Manhãs de domingo de sol. Porta da copa aberta, vento entrando. A família dividida entre o lado de cá e o lado de lá da mesa. O avô, próximo da TV, fala de futebol.
- Quando eu morrer, vou direto pro céu.
A família se olha com olhos grandes e por fim, a própria avó ri do absurdo que dissera.
Sim, disse absurdo. Creio que, no fundo, todos em minha família são incrédulos também. Mas têm tanto medo da morte - o tempo que pára, a ausência de luz e de som, ausência até mesmo do próprio nada - daí esses olhares de olhos grandes que tanto dizem.
E você se pergunta o porquê agora de lembrança de fato tão corriqueiro. Relato-o por constatar nas palavras de minha avó algo tão humano; esta necessidade de, no íntimo de nossos processos mentais, justificar-nos e de sempre nos perdoar. Tal avó, tal neto: se ela, que jamais andou de avião, encontrara ao fim da vida uma razão justa para se outorgar um lugar ao céu, também busco eu em cada ato aquilo que melhor me convém. Cada linha escrita é a razão que corre atrás de meus desejos, providencialmente para que nenhum ato seja vão.
Caro leitor, deixe então que estas linhas corram soltas, como o purgante que purifica o corpo. O importante é que, ao final, eu também esteja convencido da máxima de minha avó.
26.9.08
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário