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E por falar em shamaal, finalmente passou a competição.
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A trajeto estava definido assim:
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- 5 km de aquecimento do Le Meridien até a ponte lateral esquerda da Palm Jumeirah;
- 8 km mar adentro, contra as ondas (um checkpoint a 300m, outro 1 km à frente);
- 12 km de volta, surfando as ondas, até o Le Meridien;
Decidi então participar da brincadeira: participo do aquecimento e, dependendo das condições do mar, sigo em frente, pensei.
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E a sexta-feira chegou: 120 caiaques (surf-skis) alinhados na praia do Le Meridien. Todos os big boys ali: um norte-americano campeão olímpico de remo na década de 90 e atualmente fabricante de um dos melhores caiaques que há, outro campeão sul-africano, o campeão do Shamaal do ano passado.
A ausência de ventos durante a manhã me deixou otimista. A competição começa: segui durante o aquecimento remando junto com uma americana (estadunidense, para os rigorosos. Afinal, somos todos americanos). Boa companhia. Na chegada à ponte, antes da largada, um dos botes salva-vidas se aproxima e o rapaz avisa: "Nós temos um compromisso em salvar vidas, caiaques não. Se vocês forem resgatados, abandonem o caiaque!".
Por que razão o organizador diria isso? Receio. Ele saber de algo que não sabemos. E é dada a largada. Logo veio a resposta: embora da praia não parecesse, o vento shamaal estava batendo forte em alto-mar. Quando passei da ponte, percebi que minhas pretensões de chegar ao primeiro checkpoint a apenas 300 metros já eram bastante ambiciosas: a primeira coisa que vejo é o barco de resgate rampar na primeira onda e desaparecer atrás dela. Em seguida, é a vez dos caiaques que vinham atrás subirem e desaparecerem atrás da onda. Quando apareceram novamente no alto da próxima onda, um terço dos participantes tinha caído no mar, um congestionamento de caiaques e náufragos.
Vento forte, correnteza, uma onda, duas ondas, três ondas. A americana desviou pela direita perto das pedras e seguiu em frente. E eu ali achando tudo aquilo uma grande estupidez.
Mas eu nunca esqueço das palavras de papai: "Filho, seja sempre o primeiro!". No vestibular da Unicamp, fui o primeiro (da lista de espera). Foi nesse momento que fiz a manobra mais arrojada que já fiz com meu caiaque: meia-volta. Manobra radical: a onda me puxa e quase beijo o pilar da ponte. Orgulho do papai: novamente fui o primeiro, o primeiro a desistir.
Foi uma decisão sensata. Alguns minutos depois, o mar devolve mais 4 competidores ao ponto inicial: vieram rolando com seus caiaques duplos na onda. Quinze minutos mais tarde, chega uma garota: "Eu nunca mais quero passar por isso na minha vida!", disse ela. É, cair do caiaque com mar agitado não é uma sensação agradável.
Mas a competição teve outros fatos insólitos: duas garotas aparecem no barco salva-vidas.
- Cadê os seus caiaques?
- Era um duplo. Quebrou no meio...
Um outro competidor brigava com as ondas quando viu um barco de pescadores vindo em alta velocidade em sua direção. Acenou com o remo, não adiantou. Só deu tempo de pular no mar e se proteger: o barco passou por cima dele e de seu caiaque, batendo em sua cabeça. Depois reduziu, pediu desculpas e seguiu em frente. Mais um remador fora da prova e com o caiaque inutilizado.
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Ao todo, em torno de 60 competidores desistiram. Isso só aumenta o mérito dos que chegaram ao final. Na confraternização ao final da prova, o organizador estava feliz por ter podido mostrar o poder do shamaal, e orgulhoso por mostrar Dubai com ondas, algo não muito comum por aqui. O francês ao meu lado disse baixinho: "Lá na França, uma competição nem começa se houver ondas menores do que essas". Pois é. Essa prova não era para principiantes.
O meu troféu é a garrafinha de cerveja com marca de caiaque. "Product of the ocean". É isso aí.
Ondas em Dubai também é Rock'n'Roll, e rock'n'roll é Dubai Futebol Clube.
3 comentários:
Ai Cara, passei mesmo para deixar um abraco, belo trabalho fazes por aqui
Sen-sa-cio-nal! Quando crescer quero ser igual ao Sheik Luis!
Grande Luisão.
Espetacular este Post. A parte do Gafanhoto principalmente.
Grande abraço por aí.
Flavião.
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