11.11.08

The visitor

Acabo de ver o filme The Visitor, filme que fala de muita coisa: música, mundo árabe, África, imigração nos EUA.

Bem verdade que desde que saí de Dubai, venho em uma fase de negação de tudo o que seja ligado à cultura árabe, mas as sutilezas desse filme me trouxeram agradáveis lembranças: o sotaque árabe ao falar inglês; as releituras que alguém criado em um cultura faz do "outro". Como no diálogo em que o personagem Tarek pergunta a Walter se ele gosta de "Chawarma", e recebe como resposta "sim, eu gosto de Charma"; Walter dizendo "Kalil" ao invés de Khalil (o sobrenome de Tarek que se pronuncia "RRRRRalil) ... ou ainda Tarek chamando sua esposa de "habibti". A legenda em francês contentou-se a mostrar "habibi" (de certo, o tradutor não falava árabe).

Já os trejeitos de Muna, a personagem de Hiam Abbass, lembrou-me e muito da elegância contida das sírias que conheci em Dubai, cristãs ou muçulmanas (pois é, nem todo sírio é muçulmano). Mais precisamente de Sandrela, com quem morei por 7 meses em uma casa de 9 quartos... ô menina generosa: ela adorava cozinhar, e eu sempre gostei de comer. E um dos maiores prazeres de quem cozinha é ver alguém saborear suas obras-de-arte: é Ramadã? Lá vinha Sandrela me convidar para um Iftar. E lá ia eu mandando brasa nos fatuches, fatáiers (esfiha aí no Brasil), tabulis, homus e muitas outras coisas cujo nome não sei. Às vezes, seus pais vinham lá de Homs para uma visita. O problema é que eles não falavam muito bem inglês. Aí rolava aquele diálogo básico:

- Sabah al kheir...
- Sabah al nur...
- Kifik?
- Miliha! Wa kifak?
- Amdulilah...
- !@#%@#%@^#$%^#$%^#$ ?
- ?! - sorrisos amarelos de ambas as partes - iála, Sandrela, volta aqui traduzir!

Poxa, deu até fome. Vou escrever para ela, perguntar se está tudo bem.

E para finalizar: depois dos eventos decorrentes do 11 de setembro e da era Bush, sempre tive um preconceito em relação aos EUA. Mas nos últimos tempos, minha curiosidade por essas esquinas do mundo como Nova Iorque vem aumentando. Quem sabe agora, na era Obama?

10.11.08

Happy new year

"Quando eu morrer, vou direto pro céu". Repito-me renitente a máxima quando a mente, tal qual um promotor público obcecado pela auto-promoção, lança voraz baldes de culpa sobre mim. Auto-engano ou salvação?

Foi com a melhor das intenções que passei meus contatos para Yoko. Ela dissera que dentro de um mês, passaria por Dubai e queria um contato para tirar dúvidas. Foi logo depois da celebração do Ano-Novo: meia-dúzia de estrangeiros reunidos na cozinha do Hotel, tentando se aquecer. Silêncio na cidade: segundo o calendário iraniano, o Ano-Novo - Nou Ruz - coincide com o início da primavera, de modo que em 31 de dezembro é um dia qualquer e 1o de janeiro não é feriado. Não: alguns comemoram. A dica dos iranianos é de procurar por festas no bairro armênio, que comemoram estas datas, Natal, Ano-Novo... mas estava muito frio para isso.

Na mesa, variedades de pistache e sementes de girassol em vários tamanhos e formas cuja casca os iranianos quebram girando a semente entre os dentes frontais, restando na língua apenas o miolo; anos de dedicação a este hábito moldam os dentes, conferem agilidade automática e precisão incompreensíveis para quem vem de fora: iranianos se divertem com o estrangeiro que, no afã de quebrar a casca, despedaça a semente na boca e por fim aceita a derrota, mastigando casca e miolo.

Na mesa, refrigerante de cola iraniano. Saiba você: o ser humano tem necessidade de beber refrigerante. Não qualquer refrigerante: refrigerante de cola. Não qualquer refrigerante de cola: refrigerante de cola em embalagem vermelha. Algo que se pareça com Coca-Cola. Se possivel a genuína. Mas esta nao existe no Irã...

Coca-cola, Zara, Adidas. Necessidade de consumir marcas. Devido ao embargo, ou talvez pela nao-proteção da propriedade intelectual, as grandes marcas não entram oficialmente no Irã, mas proliferam-se em falsificações vendidas no Grande Bazar. As genuínas sao vendidas nos elegantes centros comerciais em pequenas butiques, onde ainda se vê Papais Noéis e enfeites natalinos com a inscrição: "Christmas Mubarak!". Seus proprietários viajam a Dubai ou à Europa, enchem as malas e retornam ao pais com as novas concepções de liberdade, nobreza e confiabilidade.



