20.5.08

Dubai World Cup: a calcinha com franjas

Ao final do evento, a amiga belga liga para a Anna:

- Estamos na área corporativa! Venham para cá!

Na entrada, uma loira de vestido relativamente curto e e penacho na cabeça já descalça vem nos entregar os crachás:

- Hi, my name is... and yours?
- Anna
- ... and you...
- Luís
- Oh! Na verdade, eu já tinha te visto antes. Eu estava comentando com minha amiga hoje à tarde... você é diferente... vocês são namorados?
- Não, somos amigos - foi o que a Anna disse.
- Ah, então não tem problema - a moça australiana se empolga e pega no meu braço - você é lindo!

Mesmo entre amigos este tipo de comentário causa constrangimento. Saída diplomática rumo ao casal belga. Fotos. O garçom aparece e assume que gosto de uísque:

- Red Label? Jack Danniel's?

Essa história de beber uísque de barriga vazia após algumas cervejas não é algo sensato. Mas não estou dirigindo, então tudo bem. Mas não quero ressaca, melhor comer. Na mesa, aperitivos: queijos, salgados, doces. Na volta, a loira me intercepta, agora com outra amiga:

- Oi, esta é minha amiga colombiana. Amiga, este é o Luís...

A colombiana diz algo ao ouvido da australiana, que responde em voz alta:

- Não! Não tem problema, eles são só amigos!
- Aaaah booom! Então não tem problema!!! - agora as duas me puxam, uma por cada braço, e me jogam no sofá. A colombiana está ao meu lado cruza os braços com o meu. A australiana senta-se na mesinha baixa (daquelas mesas de sala que as mães não deixam os filhos apoiarem o pé enquanto assistem TV) cruza as pernas e com uma das mãos, alisa minha perna. Eu, um acessório de luxo, colocado entre elas, enquanto conversam. "Ele é tímido! Que fofo!", diz uma delas. E elas tinham muito assunto para conversar:

- Cicatriz? Vou te mostrar o que é uma - então a colombiana se levanta e abre o corte do vestido longo para mostrar uma enorme cicatriz no quadril, na altura da cintura. Belas pernas, mas a cicatriz, coisa feia. Coisa para uns 20 pontos.

- Eu estava no carro com minha mãe. Foi um acidente...

O garçom chega com mais uísque. Ah, a eterna disputa darwiniana... os seres humanos tentam disfarçar, mas no fundo, até uma inocente conversa sobre cicatrizes se resume a uma medição de forças ... a australiana se levanta:

- então vou te mostrar a cicatriz que tenho.

Ela sobe o vestido até acima do umbigo. Barriguinha de quem faz ginástica. Calcinha - bem dizer, calcinha, não: tanguinha - branca com detalhes verdes que combinam com o vestido - branco de detalhes verdes. Tanguinha muito pequena para aquilo que esconde: Tanguinha com franjinhas... e eu aqui me pergunto por que uma loira tem pelos pubianos castanhos. Na altura do rim direito, uma série de marcas de cortes.

- Suas cicatrizes são lindas.

Sou interrompido com um rapaz sorridente que chega, e para o qual a colombiana se levanta e dá um longo e apertado abraço. A colombiana volta a se sentar enquanto ele diz algo à australiana e vai embora. É prudente realizar uma vistoria, e a colombiana tem um anel no dedo esquerdo:

- El es tu marido?

A esta altura, a Anna já está longe, sorriso-padrão, fingindo que não me vê, conversando com dois ou três homens. É quase meia-noite. Era o nosso trato para ir embora... a colombiana dá uma longa risada para a australiana:

- Você viu isso? Ele achou que o Fulano de Tal é meu marido! - e agora as duas riem juntas - hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

A australiana põe ternamente a mão em minha perna e me explica com ar didático:

- O Fulano de Tal é meu marido. O marido dela é aquele ali - e aponta para um inglês que está no balcão, e que a algum tempo olha para nós com aquele sorriso "não doeu".

Ele se aproxima sorrisa e me comprimenta. Aperto de mão longo, apertado. Longo. Apertado. Bom, eu não tenho nada com isso:

- Eu vou ali e já volto.

Aproximo-me do garçom:

- Água?
- Sim, sim. Mas tome também esse vinho do Porto.

Anna agora está sentada em uma mesa mais afastada do resto das mesas e conversa com um árabe de Omã. Mas ela já me disse que não quer nada com árabes. Ela cruza a perna esquerda sobre a direita. O rapaz, de fraque, dá os ombros para o resto do pessoal, fechando a vista.

Volto ao sofá: o marido inglês agora ocupa o meu lugar e segura firmemente a mão da garota. E segue com o mesmo sorriso... mas já é quase 1h, estou quase dormindo em pé. Como interromper uma conversa sem parecer ciumento?

- Oi, ... é ... então, Anna, já são quase 1h...
- Quando quiser ir embora, me avisa...
- Só vou ao banheiro e já volto...
- Ok.

O rapaz me olha com uma cara de reprovação. Eu me desculpo:

- Não quero interromper, mas... pegue o telefone dela, depois vocês combinam alguma coisa...

Reconheço: essa história de sugerir para trocar o telefone soou meio artificial. Ciúmes, eu? Na hora de me despedir, a australiana não se intimida. Abraçada ao marido, diz em alto e bom som:

- Nice to meet you. Você foi o cara mais atraente que conheci hoje.

Lá fora, silêncio... tento quebrar o gelo:

- É... acho que a moça foi meio inconveniente...
- Mas ela não é casada?
- É...
- Que coisa...
- É... que coisa.

E até hoje, quando lembro da calcinha com franjas, arrependo-me de não ter pego o telefone. Pensando bem, melhor assim. Ou não.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pô Lou, você fez sucesso nesse evento!!! Cuidado com os maridos que não parecem ciumentos. O tal sorriso com certeza esconde a vontade de te dar uma porretada! Como sempre, descrevendo com sutileza e muita malícia, pormenores sobre supostas conversas ingênuas. (ingênuas?).
Safado!!!
Aderbaldo

Anônimo disse...

Oi Fofo,

Sus estória é muito interessante....
Umtanto qto safada.....

Anônimo disse...

Hahahaha... muito boa Luisão... muito boa!

Devia ter pego o tel dela.

Abraço.

Hebert.