3.11.08

A ironia, a modéstia e a comoção de Narciso

Assis Editora deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Sheik Luís responde: quem é o Sheik?":

Querido Sheik Malba Tahan Luis Brasileiro, agora não tenho a menor dúvida de que é um brasileiro nato. Pois somente um brasileiro poderia ter tanta criatividade e humor. Muito prazer, pois é a primeira vez que escrevo para meu ídolo literário (rs). Gostaria muitíssimo que você estivesse em nossas comunidades do orkut: (...) Você é fantástico. Talvez o maior contador de histórias que eu ja tenha ouvido, ou melhor, lido.
Vou contar sua história, e o nosso encontro, aos quatro ventos e quando alguém me perguntar se é verdade direi, como Chicó: "Sei não, só sei que foi assim.".
Em Dubai ensina-se português?
Não sei como devo me reverenciar a um Sheik, então vou me despedir de um jeito brasileiro. Até breve. Abçs, Ivone.

Postado por Assis Editora no blog Dubai F. C. em Sexta-feira, 31 Outubro, 2008

Salam Aleicum minha cara Ivone,

Obrigado pelo 'ídolo literário': os elogios levam ao delírio os narcisos... e os irônicos.

Obrigado, prezada Ivone! Eu sei que sou querido e fantástico, mas é sempre bom ouvir isso de alguém. Só agora compreendo a ordem de um certo Rei: "se quiser me homenagear, que o façam em vida!". Aceito seus elogios com o auto-conhecimento de um Estadista, tal qual um certo Stalin que ordenou aos seus biógrafos que ressaltassem, na obra em sua homenagem, sua humildade e modéstia...

... Modéstia, cara Ivone! Minha maior qualidade é a modéstia: tal qual o reflexo de Narciso nas águas do lago, seus elogios iluminam as trevas de meu exílio. Tal qual os beijos nas mãos e lambidas sublimes em meu dedão de meu pé esquerdo, desferidas por ávidos e inúmeros súditos e camelos em meus dias de glória. Para eles, o sabor acre da mistura de suor em fricção da pele com o couro de minhas alpergatas era o ponto máximo de suas vidas. Isso me tocava profundamente, e me deixava orgulhoso de meu altruísmo: emprestar-lhes o dedão era um sacrifício e uma boa ação. Ver assim os efeitos de minha bondade sobre miseráveis mortais me preenchia de júbilo - como agora.

Eu choro de emoção. Agora ria, minha cara: a gargalhada dos irônicos é o presente com o qual lhe retribuo tão generosa oferenda.

Em Dubai, não se ensina português. Não há necessidade: quando alcançam a idade correta, os filhos de nossa realeza são enviados à Paris para aprender tão nobre idioma (nada mais propício ao estudo de língua tão nobre que a Terra dos Intelectuais, bebendo da seiva da Razão, que nos é tão cara e rara. Oh, oh, oh).

Sem arrogância: prometo entrar em contato. Anoto seu e-mail em minha agenda em letras pequenas, mas bem torneadas, com floreios em caneta Mont Blanc verde para enfeitar. Um dia desses, um de meus escravos eunucos responsáveis pelo trato de minhas correspondências concederá-lhe o privilégio de algumas letras em meu nome.

(Oh! acabo de reparar como minhas unhas brilham. Oh, oh, oh).

Agora, com licença: feita a boa ação do dia, permito-me entregar meu corpo aos prazeres e carícias das concumbinas que restaram de meu reinado.

Abraços humildes de ex-sheik resignado e sofredor,

Luís

Um comentário:

Meira! disse...

Me responde, sheik Luísão,
Agora são duas da manhã,
Tenho revisar 20 páginas da tese até amanhã.

O que eu estou fazendo aqui?
Responde sheik!

Abraços,
Luis Augusto Meira (Ec97... long long time ago)