Adibas, Abibas, Abidas. Azidas; são várias as marcas nas roupas e tênis de três listras dos jovens no metro de Teerã, mas a massa lembra ainda um Brasil de uma cidade do interior de uma distante década de 60, 70, 80: pessoas com seu único sapato, com sua calça social de um alfaiate, com sua única pasta de trabalho, onde guardam seus pertences.
Alguns lerão esta busca doentia das marcas como uma "busca provinciana do progresso", outros mais idealistas como "poluição capitalista"; atitude blasé: leituras feitas do alto da arrogância da liberdade e do excesso de acesso; as marcas são dispensáveis apenas para quem não precisa. Elas estão lá, disponíveis do outro lado do vidro; voce pode, mas não quer. Assisto a este teatro do metro quase me esquecendo de meu tênis All Star velho e rasgado que uso com descaso, fingindo não lembrar da exclusividade que desejo que me aporte.



Roupas de marca, refrigerantes de cola, pistaches e outras sementes sobre a mesa; é meia-noite de 31 de dezembro em Teerã e agora o grupo de estrangeiros se abraça e faz poses e sorrisos para infindáveis flashs de cameras digitais: felicidade é cada um com a sua. "Happy new year!". A esperança no futuro é uma das coisas mais curiosas no ser humano, principalmente quando olhamos para tudo o que se sucedeu com uma distância de quase um ano. Fico uma impressão de uma comemoração equivocada. Mais sensato seria: "Congratulations, we survived until here!".

Já passa da 1h da manhã, todos deixam a cozinha e se aglomeram no corredor ao lado do aquecedor a gás. Alguns fumam e o rapaz da portaria vem de tempos em tempos pedir que se fale mais baixo - há pessoas dormindo. Em meio a promessas de envio de fotos que jamais serão cumpridas, trocamos e-mails. Cada e-mail, uma intenção; sementes de uma árvore de possibilidades de eventos futuros que se realizarão ou não, segundo a próximas interações da vontade de cada um com a Fortuna.

Alguns psicólogos defendem que a Razão pode sim controlar a Vontade e que isso nos distingue dos demais animais; outros mais céticos julgam que a Vontade é a senhora do destino. Neste caso, a Razão seria apenas uma sofisticada maquina justificadora, advogada da Vontade, ocupando-se em manter o Conjunto convicto de que "está correto". Seriamos mesmo racionais ?

Sim: entregar-lhe o e-mail trouxe à tona um certo frenesi sobre as várias probabilidades que se abriam diante de uma garota atraente. Afinal, quais são seus reais interesses? Não: entreguei o e-mail embuído de um sentimento altruísta - ajudar por ajudar e um dia ser ajudado. Ilusões pudicas de um mundo melhor onde pessoas viajam pelo mundo trocando experiências e cortesias. "Quando eu morrer, vou direto pro céu", já dizia minha avó.

9.11.08

Dúvida

Não sei se continuo essa estória. Tambem não sei porque tive essa genial idéia de começá-la em 1a pessoa. A 1a pessoa é uma merda: personifica, dá um rosto e personalidade ao protagonista. Talvez eu rasgue tudo, recomece: "Era uma vez ..."

Concordo com você: a leitura é essencialmente idiossincrásica. Mas você exagera! Mal lê o texto e já se apressa às inferências. Você lê "a, b, c, ..." e , afoito, adianta-se: "...é D!". "Quem matou Odette Roithman?", "Será que Helena vai ficar com Augusto?" Você não consegue viver sem a novela. E agora me olha com este ar agoniado de criança que não ganha pirulito - "Será?!".

Entendo sua ansiedade. Foi assim nas semanas em que esperei Capitu voltar de férias. "Será? Será? Será?!?!". Uma mensagem: "Está tudo bem". Hoje vejo que sim, estava ótimo! Ah, leitor! Voce paga agora pelo que nao fez. Vingança! Ódio babado pelo canto da boca.

Noite de diarréia aguda na noite paulistana. Estava no Ó-do-Borogodó. Noite de iluminação; na parede do banheiro a frase que liberta:

A maior sensação de poder que o ser humano pode ter é fazer esperar.


Sofra, leitor. Ninguém mandou não ter vida própria! Faz sol, os animaisinhos se acasalam na floresta e você nesta busca pela Verdade Suprema, "mordendo corrente". Um consolo para ti? A espera é justamente uma das percepções mais agudas do tempo presente. Nesta agonia, VIVO se está; tempo que escorre milimetricamente e sem pressa entre os dedos enquanto o Desfecho libertador se aproxima: o Ultimo Suspiro, o resultado do Exame, o Sim ou o Não da Pessoa Amada, o efeito da droga que neutraliza a Dor do cálculo...

Depois de "a, b, c ...", "... c, d, c"; "... f, j, k". Ou quem sabe, o seu "... D!". Por ora, nada. Sádico, eu? Isso já começa a ficar repetitivo; você sabe bem o que disse minha avó.

