22.8.06

Breakfast

Dubai, 9h. Desço para o café-da-manhã. Desço de bermuda. Pergunto para o funcionário indiano (mas que poderia ser paquistanês): pode de bermuda? Claro que sim, relaxa. O café é por aqui. Entrei então no Rumours Café, no saguão do hotel. Uma garota de feições suavemente orientais me saúda: Good morning, sir. Do you need something? Sim, claro, eu quero o meu café-da-manhã. Ela me mostra a mesa, eu sento, e então um rapaz com feições orientais se aproxima:

- Whasarócarh?
- ???
- Oh, of course. Mostrei-lhe meu cartão que abre a porta do quarto. Ele fez uma cara de espanto.
- Whasarocharhasdfasdf?
- ?!?!?! Sorry, could you repeat, please?
- Whasarocharhehaasdf?
- Sorry, I really don't understand.
- Do you speak Arabic?
- Oh, no!

Ele parou e ficou olhando para mim. Minhas mão suava, e olha que minha mão não é de suar. Por que raios eu fui sair do quarto? Agora vamos até o fim. Please, what do you have for breakfast? Palavra mágica! O rapaz saiu e voltou com um menu. Por que sempre eu tenho que escolher alguma coisa? What kind of breakfast do you need? Meu amigo, tudo o que eu não queria nesta hora, 9h da manhã de Dubai e 2h do Brasil, é pensar. Olhei a primeira opção: Continental Breakfast, 25 dirham. É o mais simples. Quem é que paga isso? Sei lá, me disseram que o café-da-manhã está incluso em minha diária, mas por que três opções diferentes de café com preços diferentes? Bom, dane-se, seja o que for. O rapaz se aproxima mais uma vez:

- Whasaasdiofasdf?
-?!
- Do you prleferl copee orl tea?
- Uhmmm... (tempo para processar o que ele falou) coffee, please.

As perguntas não acabam aí: que tipo de suco você quer? Que tipo de pão? Pára tudo, parece que estou em um alfaiate, eu só quero a porra do meu café-da-manhã, sem surpresas. Perdi até a fome.

Chegou a refeição: um cestinho de pães, café, manteigas, mel e geléias. Ela enche minha xícara de café, olho no bule sobre minha mesa, tem leite. Será que é de camelo? Agora distraio-me um pouco, olho através da janela os trabalhadores de macacão pendurados nas construções do outro lado da rua. Ritmo frenético. Sinto-me um desleixado: eles devem ter acordado muito cedo, tomaram um ônibus sem ar condicionado e estão aí na labuta, com esse macacão azul neste sol. Na minha frente, um casal de loiros (alemão? Holandês?) fala uma língua esquisita e toma seu café com suas 3 crianças. Entretenho-me com meu pão e fico ouvindo aqueles sons estrangeiros, distraio-me tentando encaixar os sons inutilmente em palavras, e invento um novo vocabulário: Alfziden, gutenblochnihhh, farhahnichtkopf. Volkswagen, Heineken. Mama. Mama? Ei, foi isso o que a menina disse! Finalmente uma palavra conhecida! Tomo então o suco de manga. Era uma pasta de manga, a definição mais correta. O engraçado é que o suco não é da cor laranja da manga brasileira, mas de um amarelo pálido, quase cor de caju. Mas o gosto, é igual.

Levanto-me da mesa. A oriental sorridente se aproxima e diz: Thank you, e me apresenta um boleto com a conta: 25 dirham. E pede para eu assinar. Assino. Quem paga esta conta? Eu tenho uma suspeita, mas melhor não pensar nisso agora. Viva o cartão de crédito internacional. Por que é que eu fui sair do quarto? Deixa eu voltar pro meu mundinho. No caminho, o recepcionista brinca comigo: Hey, look: its my car! E sorri, apontando para a Ferrari que acabou de estacionar na frente do Hotel. O elevador chegou, hora de voltar pra casa.

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