21.10.07

The inheritance of loss

Sabemos bem, caro leitor, que você deseja quase sexualmente, ao ler este blog, obter informações quentinhas, diretamente de Dubai. Informações que alimentem uma ilusão, um desejo de um anti-mundo melhor que o momento presente que torne mais doce a realidade morna de primavera sem ar condicionado.

Dinheiro! Grana! Escravos eunucos! Notícias doces e suculentas de uma terra onde as pessoas podem caminhar tranqüilamente com relógios rolex, e não têm problemas em, mais do que ter, mostrar que têm: carros de luxo ("sem ser blindados"), bolsas Louise Vuitton, iate. Placas de carro e telefones com "números especiais". Você deita na cama, olha para o teto embolorado do quarto (culpa do maridão que em vez de trocar a telha quebrada, foi assistir ao jogo do Curíntia) e suspira com os olhinhos fechados: "Se estivesse em Dubai, eu seria feliz".

Seremos (insisto no plural, caro leitor: os sheiks são um, são dois, são três... e não são ninguém) bem sinceros com vocês (olha que surpresa: você, caro leitor aí do outro lado da telinha, sendo tratado no plural! Yeeess! Privilégio!): este post não é sobre Dubai, mas sobre um livro que lemos.

Não chorem, não chorem. Há tempo e assunto de sobra sobre Dubai. Mas a prioridade agora é falar do livro: The inheritance of loss, de Kiran Desai. Acreditamos que já há tradução para o português, "O legado da perda".

Livro que discute identidade, de estrangeiros que vivem no exterior (um pleonasmo?) ou no próprio país (pronto! A existência do absurdo - estrangeiro em seu próprio país - justifica o pleonasmo).

Uma passagem me (ou nos? Às vezes até os sheiks se perdem) chamou a atenção, dando outro sentido ao livro:

They bent to collect his belongings, the cook careful to place pages of the letters in the correct envelopes.
One day he'd return them to Biju so his son would have a record of his journey and feel a sense of pride and achievement.


Confissões: por alguns instantes, deixei de ser sheik e viajei 5, 6 anos no tempo e voltei a ser um estagiário, chegando da primeira viagem ao exterior. Cinco meses que pareceram décadas. Que aventura! Em Casa, lá estava um senhor orgulhoso com um maço de folhas sulfites na mão:

"São todos os e-mails que você enviou. É pra você guardar e lembrar de tudo o que você passou".

Déjà vu. Sentimento de orgulho e conquista. Obrigado, Senhorita Desai. Por alguns momentos, o estagiário quis casar com você. Mas achamos que já passou. Por hoje é só.

Um comentário:

Vi e falei disse...

15 concumbinas e 01 coqueiro foi o auge do que lí hoje. Preciso navegar mais...:)