5.11.08

Holy Movements Photography Exhibition



Se você está em Dubai e pensando em visitar o Irã, ou já estiver de viagem marcada para Teerã no final do mês, fica aqui a dica: exposição "Movimento Sagrado" de fotos de minha querida amiga Sara Masinaei! Maiores informações na própria imagem.

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If you're in Dubai and considering visiting Iran, or has already planned a trip by the end of the month to Tehran, let me give you suggestion: exhibition "Holy Movement", of my dear friend Sara Masinaei! More information on the picture above itself.

4.11.08

O que eu estou fazendo aqui?

Meira! deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A ironia, a modéstia e a comoção de Narciso":

Me responde, sheik Luísão,
Agora são duas da manhã,
Tenho revisar 20 páginas da tese até amanhã.

O que eu estou fazendo aqui?
Responde sheik!

Abraços,
Luis Augusto Meira (Ec97... long long time ago)


Postado por Meira! no blog Dubai F. C. em Segunda-feira, 03 Novembro, 2008

Caro amigo,

Os psicólogos encontraram um nome bonito para isso: Procrastinação.

Fica tranqüilo, em geral não é grave (eu também faço isso às vezes). Agora, o único remédio é... enfrentar o leão.

Então pára de ler esse blog e volta pra sua leitura, uai!

Abraço de ex-sheik,

Luís

3.11.08

A ironia, a modéstia e a comoção de Narciso

Assis Editora deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Sheik Luís responde: quem é o Sheik?":

Querido Sheik Malba Tahan Luis Brasileiro, agora não tenho a menor dúvida de que é um brasileiro nato. Pois somente um brasileiro poderia ter tanta criatividade e humor. Muito prazer, pois é a primeira vez que escrevo para meu ídolo literário (rs). Gostaria muitíssimo que você estivesse em nossas comunidades do orkut: (...) Você é fantástico. Talvez o maior contador de histórias que eu ja tenha ouvido, ou melhor, lido.
Vou contar sua história, e o nosso encontro, aos quatro ventos e quando alguém me perguntar se é verdade direi, como Chicó: "Sei não, só sei que foi assim.".
Em Dubai ensina-se português?
Não sei como devo me reverenciar a um Sheik, então vou me despedir de um jeito brasileiro. Até breve. Abçs, Ivone.

Postado por Assis Editora no blog Dubai F. C. em Sexta-feira, 31 Outubro, 2008

Salam Aleicum minha cara Ivone,

Obrigado pelo 'ídolo literário': os elogios levam ao delírio os narcisos... e os irônicos.

Obrigado, prezada Ivone! Eu sei que sou querido e fantástico, mas é sempre bom ouvir isso de alguém. Só agora compreendo a ordem de um certo Rei: "se quiser me homenagear, que o façam em vida!". Aceito seus elogios com o auto-conhecimento de um Estadista, tal qual um certo Stalin que ordenou aos seus biógrafos que ressaltassem, na obra em sua homenagem, sua humildade e modéstia...

... Modéstia, cara Ivone! Minha maior qualidade é a modéstia: tal qual o reflexo de Narciso nas águas do lago, seus elogios iluminam as trevas de meu exílio. Tal qual os beijos nas mãos e lambidas sublimes em meu dedão de meu pé esquerdo, desferidas por ávidos e inúmeros súditos e camelos em meus dias de glória. Para eles, o sabor acre da mistura de suor em fricção da pele com o couro de minhas alpergatas era o ponto máximo de suas vidas. Isso me tocava profundamente, e me deixava orgulhoso de meu altruísmo: emprestar-lhes o dedão era um sacrifício e uma boa ação. Ver assim os efeitos de minha bondade sobre miseráveis mortais me preenchia de júbilo - como agora.

Eu choro de emoção. Agora ria, minha cara: a gargalhada dos irônicos é o presente com o qual lhe retribuo tão generosa oferenda.

Em Dubai, não se ensina português. Não há necessidade: quando alcançam a idade correta, os filhos de nossa realeza são enviados à Paris para aprender tão nobre idioma (nada mais propício ao estudo de língua tão nobre que a Terra dos Intelectuais, bebendo da seiva da Razão, que nos é tão cara e rara. Oh, oh, oh).

Sem arrogância: prometo entrar em contato. Anoto seu e-mail em minha agenda em letras pequenas, mas bem torneadas, com floreios em caneta Mont Blanc verde para enfeitar. Um dia desses, um de meus escravos eunucos responsáveis pelo trato de minhas correspondências concederá-lhe o privilégio de algumas letras em meu nome.

(Oh! acabo de reparar como minhas unhas brilham. Oh, oh, oh).

Agora, com licença: feita a boa ação do dia, permito-me entregar meu corpo aos prazeres e carícias das concumbinas que restaram de meu reinado.

Abraços humildes de ex-sheik resignado e sofredor,

Luís

30.10.08

Mashad hotel

Passava das 17:30h ao entrar na estação de Rueil-Malmaison. Estação sobre o nível da rua, caminho aberto ao vento úmido. Envelope lacrado em maos; fazia frio. Não: frio estava em Tehran naquela manhã de dezembro de 2007.

