20.6.08

Paris F. C.

E você deve estar se perguntando: acabou o Dubai F.C.?

Veja bem... não acabou, mas anda me faltando tempo para atualizar...

... falta de tempo, concordo: bela desculpa. Falta de tempo não existe, o que ocorre de fato é uma mudança de prioridades. E enquanto a prioridade não chega de volta ao Dubai F.C., fica aqui um novo endereço: Paris F.C..

É isso aí.

Beijocas de um ex-sheik,

Luís

12.6.08

12 de junho

É de manhã: moça decidida que vai ao comércio pensando no moço. Loja de lingeries: "De renda". Papelaria: "De carta". Perfumaria. Escolheu e escolheu e escolheu e estendeu o cartão: "Parcela em três vezes?"

É tarde, sol que atravessa a vidraça, ilumina a moça que desenha. Giz preto sobre a folha bege. Fantasias, versos de Adélia Prado:

Janela

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora,
monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném,
a mãe do Pedro Cisterna urinando na chuva,
por onde vi meu bem chegar de bicicleta
e dizer a meu pai: minhas intenções com sua filha
são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.


É quase noite. Banho, roupa nova, maquiagem, embalagem com um cartão. Espera...

Espera. O moço que chega suado de bicicleta vestido de dia comum. Espanto: "Tem festa hoje?".

É noite. Desencanto: louça partida. Conserto? Colam-se os cacos... mas ficam as marcas.

6.6.08

"A morte de um sheikh?!" ou "Em busca de Passárgada"

Paris, 06 de junho de 2008



(repare leitor, já começo este post arrotando caviar. O que escrevo abaixo deve ser importante...)



Caro leitor,


Lendo agora o título acima, penso que é forte e desmedido: talvez eu o mude para "O exílio de um Sheikh", pois é o que de fato ocorreu.

Sim, leitor: fugi às pressas de Dubai, apenas com alguns alforjes e um camelo. Viagem longa: da despedida em Dubai foram muitos dias de viagem até aqui chegar:



... de barco até Bandar Lengeh (Irã)...



... de ônibus até Shiraz com temperaturas acima de 45 graus ...



... de camelo atravessei planícies agrícolas, montanhas e desertos...




... até chegar em Isfahan, a cidade mais bonita da Pérsia:





E como cheguei até aqui? Longa história, leitor. Você é demasiado curioso.





Fuga, mas também um período de imersão. Imersão na hospitalidade persa.




Imersão em reflexões sobre o tempo e sobre a brevidade de nossa existência, seja como indivíduo, seja como nação, nas ruínas de Persépolis, Passárgada, Nagh-e-Rostam...





Repare no guarda tirando catota do nariz ao lado da coluna onde está escrito "Eu sou Ciro, Rei da Pérsia", em Passárgada. O guarda ali e eu aqui, tentando entender Manuel Bandeira...

Durante esse período refleti muito sobre o novo papel desse blog. Dei cabeçadas na parede. Enfiei farpas de palha sob minhas unhas. Lixei meus dentes nas pedras das ruínas. Pedalei em subidas com sol quente, em planícies com vento-contra. Fiz cocô em latrinas e limpei com o dedo.

Acalme-se, leitor. Este blog continua a ser redigido em meu exílio. Era assim na década de 70 no Brasil, né? Cantores cansavam de lutar contra o regime e se exilavam em Paris, Londres... que luxo.

Que luxo? Quem já foi rei, nunca perde a majestade. Confesso que estou ainda muito triste: estou com uma saudade enorme da quantidade de homens de Dubai, do aperto nos elevadores da Shatta Tower. Do barulho constante dos aparelhos de ar-condicionado. Mas aí tomo um café, como uma baguete, vejo meninas pedalando pelas ruas... e ela logo passa.

Não me entenda mal: minha intenção não é lutar contra o regime. Não quero mudar o mundo. Esta nova fase deste blog não é uma fase de revanche, o que importa é o amor. Dias atrás um rapaz aqui me abordou:

Dubai?! Por que é que você saiu de lá? Dubai é lindo! Dubai é um paraíso! Eu vi na TV!


Esse comentário entrou pelos meus ouvidos como um pão seco descendo pela garganta, sem água. Veja bem...

... é como eu disse: não quero mudar o mundo. Continuarei dando dicas até que elas se esgotem por si só, tornem-se antigas. A diferença é que agora o faço apenas com um pouquinho mais de liberdade, menos temores.

E o ex-sheikh aqui ficará feliz se a leitura deste blog (e de todo o histórico aqui acumulado em quase 2 anos) ajude a reduzir a distância entre as (enormes) expectativas de quem vê Dubai pela TV e de quem chega na cidade para morar. E que cada um consiga encontrar a sua Passárgada, inclusive eu.

É isso. Beijos e abraços de um ex-sheik.

Luís