Dubai e a lição das bolsas

Há algum tempo que Dubai está em evidência. Há um ano atrás, pouca gente saberia dizer (eu me incluo neste grupo) se esta cidade está localizada no Oriente Médio ou na Índia. Hoje todos sabem que fica nos Emirados Árabes Unidos, onde há um hotel 7 estrelas no meio do mar e onde uns malucos e estão fazendo 3 penínsulas em formato de palmeira e um arquipélago que imita um mapa-mundi que pode ser visto da Lua.

Graças a uma eficiente propaganda, não há um meio de comunicação nos grandes centros urbanos mundiais que não cite Dubai ao menos uma vez por semana: Dubai abriga abertos de tênis, campeonatos mundiais de golfe, festivais de cinema, jazz e rock. Dubai tem maratona internacional, tem escritórios da CNN, Reuters, BBC e Al Jazeera. Dubai é visitada por Tony Blair, Príncipe Charles. Celebridades da vez visitam a cidade em férias, outras compram propriedades ou simplesmente às ganham como presente do xeque. Júlio Iglesias (que celebridade, hein?) e Figo têm casas aqui, Michael Schumacher ganhou uma ilha. Escritores famosos visitam a cidade para lançar seus livros. Diz-se que em Dubai ocorrem negociações secretas que definem os rumos da guerra e da paz no Iraque e no Afeganistão. Dubai está no circuito mundial da moda. Dubai é fashion, Dubai está em paz, Dubai é in.

Talvez o mercado de ações tenha algo a ensinar a respeito das grandes euforias coletivas: quando os telejornais anunciam para o grande público que o cenário é bom para investir naquela determinada ação, quando até o senhor da padaria começa a aplicar na bolsa ou quando a opinião unânime de especialistas de plantão é de que a hora de investir naquele determinado papel, em geral já é tarde demais. Em geral, esta é a hora de sair do mercado com os maiores ganhos. Quem se instalou em Dubai há 5-10 anos atrás agora colhe os frutos, seja alugando casas, ou simplesmente vendendo terrenos com um lucro estratosférico. Dizem os locais aqui que quando o projeto da Palm foi lançado, um terreno ali custava coisa de 20 mil dirhams. Hoje, no momento em que são feitas as primeiras entregas de moradias, uma casa não sai por menos de alguns milhões de dólares...

Dubai é uma cidade agradável, moderna, badalada, cosmopolita – em poucos lugares do mundo encontra-se esta diversidade cultural, tanta gente falando tantos idiomas tão próximas umas às outras – mas talvez haja muita fantasia por trás desta febre que faz tanta gente se mudar ou viajar de férias para cá neste momento. Um bom indicador disso é o preço dos aluguéis: será que Dubai é tão boa assim para justificar um aluguel mais caro que em Paris? E olha que em Paris não há internet e cinemas censurados...

Talvez o momento de vir a Dubai já tenha passado, talvez estejamos no ponto mais alto da onda. Talvez não. Há muito ainda por vir: metro cortando a cidade, Bur Dubai, o edifício mais alto do mundo, e outros milhares de torres e distritos residenciais e comerciais ainda em construção, filial do Museu do Louvre em Abu Dhabi. Com os preços do petróleo lá em cima, o fôlego dos sheiks parece não ter fim. Mas quem é que controla o movimento dos mercados? Quem é que previa a queda da bolsa da China?

Termino este texto com uma dica para quem quer realmente vir passar calor no aqui no Oriente Médio: você já ouviu falar em Bahrein? Qatar? Sultanato de Omã? Kwait? Estes são outros pequenos países do golfo com culturas similares e que experimentam um ciclo de vigoroso desenvolvimento econômico nos moldes de Dubai, também alimentados pelo petróleo. Salários e ganhos semelhantes com custos inferiores (às vezes a metade) ao de Dubai. E ficam pertinho daqui, a menos de 1h de avião. Dá pra vir sempre para cá rir da cara dos amigos que pagam mais de 1000 dólares no aluguel de um quarto.

É isso aí.