Frio: na fonte da praça Iman Khomeini, a água formava estalactites sobre os cabos de aço que sustentavam bandeirinhas decorativas de alguma data especial. No Irã, trabalha-se 6 dias por semana, mas há muitos feriados para compensar. É o que dizem (digo isso apenas para justificar as bandeirinhas congeladas, mas temo que isso não explique nada. Mania de querer explicar tudo).



Não é a melhor área de Tehran: a parte rica fica ao norte, na encosta da montanha, em direção à Darvand, onde neva. Bairros onde vivem a classe média e alta iraniana, comerciantes armênios, algo muito semelhante à Oscar Freire (oh, São Paulo: saudosismo irracional; por vezes me pego a chamar-te de minha. Oh, identidade, essa ilusão: nunca foste, nunca serás). Ali, seguindo da praça pela rua Amir Kabir, é a região das "auto-pecas": pneus, correntes de pneus para neve e tapetes de carro se acotovelam na calçada sobre os pedestres. Entre estas lojas, um ponto de encontro de estrangeiros que seguem o roteiro "low-budget" do guia Lonely Planet: o Mashad Hotel.

No início da noite, na recepção, um pequeno corredor com um banco longo de cada lado, os turistas se espremiam e fumavam para se aquecer, enquanto o gerente do Hotel blasfemava: o site do hotel, principal meio de contato com estrangeiros, havia sido bloqueado por conta do embargo norte-americano.

- E o que é que eu tenho a ver com isso? Eu tenho cara de terrorista? Deixem-me trabalhar! - justo ou não, nao julgo (o que por si só, já é um julgamento).

Ambiente "internacional": dentre os turistas, um holandês que viera de bicicleta. Um ciclista belga que se acidentou na Turquia e seguira de trem, mas que agora se encontrava sem dinheiro, apenas com cartões de crédito (que não são aceitos no Irã). Um garoto neo-zelandês que terminara seus estudos e tirara um ano para realizar sua Grande Viagem antes de iniciar seus estudos superiores. E uma oriental. Chamemo-la de Yoko. Dentro do hotel, terra franca; não usava véu. E fumava entre os homens.

- Sao 4.500 tomans por dia - informa o gerente, acendendo a luz do quarto. O equivalente a 4,5 dólares. Sao 5 camas: duas de cada lado perpendiculares à rua, e uma à parede oposta à janela. Do lado de lá, o coreano que dorme cobre o rosto. Do lado de cá, roupas de mulher. Eduardo escolhe a cama do lado de lá; fico do lado de cá. Misericórdia ao coreano, apagamos a luz e na luz-de-porta aberta, abrimos as malas. Neste ínterim, entra a dona das roupas.

- Brasileiros?
- Sim.

Ela se empolga e começa a falar palavras em português: morara antes com uma brasileira.

- E como é Dubai?

Pergunta dificil, resposta longa. Ela senta perto na cama porque a voz é baixa (o coreano dorme). O banheiro é coletivo e o Eduardo vai e volta do banho. Por fim, o novo ocupante da quinta cama chega. Eles falam a mesma língua e o interesse dela agora muda: seguem fumar e conversar lá fora. Hora de dormir.

10.10.08

Drogas em Dubai?

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ultimato para as "shared villas" em Dubai":

Sheik,

tenho uma pergunta da maior seriedade e espero que você posa me ajudar.
Estou me recuperando de uma dependência de cocaína e tive uma oferta de trabalho em Dubai (em um Hotel - Head Waiter). Como são as coisas em termos de drogas em Dubai? O risco de envolvimento com drogas é alto? Com Álcool eu já sei que terei de me segurar (da mesma forma que faço por aqui) mas me preocupo com as outras substâncias. Não estou fazendo piada, entenda por que não assino este post. Por favor me dê uma luz.
Obrigado


Postado por Anônimo no blog Dubai F. C. em Sexta-feira, 10 Outubro, 2008

Caro Anônimo,

Dubai tem muita luz, especialmente no verão.

Sobre a cocaína, eu acho que você pode ficar tranqüilo, Dubai será um bom lugar para você se desintoxicar. A legislação é bem dura para quem entra com drogas, o que faz com que o consumo seja no mínimo muito discreto.

Digo discreto, porque ele existe. Mas não no meio em que você vem para trabalhar. É o que se ouve, mas ninguém diz, pois ninguém se compromete. Se é que você me entende. Quanto à cocaína em específico, nunca conheci ninguém que fizesse uso dela em Dubai.

Geralmente, quem quer consumir drogas, tira férias e vai viajar. Pega um vôo para Índia, Irã (o consumo de maconha e ópio é algo relativamente difundido entre os jovens das grandes cidades iranianas, por vezes mais disponível e aceito que o álcool), Europa, América, ... e depois volta calminho para Dubai.

