8.7.07

Malpensa

Quatro horas passadas de vôo. O rapaz ao lado não expressa nenhuma reação. A não ser pedir o jornal com gestos para ler. Longos vôos são, quase sempre, momentos de reflexão, ao menos para passageiros que viajam sós, sem um interlocutor para conversar: há tempo para ler, para dormir, para ouvir música, ou simplesmente apara exercitar o silêncio, passando e repassando passagens da vida, imaginar conjecturas e reações em uma rua em que jamais esteve e que se cria na mente. Tudo é tão real e não surpreendentemente o futuro mostra que este lugar tão real não existe: vê-se a rua, vê-e a cafeteria, cria-se e ouve-se variantes de um sotaque de um idioma que não se domina mas que estranhamente se compreende (pode-se muita coisa quando se é o diretor da peça ruminada em pensamentos). Por fim, o comissário de vôo aparece:

- Acqua?
- Vino.
- Rosso ò bianco?
- Rosso.

O rapaz ao lado pede um suco. A comida chega. Não há por que não quebrar o silêncio:

- Dove è?
- What?
- Aren't you Italian?
- No, no... Algeria.
- Al Djazair...
- Yes. Al Djazair...
- Mais... tu vives à Dubai?
- Oh, tu parles français? Oui, c'est plus facile comme ça...

A solidão do avião é boa, mas conversar é bom também, e o tempo, literalmente, voa.

- Et l'Algerie, ça va maintenaint? C'est un endroit sécour pour voyager?
- Oui! Il y a dix ans déjà que tout est sécour là-bas. Il n'y a pas de souci.
- Mais... même pour les touristes?
- Oui, bien sûr, c'est tranqüile... et alors, presque tout le monde parle français, il n'y a aucun problème.
- Et le Kasbah? Est-ce que les touristes peuvent y rentrer?
- Oui, oui, c'est surtout un endroit touristique maintenaint...
- Tu sais, j'ai vu en film italian sur l'Algérie, "la bataille d'Argel"...
- C'est génial ce film, très connu en Argérie, surtout parce que tout ce que se passe là-bas est réelment passé. C'est la vérité...
- Et qu'est-ce que tu pense des autres pays d'Afrique? Tunisie, Maroc...
- Le Maroc, c'est magnifique... ouais... très grand, une vraie culture, très forte... et très libre. Tu peux tout faire, iani, sauf parler de la famille royal... ça peut te rendre des problème...
- Mais en Algérie, c'est le même, non?
- Si, en Algérie tu peux dire tout-ce que tu veux, en? En fait, je crois que c'est l'unique pays où tu peux dire tout-ce que tu veux...
- Chu asmak?
- Salim. Enchenté. - e põe a mão direita sobre o peito. - Et toi?
- Luís. Enchenté aussi.

O comissário de bordo passa e diz algo em italiano:

- Sorry?
- After we land, just wait in the airplane.
- Sorry...
- Ok, no problem, no problem... - e segue seu caminho.

O rapaz pergunta:

- Qu'est-ce qu'il a dit?
- Il a dit que il faut que tu attend dans l'avion quand on arrive. Peut-être que tu sais pourquoi...
- Oui, c'est à cause de mon visa... c'est notre destin. Nous algeriens, les marroquins... on a toujours de problèmes en Europe. Toujours de papiers... et toi, tu n'as pas besoin de visa?
- Non, heureusement...

O avião pousa:

- Bon, merci pour tout. Bon voyage!
- Merci, à toi aussi. Bonne chance!

Na saída, a comissária se despede:

- Arrivederci!

Ao lado da direita da escada, um ônibus, para onde todos se dirigem. Quase todos. Do lado direito, aproxima-se um veículo azul, de onde sai um rapaz de camisa azul, pistola em um cinturão branco. No veículo e na camisa está escrito: "POLIZIA". Salim está acostumado: desce sorrindo a escada carregando o carrinho de bebê de um casal que vem atrás. Abre o carrinho, despede-se. Entrega os papéis ao oficial e entra no furgão, que sai em alta velocidade pelo lado oposto do aeroporto.

Um comentário:

Anônimo disse...

cade a tecla sap pra besta aqui que não sabe francês? heheheh...

vê se fica mais acordado pro resto da semana!

farô!