados, doces. Na volta, a loira me intercepta, agora com outra amiga:
- Oi, esta é minha amiga colombiana. Amiga, este é o Luís...
A colombiana diz algo ao ouvido da australiana, que responde em voz alta:
- Não! Não tem problema, eles são só amigos!
- Aaaah booom! Então não tem problema!!! - agora as duas me puxam, uma por cada braço, e me jogam no sofá. A colombiana está ao meu lado cruza os braços com o meu. A australiana senta-se na mesinha baixa (daquelas mesas de sala que as mães não deixam os filhos apoiarem o pé enquanto assistem TV) cruza as pernas e com uma das mãos, alisa minha perna. Eu, um acessório de luxo, colocado entre elas, enquanto conversam. "Ele é tímido! Que fofo!", diz uma delas. E elas tinham muito assunto para conversar:
- Cicatriz? Vou te mostrar o que é uma - então a colombiana se levanta e abre o corte do vestido longo para mostrar uma enorme cicatriz no quadril, na altura da cintura. Belas pernas, mas a cicatriz, coisa feia. Coisa para uns 20 pontos.
- Eu estava no carro com minha mãe. Foi um acidente...
O garçom chega com mais uísque. Ah, a eterna disputa darwiniana... os seres humanos tentam disfarçar, mas no fundo, até uma inocente conversa sobre cicatrizes se resume a uma medição de forças ... a australiana se levanta:
- então vou te mostrar a cicatriz que tenho.
Ela sobe o vestido até acima do umbigo. Barriguinha de quem faz ginástica. Calcinha - bem dizer, calcinha, não: tanguinha - branca com detalhes verdes que combinam com o vestido - branco de detalhes verdes. Tanguinha muito pequena para aquilo que esconde: Tanguinha com franjinhas... e eu aqui me pergunto por que uma loira tem pelos pubianos castanhos. Na altura do rim direito, uma série de marcas de cortes.
- Suas cicatrizes são lindas.
Sou interrompido com um rapaz sorridente que chega, e para o qual a colombiana se levanta e dá um longo e apertado abraço. A colombiana volta a se sentar enquanto ele diz algo à australiana e vai embora. É prudente realizar uma vistoria, e a colombiana tem um anel no dedo esquerdo:
- El es tu marido?
A esta altura, a Anna já está longe, sorriso-padrão, fingindo que não me vê, conversando com dois ou três homens. É quase meia-noite. Era o nosso trato para ir embora... a colombiana dá uma longa risada para a australiana:
- Você viu isso? Ele achou que o Fulano de Tal é meu marido! - e agora as duas riem juntas - hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!
A australiana põe ternamente a mão em minha perna e me explica com ar didático:
- O Fulano de Tal é meu marido. O marido dela é aquele ali - e aponta para um inglês que está no balcão, e que a algum tempo olha para nós com aquele sorriso "não doeu".
Ele se aproxima sorrisa e me comprimenta. Aperto de mão longo, apertado. Longo. Apertado. Bom, eu não tenho nada com isso:
- Eu vou ali e já volto.
Aproximo-me do garçom:
- Água?
- Sim, sim. Mas tome também esse vinho do Porto.
Anna agora está sentada em uma mesa mais afastada do resto das mesas e conversa com um árabe de Omã. Mas ela já me disse que não quer nada com árabes. Ela cruza a perna esquerda sobre a direita. O rapaz, de fraque, dá os ombros para o resto do pessoal, fechando a vista.
Volto ao sofá: o marido inglês agora ocupa o meu lugar e segura firmemente a mão da garota. E segue com o mesmo sorriso... mas já é quase 1h, estou quase dormindo em pé. Como interromper uma conversa sem parecer ciumento?
- Oi, ... é ... então, Anna, já são quase 1h...
- Quando quiser ir embora, me avisa...
- Só vou ao banheiro e já volto...
- Ok.
O rapaz me olha com uma cara de reprovação. Eu me desculpo:
- Não quero interromper, mas... pegue o telefone dela, depois vocês combinam alguma coisa...
Reconheço: essa história de sugerir para trocar o telefone soou meio artificial. Ciúmes, eu? Na hora de me despedir, a australiana não se intimida. Abraçada ao marido, diz em alto e bom som:
- Nice to meet you. Você foi o cara mais atraente que conheci hoje.
Lá fora, silêncio... tento quebrar o gelo:
- É... acho que a moça foi meio inconveniente...
- Mas ela não é casada?
- É...
- Que coisa...
- É... que coisa.
E até hoje, quando lembro da calcinha com franjas, arrependo-me de não ter pego o telefone. Pensando bem, melhor assim. Ou não.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Pô Lou, você fez sucesso nesse evento!!! Cuidado com os maridos que não parecem ciumentos. O tal sorriso com certeza esconde a vontade de te dar uma porretada! Como sempre, descrevendo com sutileza e muita malícia, pormenores sobre supostas conversas ingênuas. (ingênuas?).
Safado!!!
Aderbaldo
Oi Fofo,
Sus estória é muito interessante....
Umtanto qto safada.....
Hahahaha... muito boa Luisão... muito boa!
Devia ter pego o tel dela.
Abraço.
Hebert.
Postar um comentário