Dubai é mais aberto neste quesito(ou ocidental?) que a Arábia Saudita, onde não há bares, cinemas ou casas noturnas e o consumo de álcool e qualquer outra droga é proibido e o tráfico punido com pena-de-morte. Interessante que apesar de toda essa rigidez do país vizinho, é recorrente relatos de "festas de portas fechadas" no altos meios, onde o proibido é servido na bandeja (aliás, como em qualquer festa dos extratos sociais que estão acima da lei, não é?). Para que estas festas sejam possíveis, alguns coitadinhos morrem enforcados de vez em quando por tráfico. Mas afinal, quem se importa?

Outra dica é para você fazer a sua quarentena antes de vir para evitar problemas. Exame de sangue é obrigatório para todo estrangeiro na chegada. A polícia também pode te forçar a fazer um exame de sangue em caso de delação. Neste caso, "traços de droga" são suficientes para qualificar o sujeito em 4 anos de xilindró seguido de deportação. Outra coisa interessante é que aqui não existe o conceito de que a moradia do indivíduo é inviolável: se há suspeita, a polícia vai e entra na casa, sem precisar de autorização. Nos jornais há sempre uma notícia de alguém sendo julgado nesta situação.

Bom, é isso. País novo, vida nova: escolha bem suas novas amizades e aproveite para levar uma vida saudável.

Abraços de sheik,

Luís

26.9.08

Paris

Fim de tarde de uma segunda-feira chuvosa. A mulher procura meu nome nos arquivos.

- Voilà! - e me entrega o envelope.
- O resultado já foi enviado para o doutor?
- Sim, monsieur...

Era um exame de sangue simples de rotina. Na última hora, pedi que adicionasse os testes de HIV.

- Sem problemas! Adiciono também o teste de Hepatite C, d'accord?

O trato era esse: em caso de qualquer anomalia, ele entraria em contato. Mas 17h era ainda muito cedo. Em vez de abrir o envelope, preferi seguir até o metro com o envelope na mão.

RER A, destino Boissy. Carro de 2 andares. Escolho o banco mais ao fundo do andar mais alto. O dia não era dos melhores: no dia anterior, terminara um relacionamento com a mais recente "mulher da minha vida". Isso dói, mas não era a causa do tormento: há muito que já não usávamos preservativo. Ela estava tranqüila, convencida com minhas respostas. Eu não: omiti fatos, aleguei que não havia risco e não a protegi de minhas dúvidas. Agora, envelope na mão, tinha ali uma resposta com um potencial devastador que extrapolava a minha existência... eis aí uma boa definição de remorso: quando se constata que o seu destino, como uma nau descontrolada, acerta em cheio o barquinho alheio, muitas vezes tão especial. Eu sentia remorso do que não acontecera, e isso me tirava a fome, travava a respiração e trazia um estranho calafrio nos ombros. Em meio ao turbilhão, pensava em todas as hipóteses e em algo que me confortasse e me trouxesse dignidade caso o pior caso se confirmasse.

Deixemos o envelope devidamente fechado. Ainda não é hora de abri-lo. Voltemos a onde tudo isso começa: Teerã, dezembro de 2007.

Assim dizia minha avó

Manhãs de domingo de sol. Porta da copa aberta, vento entrando. A família dividida entre o lado de cá e o lado de lá da mesa. O avô, próximo da TV, fala de futebol.

- Quando eu morrer, vou direto pro céu.

A família se olha com olhos grandes e por fim, a própria avó ri do absurdo que dissera.

Sim, disse absurdo. Creio que, no fundo, todos em minha família são incrédulos também. Mas têm tanto medo da morte - o tempo que pára, a ausência de luz e de som, ausência até mesmo do próprio nada - daí esses olhares de olhos grandes que tanto dizem.

E você se pergunta o porquê agora de lembrança de fato tão corriqueiro. Relato-o por constatar nas palavras de minha avó algo tão humano; esta necessidade de, no íntimo de nossos processos mentais, justificar-nos e de sempre nos perdoar. Tal avó, tal neto: se ela, que jamais andou de avião, encontrara ao fim da vida uma razão justa para se outorgar um lugar ao céu, também busco eu em cada ato aquilo que melhor me convém. Cada linha escrita é a razão que corre atrás de meus desejos, providencialmente para que nenhum ato seja vão.

Caro leitor, deixe então que estas linhas corram soltas, como o purgante que purifica o corpo. O importante é que, ao final, eu também esteja convencido da máxima de minha avó.

Impossível você diz

Juliana deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ultimato para as "shared villas" em Dubai":

Mas me conte uma coisa, eh simplesmente impossivel nao gastar tanto em aluguel??? E vc eh obrigado a depositar o aluguel anual?? Assim eh impossivel ir para os encantos de Dubai. que alternativa temos se conseguimos um emprego em Dubai para nao pagar alugueis tao caros??


