13.3.08

I - Inveja eu tenho...

Inveja eu tenho é desse tal de João Cariranho. Esse sim! Não perde tempo pensando com os outros, com o passado, com o futuro… João Cariranho vive o presente!

Quando criança, na escola não era nem o pior, nem o melhor. Não por ser medíocre: atinha-se apenas àquilo que lhe interessava. E nada mais. Matemática? Se o desafio entretinha, gastava horas nas tabuadas, nos problemas da regra de três. Português? Estudava as regras gramaticais, dos verbos os gerúndios e particípios. Quando o tema da aula era orações subordinadas – não sabia o que isso significava mas desde cedo não gostava – não tinha pudores de trazer para as aulas os cadernos da língua de sua mãe. Enquanto os demais se subordinavam às orações, ficava ele lá a ler sozinho e conjugar verbos que os demais não entendiam, e que, por ignorância, riam:


Dearã aracrê
Gaí macrê
Tequí racrê

Nambu-hô aracrê
Tequí-bu-hô racrê


Enquanto os outros riam, ele ria também. Olhava para a moça bonita – diatomá irucerari! – e para o rapaz de pele leitosa e delicada compenetrado nas lições – budoé!

Os professores a esta altura tinham o hábito de mostrar quem manda. – Silêncio! – gritavam. Os alunos se calavam e se curvavam. E João apenas continuava como estava. E professor nenhum contestava sua autoridade, por saberem, talvez, de seu hábito de guardar no fundo do peito um escarro verde, sempre pronto para enfeitar a face do desafiante.

Ao final do ano, os atrasados mentais repetiram, os inteligentes foram os primeiros da sala, e João Cariranho saiu contente com o que quis aprender e aprendeu.

Naqueles idos tempos, pergutavam a eles: - o que vocês são? Ao passo que eles respondiam: somos estudantes! Todos menos João, que dizia: Eu sou João Cariranho.

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