22.8.08

Ras Al Rêiman: Pão-de-Açúcar neles!

E saiu ontem em vários canais de mídia do Brasil a notícia de que empresários brasileiros lançarão um empreendimento em Ras Al Khayman.

O emprendimento, que tem a forma do Pão de Açúcar, me traz a lembrança de algumas piadas em mesa de bar. A gente brincava de lançar um empreendimento genuinamente brasileiro: O Rocinha Inn. Faríamos as montanhas no meio da cidade(isso é fácil, areia tem de sobra) e venderíamos os barracos com tetos de zinco. Uma verdadeira "experiência tropical". O empreendimento, voltado para as classes menos abastadas, rapidamente seria invadido pelas classes média e alta, em busca de preços menos escorchantes e moradias mais próximas ao centro da cidade... ah, divagações, divagações...

Antes de mais nada, parabéns aos investidores. Para quem ainda sonha em ganhar "petrodólares" por aqui (sei que muita gente se masturba com isso aí no Brasil) e tem pés no chão, tem que ser assim: seguir para os outros Emirados que pegam carona em Dubai, que já está quase no limite do viável e da especulação. Ras Al Khayman é hoje o que Dubai era há uns 5, 10 anos atrás.

Mas vamos falar um pouquinho de Ras Al Khayman: a pronúncia correta do nome é Rás (como o R de 'baralho') Al Rêiman (como no RR de 'carro'). Ras significa "cabeça", Rêiman significa "barraca, tenda".

Emirado de Cabeça da Tenda. É assim mesmo. Suspeito que "Cabeça" tenha a ver com a formação geográfica da região, da maneira como um "braço de mar". Em Dubai, o final da Ria (ou Creek) é chamado de Ras Al Khor ("Cabeça das Águas Correntes" ou algo assim, um fétido lodo-meio-mangue onde flamingos às vezes passam para se alimentar, atraídos pelo seu cheiro apetitoso).

Voltemos à Cabeça da Tenda: O Emirado de Cabeça da Tenda é mais antigo que o Emirado de Dubai. Na verdade, até o século 19, o Emirado era o mais forte da região. A tribo dos Qawassim tinha uma importante frota marítima e controlava a passagem pelo Estreito de Ormuz, com seus domínios se estendendo a algumas ilhas e cidades da costa persa. Até que os amiguinhos britânicos resolveram acabar com a graça dessa turma de miseráveis metidos a donos-do-mundo e com um eficiente bombardeio, afundou quase toda a imensa frota de barquinhos desses barbudinhos Qawassim. É, foi assim, lá pelos idos de 1820...

... o importante dessa história é que os britânicos não bombardearam a esquadra de Dubai e Abu Dhabi, e assim o fim da hegemonia dos Qawassim favoreceu o "florescimento", ou melhor, expansão desses dois emirados. Toda essa história se reflete hoje no maior alinhamento entre Dubai e Abu Dhabi, e em certas divergências de opinião entre os xeques sobre questões como o relacionamento diplomático com países como o Irã: enquanto Dubai e Abu Dhabi mantêm relações amistosas com o amiguinho barbudinho persa, Ras al Kheiman defende um endurecimento no relacionamento por conta da disputa de 3 ilhas (Dedo Menor, Dedo Maior e Abu Mússa) hoje controladas pelo Irã (e que pela sua posição estratégica, não serão devolvidas tão cedo).


Ilha de Abu Mussa, vista de um barco


Turistas apreciam a vista da Ilha de Abu Mussa


Até hoje os barquinhos de madeira, dhows, passeiam pelo Golfo (Pérsico? Árabe?)...


... alimentando um importante comércio com o Irã. Aqui, carros usados de Dubai chegando ao porto persa de Bandar Lengueh

Mas como sei que essa historinha pra camelo dormir não te interessa e o que você quer mesmo é petrodólares, é nadar em petróleo como alguns patinhos fizeram quando Saddam incendiou os poços kwaitianos, então vamos a algumas fotos do Emirado de Cabeça da Barraca". Com vocês, todo o glamúRRR e o luxo desse emirado:







É. Como você pode ver, ainda há MUITO o que desenvolver. Hoje, O Emirado de Cabeça da Tenda está mais para Beirute Pós-Guerra que Dubai Brilhante. Mas vamos, lá: Pão-de-Açúcar neles.

Notas sobre a reportagem do jornal:

1)
"...ficou tão empolgado que resolveu até a entrar como sócio com 51%..."


Vale lembrar que 51% é nada mais do que a lei no Emirado: se você quiser montar seu empreendimento, saiba que obrigatoriamente você precisará de um ou mais sócios locais que detenham 51% do capital da empresa. O que não desqualifica o interesse do xeque em inteirar sozinho os 51%...

2)
... a 40 minutos de Dubai...


Bom, aí eu digo: depende da hora em que você tentou ir pra lá, e de onde você mora em Dubai. Esse percurso pode levar tranqüilamente mais de uma hora.

Enfim: Fim.

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