Postado por Juliana no blog Dubai F. C. em Quarta-feira, 24 Setembro, 2008

Caríssima Juliana,

Não entendi muito bem essa parte dos "encantos" de Dubai. Em todo caso, não existem coisas impossíveis. Mas, digamos, há coisas possíveis que talvez você não queria vivenciar. Se é que você me entende...

Geralmente, para trabalhos temporários (até 6 meses), aviação, ou ramos muito especializados (engenharia de petróleo, finanças) as empresas oferecem alojamento ou hotel. Para todos os outros casos, é "na raça": as empresas oferecem como parte do pacote salário uma parcela chamada housing allowance para ser gasta com acomodação, e que salvo grandes exceções, não cobre o aluguel de um apartamento digno. No fundo, é uma maneira das empresas te darem um "balão", na hora de pagar prêmios ou aumentos (baseados sempre no salário-base).

Para ter um contrato bonitinho, preto no branco, o mais comum em Dubai é mesmo se exigir um cheque anual, ou com alguma conversa, 2 cheques. Algumas empresas oferecem o "benefício" de adiantamento do primeiro ano, e assim, a empresa deduz as parcelas do seu salário. No ano seguinte, é você que tem que se virar!

O grande problema é que, com a forte diferença cultural, poucos chegam em Dubai com essa certeza de ficar 1 ano, dispondo-se a pagar o aluguel adiantado. É aí que entra a conveniência das tais casas compartilhadas...

Enfim, minha cara, como eu já disse antes: Dubai não é para crianças.

Abraço de ex-sheik,

Luís

24.9.08

Ultimato para as "shared villas" em Dubai

Iterrompo aqui a série "As prostitutas chinesas" porque eu quero a sua opinião, caro leitor: o que você acha deste ultimato de um mês dado pelo governo de Dubai aos moradores de colocação em Dubai (as "shared villas") para saírem de suas residências ?

Apenas algumas informações:

- o aluguel de um quarto com banheiro em Dubai em uma "shared villa" custa entre 4.000 e 8.000 dirhams por mês. Como ilegal, tudo é feito sem contrato. Mais caro que alugar um apartamento em Paris, com contrato no seu nome, e tudo mais;

- alternativas para quem mora uma "shared villa" em Dubai:

- alugar um estúdio em International Village a um preço equivalente (a 15 km da cidade no meio do deserto e mal-provida de transporte público);

- alugar um estúdio em empreendimentos de luxo como Marina, Al Barsha... detalhe: um estúdio na Marina não sai por menos de 10 mil dirhams por mês. E tem que pagar o aluguel anual com um ou dois cheques de uma só vez. Quem é que agüenta?

- ah sim! Há outras opções, como morar em Sharjah, onde o consumo de álcool dá cadeia, ou ainda em Ajman. E passar 5h do dia atravancado em congestionamentos;

É no mínimo curiosa esta "cruzada contra os solteiros" neste exato momento de crise no setor imobiliário internacional, em que especialistas no setor apontam para um aumento na oferta de imóveis vagos em Dubai e quem sabe, uma correção nos preços dos apartamentos (ou você realmente acha que há motivo para um apartamento em Dubai custar tão caro quanto em Paris?).

Fica um cheiro de deslealdade no ar: o governo querendo resolver os problemas de seus amiguinhos especuladores com o dinheiro e destino de quem ajuda a tornar Dubai o que é.

E cá entre nós, imagine esta situação: você ganha um salário de, digamos, 15 mil dirhams/mês. Você paga o seu aluguel de 5.000 dirhams mensalmente para morar em um quarto em frente ao mar. Você acha que valeria a pena continuar em Dubai sendo forçado em um mês a trocar o seu quartinho perto do mar e no centro da cidade por um estúdio cafofo no meio do deserto, tendo ainda que pagar um ano adiantado em dois cheques? O ainda melhor: comprometer-se com um aluguel de 10 mil dirhams/mês na Marina, que consome mais de 50% de seu salário, e para tal, terá que fazer um financiamento no banco para o adiantamento. Você acha que valeria a pena ficar em Dubai?

Pois é exatamente essa a realidade da maioria das pessoas que vivem em casas compartilhadas em Dubai. E se essa gente pesar bem as coisas, vai ver que não vale mais a pena ficar na cidade, que o sonho ou nunca existiu, ou já acabou faz tempo.

Arrumar as malas e ir embora é o maior trunfo na mão de um expatriado em Dubai. Porque sem ele, solteiro ou não, Dubai não é nada.

Cyclone

Dubai, meados de setembro de 2006. Véspera de Ramadã. No trabalho, o grupo marca o encontro: Cyclone. "É um dos poucos bares abertos que venderá álcool", alguém avisa.

A entrada não é barata: 75 dirhams. Entrando no recinto, um choque: pela primeira vez em Dubai, um local com mais mulheres do que homem. Tudo bem organizado: aproximadamente 50 chinesas à esquerda. À direita, em menor número, européias, russas, árabes. São mais caras. No extremo canto direito, um palco. "Está desativado", disse o garçom. "Durante o Ramadã, não é permitido música ao vivo".

