Passava das 17:30h ao entrar na estação de Rueil-Malmaison. Estação sobre o nível da rua, caminho aberto ao vento úmido. Envelope lacrado em maos; fazia frio. Não: frio estava em Tehran naquela manhã de dezembro de 2007.
Frio: na fonte da praça Iman Khomeini, a água formava estalactites sobre os cabos de aço que sustentavam bandeirinhas decorativas de alguma data especial. No Irã, trabalha-se 6 dias por semana, mas há muitos feriados para compensar. É o que dizem (digo isso apenas para justificar as bandeirinhas congeladas, mas temo que isso não explique nada. Mania de querer explicar tudo).
Não é a melhor área de Tehran: a parte rica fica ao norte, na encosta da montanha, em direção à Darvand, onde neva. Bairros onde vivem a classe média e alta iraniana, comerciantes armênios, algo muito semelhante à Oscar Freire (oh, São Paulo: saudosismo irracional; por vezes me pego a chamar-te de minha. Oh, identidade, essa ilusão: nunca foste, nunca serás). Ali, seguindo da praça pela rua Amir Kabir, é a região das "auto-pecas": pneus, correntes de pneus para neve e tapetes de carro se acotovelam na calçada sobre os pedestres. Entre estas lojas, um ponto de encontro de estrangeiros que seguem o roteiro "low-budget" do guia Lonely Planet: o Mashad Hotel.
No início da noite, na recepção, um pequeno corredor com um banco longo de cada lado, os turistas se espremiam e fumavam para se aquecer, enquanto o gerente do Hotel blasfemava: o site do hotel, principal meio de contato com estrangeiros, havia sido bloqueado por conta do embargo norte-americano.
- E o que é que eu tenho a ver com isso? Eu tenho cara de terrorista? Deixem-me trabalhar! - justo ou não, nao julgo (o que por si só, já é um julgamento).
Ambiente "internacional": dentre os turistas, um holandês que viera de bicicleta. Um ciclista belga que se acidentou na Turquia e seguira de trem, mas que agora se encontrava sem dinheiro, apenas com cartões de crédito (que não são aceitos no Irã). Um garoto neo-zelandês que terminara seus estudos e tirara um ano para realizar sua Grande Viagem antes de iniciar seus estudos superiores. E uma oriental. Chamemo-la de Yoko. Dentro do hotel, terra franca; não usava véu. E fumava entre os homens.
- Sao 4.500 tomans por dia - informa o gerente, acendendo a luz do quarto. O equivalente a 4,5 dólares. Sao 5 camas: duas de cada lado perpendiculares à rua, e uma à parede oposta à janela. Do lado de lá, o coreano que dorme cobre o rosto. Do lado de cá, roupas de mulher. Eduardo escolhe a cama do lado de lá; fico do lado de cá. Misericórdia ao coreano, apagamos a luz e na luz-de-porta aberta, abrimos as malas. Neste ínterim, entra a dona das roupas.
- Brasileiros?
- Sim.
Ela se empolga e começa a falar palavras em português: morara antes com uma brasileira.
- E como é Dubai?
Pergunta dificil, resposta longa. Ela senta perto na cama porque a voz é baixa (o coreano dorme). O banheiro é coletivo e o Eduardo vai e volta do banho. Por fim, o novo ocupante da quinta cama chega. Eles falam a mesma língua e o interesse dela agora muda: seguem fumar e conversar lá fora. Hora de dormir.
30.10.08
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Oi Luis aqui é Taty (Dubai) bem recepcionada aqui por você lembra?
Ainda está na França? Desejo tudo de melhor pra vc aí.
Estou boba com a quantidade de posts sobre empregos aqui. O mais interessante é que as pessoas praticamente escrevem "oi meu nome é fulano, e esse é meu e-mail, me arruma um emprego" rsrs.
E alguns caem no conto do vigário com "recrutadores". Estou estudando possibilidades de ajudar esse pessoal.
Beijos
Oi Sheikh
Adorei o que tenho lido aqui! Tambem sou brasileiro embora tenha vivido grande parte da vida em portugal. Moro no Dubai ha 1 ano e nunca conheci nenhum brasileiro por aqui mas sei que existem alguns, especialmente na area da aviacao.
Sei que voce esta em Paris. Me voce tiver contatos da comunidade brasileira no Dubai se voce tiver!
sidel_lima_49@hotmail.com
Abraco,
Sidel
Oieee, também quero um emprego rsrsrsr, está dificil aqui viu!!!
Postar um comentário