Ela queria mesmo chamar a atenção: aproximou-se e chamou a funcionária:
- Por favor, você pode mudar de canal?
Long's Bar é mais um dentre tantos pubs da cidade onde homens assistem futebol e bebem cerveja. Ela debruçou-se então sobre o parapeito de madeira em frente à TV e ficou ali, mexendo seu quadril de um lado para o outro, eventualmente trombando com o rapaz que ali estava:
- Desculpa…
Havia muitas TVs no recinto. O rapaz ignorou a atitude e voltou para o bar, onde se sentou e voltou a assistir a partida na TV ao lado.
Ela voltou ao balcão e posicionou-se em um ponto visível, e quando o rapaz se virou para deixar sua cerveja, ela piscou os olhos. Ele então se levanta e vai até ela:
- Olá, você queria perguntar algo?
- Sim. Qual é o seu nome?
- Fulano, e o seu?
- Julieta…
Ela exala um perfume forte o suficiente para ser notado em um ambiente com tanta fumaça. Uma saia preta justa à cintura e que desce até abaixo dos joelhos, uma blusa preta semi-aberta deixa um sutiã preto à mostra. Na cabeça, uma boina, também preta, com as inscrições “D. G.” em lantejoulas:
- Julieta de onde?
- Turca-libanesa…
- Quanto tempo em Dubai?
Ela gira o canudo com a ponta do indicador direito. Olhos nos olhos:
- O suficiente para me sentir confiante... e você, o que faz aqui?
Mulher experiente: sabe que no jogo da sedução, a primeira regra é não dar detalhes sobre sua vida, mas deixar o outro falar sobre si mesmo. Cada pergunta é rebatida com respostas que o levam a falar de sua própria vida. E ele responde, enquanto ela olha fixamente para seus olhos, com olhos grandes e verdes. Ela desce vagarosamente seu olhar sobre seu peito até encontrar algo interessante:
- Que colar é esse? – ela enrola lentamente o colar sobre seu indicador direito, posicionando-o de modo que o rapaz, ao olhar para seu dedo, tenha como pano-de-fundo os seus peitos. Eram peitos bonitos, aparentemente firmes: maiores que uma bola de tênis, menores que um melão.
- São sementes…
- Desta cor ou são pintadas?
- É assim mesmo…
Ela faz uma cara de espanto e diz com ar inocente:
- Mas que engraçado! É da cor de minha calcinha - e posiciona sua mão esquerda bem a frente de seus peitos, mostrando assim uma minúscula calcinha vermelha.
A garota errou: tudo ficou óbvio demais.
- Mas por que você está segurando sua calcinha, assim, em público?
- Um amigo duvidou que eu tirava e eu tirei.
- Muito bem! Você é uma garota bem decidida. E por que pediu para mudar o canal de TV?
- Porque não gosto de futebol…
Sua expressão tão inabalável denota sinais de fraqueza: não olha mais nos olhos e, de braços cruzados, comporta-se como qualquer mulher do recinto, resistiva a qualquer contato com homens.
Mulher experiente, sabe que em batalhas perdidas a melhor saída é a retirada-relâmpago. Olhou para o lado e viu, sentado na mesa, um rapaz de terno, meia-idade, que fumava um charuto e acabara de abrir uma garrafa de espumante: provavelmente um velho amigo. Recobrou a usual auto-confiança que anos em Dubai lhe deram e deixou de maneira triunfante o rapaz falando sozinho.
O rapaz voltou ao seu lugar no balcão e de longe viu a garota que agora acariciava a nuca do amigo com os peitos encostados em suas costas. Minutos atrás ele lhe falava de sua profissão, mas não teve coragem de perguntar a dela. Há perguntas que não se faz. Riu e concluiu que o amor, este nobre sentimento que une as pessoas, é de fato uma coisa maravilhosa e intrigante: tão fácil para alguns e tão caro para outros.
3.3.07
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