Que saborosa surpresa: em véspera de Ramadã, um dos poucos bares a vender cerveja é um prostíbulo! E não estamos no meio do deserto: o Cyclone fica ao lado do American Hospital, centro de Dubai. Aliás, ficava: o estabelecimento foi fechado pela prefeitura em meados de 2007, quando a caça às bruxas, ops, prostitutas, começou. Mas isso não vem ao caso, pois ainda estamos em 2006, e o garçom traz pipocas gratuitas para acompanhar nossas cervejas à 30 dirhams a long neck.

Sob o vidro grosso do balcão, um papel com uma frase: "Não viemos no mesmo navio, mas estamos no mesmo barco". Frase que expressa bem o sentimento do grupo: "que merda estou fazendo aqui?". Após a primeira cerveja, o Vítor reclama: "então, minha namorada começou com uma estória de que não sabe se quer continuar...". Uma história que se repete, e que geralmente termina com o mesmo fim.

No pátio à esquerda, o taxista de turbante, o economista asiático, os loiros europeus de terno. Risos, cervejas. Em cada riso, o mesmo sentimento revanchista: "Você me rejeita? Então eu pago!!!". O jeito masculino de resolver as coisas.

Eu sei leitor: você ri. Ri porque acha que se dá muita importância a isso. Isso porque você está aí no Brasil ou em Portugal, onde você leva uma vida normal: mesmo que nada aconteça, sempre tem o charme da mulher do café, a promessa da garota da banca de jornal... vivemos todos de esperança. Mas até isso tiram de você quando se vai a Dubai. A realidade de um um país com uma proporção de 4 homens para cada mulher é seca. Dubai é um garimpo de luxo. E convenhamos, se você é solteiro em Dubai e não trabalha na Emirates, você tem grandes chances de estar em maus lençóis...

Saímos do balcão, aproximamo-nos do setor chinês. As garotas se aproximam. Salto alto, saias curtas, e muita maquiagem. "Hi, you ale beautiful!". Carinhos, cafunés. Carinho... como é bom ser bem tratado por mulheres. Tentamos manter conversa:

- Where are you from?
- Beijing.

Interessante. Ela e todas as outras 49 chinesas do recinto são de Beijing. Coincidência ou simplesmente o mesmo agente? Tentamos aprofundar o assunto:

- And what's your name?
- Beijing.

Difícil, inglês calamitoso. Na dúvida, a resposta é sempre "Beijing". O Vítor já emenda com sua grande presença de espírito:

- Aí galera, ela quer beijim! Ela quer Beijim!

As garotas riam. Mas o tempo passa e elas não têm tempo a perder:

- You want massage? Massage?
- How much?
- 700 dollars.

O preço inicial assusta. Mas esse é o preço das russas. Todos sabem que esse preço pode ser reduzido a algo entre 300 e 600 dirhams com uma boa conversa. Com um pouco mais de procura, pega-se esse preço com serviço de "delivery".

Os 2 ingleses de terno saem abraçados com 5 chinesas. Necessidade de auto-afirmação. Mas a gente só está ali para uma cerveja, então compramos uma ficha de bilhar e ficamos ali, "fazendo hora": um dá a tacada, enquanto o outro protege a caçapa para a bola não cair, e assim, prolongar o jogo.

São 2:30h: a luz aumenta de intensidade, e os seguranças fecham o cerco. Hora de fechar o "bar". Todos pra rua, sem exceção. Os seguranças empurram sem nenhum respeito as garotas que fazem uma "cera" para sair. Os mais jovens tentam ali suas últimas fichas para ganhar um desconto.

Oras, leitor. Veja como o seu pensamento é mesquinho: eu aqui fazendo um relato de interesse antropológico e você aí só quer saber daquilo que não lhe concerne: se eu dei ou não uma "metidinha". Oras, leitor, como você é vulgar, baixo, vil. É por isso que a nossa relação é de amor e ódio. Eu te odeio, leitor. Leitor, eu te amo. E o amor presume fidelidade. E só por esta razão e nenhuma outra, que naquela noite de descobertas de véspera de Ramadã em 2006, mantive-me casto.

Mas leitor, meu amor, meu ódio: mantenha-se atento. Atento, pois pensando bem, agora ficou claro: a história não começou aqui, embora explique muita coisa. Voltemos ao futuro, em que o Cyclone já não existe mais, varrido do mapa pelas políticas moralistas do Governo de Dubai. Futuro que já é pretérito no momento deste relato.

22.9.08

Eu não sei

Sinceramente, eu não sei como começar essa história. Embora saiba exatamente como ela termina, não sei exatamente onde ela começa. 2006? 2007? Pouco importa.

Pouco importa, leitor, eu sei.Independente do fim, você não a lerá, pois este - já aviso de antemão - não é um texto sobre empregos em Dubai. Pouco importa o que está escrito: você quer a resposta rápida, personalizada, por e-mail ou telefone, um emprego sob-medida em Dubai. Pouco importa o resto: você está cego pelo brilho do Burj Al Arab e prefere quebrar a cara.

