17.8.07

6 dulcolax

A enfermeira filipina diz:

- Hi sir, para fazer o IVP, você na sexta toma 2 pílulas ao meio-dia, outras duas às três, e as duas últimas às 19h. E sábado esteja aqui às 9h.

Viro o tablete está escrito: "Dulcolax".

- Ei, peraí, isso é laxante?

Agora ela e a colega riem com a mão tapando a boca:

- Sorry sir, mas pra este exame, tem que tomar.

- Oi, mas o que é IVP?

- Sir, IVP é... - não importa, já esqueci. Antes IVP do que exame de próstata. O que importa é que hoje tinha a expectativa de ter um dia de rei. Mas não tive. A levar em conta as pontadas aqui, será uma noite de rei, ali, sentadinho no trono.

Enfim, há certas coisas que são hereditárias. Não é mãe? Não é pai? Melhora procê aí, vai dar tudo certo. Talvez não: talvez seja conseqüência de minha teimosia, dos tempos de estudos de matemática no deserto, quando eu limpava o ânus com areia. Mas taí, por conta destes estudos, passei em primeiro (da lista de espera) na U-N-I-C-A-M-P, e hoje moro em D-U-B-A-I, o que por si só me faz MUITO mais feliz do que QUALQUER outra pessoa sem pedras no rim, não é mesmo? Felicidade instantânea correndo nas veias de gente bonita. Paraíso na Terra contradizendo a Bíblia e o Corão. Sábio Maquiavel: graças a você e aos estudos no deserto, eu me dei bem. Manuel Bandeira, se tivesse visitado este lugar, o poema seria outro:


Vou me embora pra Dubai
Lá sou amigo do sheik
Lá tenho as manchinhas que eu quero
Na cama que escolherei.

E ainda ando de caiaque!


E paro por aqui, pois já ia emendando "E mando o tango pra puta-que-pariu!" que, além de um palavrão (que coisa feia!), não tem relação com o poema em questão. E não adianta que eu não vou explicar o que é manchinha. Maldade demais no coração. Uma verdadeira pedra no longo e tortuoso caminho para alguém como eu tornar-se uma pessoa de bem, em paz consigo mesmo e com o universo ao seu redor. Calma lá: pedra no caminho não é clichê, muita sacanagem com o homem. Viva a internet: uma pesquisa e descubro que neste agosto de 2007, estamos há 20 anos sem Drummond, 18 sem Luiz Gonzaga. Pontas distintas de um mesmo tecido. Saudade? Não. É frio na barriga.

... o tempo vai passando, a barriga cantando e eu divagando por que, a dor sendo no rim, eu tenho que tomar laxante. Isso me lembra a recomendação de um amigo há uns 12 anos atrás, quando tive a primeira crise aguda:

Meu tio estava com pedra no rim. Aí ele tomou um chá muito bom: no mesmo dia ele cagou a pedra.


Outro palavra suja: cagou. Tantas verbos bonitinhos - "obrar, defecar, fazer" - e o amigo me diz cagar. Maquiavel de novo, dicas d'o príncipe para uma noite de rei: defecando ou urinando, que saia(m) a(s) pedra(s).

2 comentários:

Maffalda disse...

Esse laxante te deu um barato daqueles! Espero que sua noite de rei não seja muito extenuante.
E mais um verbo: dizem (não sei se é verdade) que lá no norte de Minas eles dizem desistir.

Anônimo disse...

E então a pedra do rim saiu pelo intestino! Verídico. Me lembro disso.