Pouco importa o resto: escrevo assim mesmo. Simplesmente porque preciso botar pra fora esta história que me incomodou e que ainda me incomoda (não, não é cocô na porta).

Decidido: voltemos a 2006. Com vocês, um pouquinho de realidade.

8.9.08

Sheik is not dead

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Diretivas para "Sheik Luís responde" e "Empregos"":

Oi Pessoal!Acabei de descobrir esse site e realmente posso lhes dizer que esse Sheik nao existe aqui em Dubai onde moro ja a 8 anos.
Ele lhes pregou uma grande mentira!
Perguntem a ele seu sobrenome? Tenho certeza que nao podera mentir pois se personificar o sobrenome de um verdairo Sheik daqui ele entrara em grandes problemas.Deve ser Milk Sheik de Banana. A proposito, Dubai e pessimo. Quando cheguei aqui era otimo lugar, 8 anos atraz. Hoje e uma cidade ocupada e conduzida por Indianos que somente favorecem a Indianos. O povo e muito feio em geral. Oque voces veem pela tv ou fotos e somente a parte nova com belos predios onde ninguem mora pois sao predios vendidos a investidores internacionais que so compram p/ trancar e esperar o preco subir. As praias sao sujas e poucas, com uma populacao enorme de Filipinos comendo frango frito na area e mulheres de vestidao preto entrando na agua e pakistaneses escarrando na agua. As acomodacoes para trabalhadores, sao pessimas. As vezes ate dez pessoas dividindo um quarto.Nao existe nem um direito para o trabalhador. O rompimento do contrato de trabalho e algo muito serio aqui. Eles seguram seu passaporte e nao os deixam voltar ao seu pais.Um calor insuportavel com uma humidade altissima, nao se sobrevive sem ar condicionado.Nao e nada tao lindo como o pessoal pensa por ai.Estou para sair daqui deste terceiro mundao.Realmente nao consigo imaginar um Brasileiro vivendo aqui com os salarios miseraveis que vi em alguns anuncios oferecendo emprego. Quanto a comecar seu negocio aqui. Cuidado, voce jamais sera dono/a dele, pois sempre pertence ao sponsor local que controla tudo. Os gastos sao enormes e nao vale a pena. Aluguel aqui anual de um apto de um quarto e sala da para se comprar uma casa de 3 quartos todo ano no Brasil.Toda a grana que ganhar aqui fica por aqui. Pense bem

Postado por Anônimo no blog Dubai F. C. em Segunda-feira, 08 Setembro, 2008

Caro Sr. Anônimo,

Suponho aqui que você tem uma característica nata que lhe impede de ver a Verdade. Algumas suposições:

a. Você não consegue desfrutar do sabor da ironia pois "não tem olhos para ver";

b. Você não enxerga o brilho no olhar nas crianças que gritam no Natal: "PAPAI NOEEEEL!". Você é o estraga-prazeres que vai dizer às criancinhas que Coelhinho da Páscoa não existe;

c. Você talvez não tem senso de humor;

Larga a mão de ser chato! Deixe as pessoas viverem suas fantasias. Você, assim como eu, sabe que bem menos de 1% das pessoas que lêem esse blog conseguirão alcançar o "Prêmio Supremo", o "Santo Graal": um emprego em Dubai em pleno verão. Dubai, o paraíso dos arquitetos e dos en-di-nhei-ra-dos! A terra do Futebol (com F maiúsculo). Terra onde o Prazer (com P maiúsculo) jorra como rio, como dinheiro. Terra onde todos têm Masseratis (e por isso são mais felizes, não?).

O Sheik existe? O Sheik não existe? Jesus realmente ressuscitou dos mortos? Papai Noel existe? Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim? Caro Sr. Anônimo, você, que já mora há 8 anos em Dubai há de convir comigo que a esta altura, isso tanto faz. Lembre-se que os sheiks são oniscientes e, sobretudo, onipresentes. Eu estou em Dubai, eu estou em Paris. Eu estou em São Paulo. Eu fluo pela internet: estou em todos os lugares.

Outro dia li algo a respeito que dizia algo mais ou menos assim: "toda história, verdade muito verdadeira ou mentira muito cabeluda, tem sim um fundo de verdade pois ganham vida nas sensações bem reais que proporcionam: alegria, tristeza, angústia, medo, vontade de mudar, ou de ficar onde se está. E apenas por isso já valem a pena."

É isso aí. O meu prazer é te ver chorar. Mas fiquei com uma dúvida: 8 anos. Como você aguenta? O que ainda está fazendo aí? Ganhou o prêmio Asceta do ano. Você disse também: "Indianos que favorecem indianos"... e isso é diferente entre brasileiros? E com ingleses? E entre os árabes? Veja bem, meu caro, panelinha é um recurso tipicamente humano.

Bom fim de verão e beijocas do Sheik Luis